Síria: durante as discussões, cerca de 1.900 pessoas morreram nos bombardeios e combates em diferentes regiões da Síria, segundo uma ONG (Khalil Ashawi/Reuters)
Da Redação
Publicado em 31 de janeiro de 2014 às 16h22.
Genebra - Após a primeira rodada de negociações sobre a paz na Síria, o fosso entre o regime e a oposição continuava profundo, considerou a ONU no último dia de discussões em Genebra, onde o regime rejeita qualquer concessão.
Durante uma semana desta primeira rodada de negociações diretas desde o início da guerra na Síria, há quase três anos, as duas partes em conflito defenderam suas posições, com o regime insistindo que não vai ceder em relação à transição política e a oposição afirmando que Damasco "é obrigado a negociar" sobre essa questão central do conflito que continua a devastar o país.
As negociações, lançadas por pressão dos Estados Unidos, que apoiam os rebeldes, e da Rússia, aliada do regime, devem ser retomadas no dia 10 de fevereiro, segundo o enviado especial da ONU e da Liga Árabe para a Síria, Lakhdar Brahimi, mediador do diálogo.
Durante as discussões, cerca de 1.900 pessoas morreram nos bombardeios e combates em diferentes regiões da Síria, segundo uma ONG.
De acordo com Lakhdar Brahimi, a conferência de Genebra II teve "um início modesto, mas sobre o qual é possível construir".
Revelando "alguns pontos de convergência" e ressaltando que as "duas partes se habituaram a sentar-se à mesma mesa", o enviado, que leu um documento escrito durante uma coletiva de imprensa, reconheceu "que não há dúvidas de que as posições continuam muito distantes".
Ainda assim, considerou que "as duas partes estão decididas a discutir a completa implementação do comunicado de Genebra I, para que consigam concluir um acordo sobre o fim do conflito e sobre a adoção de um governo de transição com plenos poderes executivos".
Regime não aceita fazer concessões
"Nem nesta rodada, nem nas próximas, eles (a oposição ao regime) conseguirão obter concessões da delegação síria", afirmou o ministro sírio da Informação, Omran al-Zohbi, a um grupo de manifestantes pró-regime no lado de fora da sede da ONU em Genebra.
"Não conseguirão através da política o que não obtiveram pela força", enfatizou, entre aplausos dos manifestantes.
Para Walid Mouallem, o ministro sírio das Relações Exteriores, não houve "resultados tangíveis" durante a semana de negociações em Genebra com a oposição.
O ministro acusou "a falta de responsabilidade e de seriedade" dos líderes da oposição e "sua vontade de comprometer a conferência", como se o governo fosse ceder tudo rapidamente, disse, denunciando "as ilusões nas quais vivem" os opositores.
"Ninguém pode substituir a administração síria", insistiu Mouallem, em referência ao presidente Bashar al-Assad.
Por sua vez, o porta-voz da delegação, Louai Safi, declarou que o regime sírio é "forçado a negociar com uma delegação que representa as aspirações do povo sírio".
Já para o chefe da oposição síria, Ahmad Jarba, o regime não mostrou qualquer "compromisso sério" durante a semana de negociações de paz.
Além disso, Jarba afirmou que a sua Coalizão participará da 2ª rodada de negociações em fevereiro, mas advertiu que o fornecimento de armas à rebelião vai continuar enquanto o poder não aceitar negociar um período de transição que resulte na saída do presidente Assad.
"Quanto mais o regime continua a adiar e a evitar os seus compromissos (...) nas negociações de Genebra II, mais as armas dos nossos revolucionários que defendem nossa dignidade vão aumentar em quantidade e qualidade", lançou.
A imprensa divulgou nesta semana informações sobre a decisão não oficial do Congresso americano de fornecer armas para a rebelião síria. Washington não confirmou esta informação.
Segundo o chefe da Coalizão, as negociações que não conseguiram atingir resultados concretos assina a sentença de morte do regime.
"A única verdade é que a aceitação por parte do regime de sentar-se à mesa de negociações é o começo do fim", disse.
As discussões permaneceram estagnadas na maior parte do tempo, com o regime defendendo sua prioridade de "combater o terrorismo", enquanto a oposição exige a negociação de um governo de transição.
A conferência de Genebra II é, até o momento, a tentativa mais séria da comunidade internacional de acabar com o conflito na Síria que já causou mais de 130.000 mortes e deixou nove milhões de refugiados.
Sem avanços políticos, no plano humanitário "nenhuma medida de confiança" pedida por Brahimi foi concretizada.
O enviado deixou nesta sexta-feira à noite Genebra e se dirige para Munique para consultas com o secretário-geral da ONU e os chefes da diplomacia americana e russa, que participam de uma conferência internacional sobre segurança.
Em Berlim, o secretário de Estado americano John Kerry exortou o presidente Assad a respeitar suas obrigações internacionais quanto à destruição de seu arsenal de armas químicas e advertiu para as consequências no Conselho de Segurança da ONU.
Neste sentido, a Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq) advertiu à Síria para que retome o ritmo do envio de seu estoque de armas químicas, depois que o regime perdeu um dos prazos para se desfazer do arsenal.