Crise dos opioides nos EUA tem levado milhares de adolescentes à overdose (Marcos Santos/USP Imagens/USP Imagens)
AFP
Publicado em 10 de agosto de 2022 às 11h56.
Makayla Cox, uma estudante do ensino médio da Virgínia, pensava que estava tomando remédios para dor e ansiedade que uma amiga havia conseguido para ela. Em vez disso, a pílula que tomou duas semanas após seu aniversário de 16 anos era fentanil, um opioide sintético 50 vezes mais potente que a heroína, que a matou quase imediatamente.
Makayla parecia bem quando foi para seu quarto uma noite em janeiro, depois de assistir a um filme da série "Harry Potter". Mas quando sua mãe Shannon entrou em seu quarto, na manhã seguinte, encontrou a jovem parcialmente sentada, apoiada contra a cabeceira da cama, com fluido laranja saindo de seu nariz e boca.
"Ela estava rígida. Eu a balancei, chamei seu nome, liguei para o 911", diz Shannon Doyle, de 41 anos, à AFP em sua casa, em Virginia Beach. "Meus vizinhos vieram e fizemos RCP [ressuscitação cardiopulmonar], mas era tarde demais. Depois disso, não me lembro de muita coisa", conta.
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A crise dos opioides nos Estados Unidos atingiu proporções catastróficas, com mais de 80.000 mortes por overdose no ano passado, principalmente causadas por sintéticos ilícitos como o fentanil. É mais de sete vezes o número registrado há uma década.
"Esta é a epidemia mais perigosa que já vimos", afirma Ray Donovan, diretor de operações da agência antidrogas americana, a DEA. "O fentanil não é como os outros narcóticos ilícitos, é instantaneamente mortal", aponta.
As mortes estão aumentando de maneira particularmente rápida entre os jovens, que obtêm medicamentos nas redes sociais com receitas falsificadas. As pílulas que compram são misturadas ou feitas de fentanil. Em 2019, 493 adolescentes morreram de overdose. Em 2021, o número foi de 1.146.
Os traficantes de drogas chegam aos adolescentes por meio do Snapchat, TikTok, Instagram e outros aplicativos, usando emoticons como códigos.
Oxicodona, outro opiáceo, pode ser anunciado como uma banana meio descascada; Xanax, um benzodiazepínico usado para tratar a ansiedade, como uma barra de chocolate; e Adderall, uma anfetamina que atua como estimulante, como um trem.
O número de americanos que usam drogas permaneceu o mesmo nos últimos anos, mas o grau de letalidade mudou, de acordo com Wilson Compton, vice-diretor do Instituto Nacional de Abuso de Drogas dos EUA.
Uma xícara de heroína equivale a uma colher de sopa de fentanil, e menos de um grama pode significar a diferença entre a vida e a morte. A maior parte do fentanil ilícito que circula nos Estados Unidos é fabricada nos laboratórios clandestinos dos cartéis de drogas mexicanos, usando produtos químicos enviados da China.
Como o fentanil é muito mais potente, é necessário muito menos para encher uma pílula, o que significa mais suprimentos e lucros para os cartéis. Um quilo de fentanil puro pode custar até US$ 12.000 e ser transformado em meio milhão de comprimidos que serão vendidos por US$ 30 cada, valendo milhões de dólares, explica Donovan. Além disso, é mais fácil traficar pílulas.
No ano passado, a DEA apreendeu quase sete toneladas de fentanil, o suficiente para matar todos os americanos. Quatro em cada 10 comprimidos apreendidos continham quantidades letais de fentanil.
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Em um corredor da sede da DEA estão expostas fotografias intituladas "The Faces of Fentanyl". São de dezenas de pessoas que perderam a vida recentemente por causa desta droga. "Makayla. 16 para sempre", diz uma delas.
As pílulas azuis encontradas na cama desta excelente estudante e "líder de torcida" eram 100% fentanil. A polícia está investigando, mas nenhuma prisão foi feita até o momento. A DEA lançou uma campanha no ano passado chamada "Uma pílula pode matar" para aumentar a conscientização sobre os perigos do fentanil.
Também há esforços em todo o país para tornar a naloxona, uma droga que pode reverter a overdose de opioides, mais acessível. Shannon criou uma fundação em nome de Makayla para ajudar a prevenir tragédias como a de sua filha. É a sua maneira de lidar com o luto.
Por Maria DANILOVA
(AFP)
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