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13 manifestantes morrem no Sudão e militares negam autoria do ataque

Militares e grupos civis do Sudão discordam sobre como deve ser feita a transição após a queda de Omar al-Bashir

Sudão: tiros foram ouvidos na área do acampamento e militares fortemente armados andam por toda capital (Stringer/Reuters)

Sudão: tiros foram ouvidos na área do acampamento e militares fortemente armados andam por toda capital (Stringer/Reuters)

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AFP

Publicado em 3 de junho de 2019 às 11h53.

Os militares que governam o Sudão dispersaram à força nesta segunda-feira (3) o acampamento popular que havia sido montado há várias semanas diante de seu quartel-general em Cartum, uma operação que deixou pelo menos 13 mortos, de acordo com um comitê médico.

Membros das forças de segurança fortemente armados e em veículos com metralhadoras se deslocaram por toda capital. Tiros foram ouvidos na área do acampamento.

Estados Unidos e Reino Unido pediram o fim imediato da repressão dos manifestantes, que primeiro exigiram a queda de Omar al-Bashir e agora desejam a saída do poder dos militares que assumiram o governo em substituição ao presidente destituído.

O Comitê Central de Médicos Sudaneses, organização ligada aos manifestantes, atualizou o balanço de mortos e elevou o "número de mártires para 13", em um comunicado no Facebook.

Também informou um grande número de pessoas gravemente feridas e pediu "apoio urgente" ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha e a outras organizações humanitárias.

O Conselho Militar de Transição negou, porém, ter dispersado à força o acampamento de opositores.

"Não dispersamos o acampamento à força", declarou o porta-voz do Conselho, o general Shamsedin Kabashi, ao canal Sky News Arabia, que sede nos Emirados Árabes Unidos.

"As barracas continuam no local, e os jovens podem circular livremente", afirmou o general.

O porta-voz disse, contudo, que as forças de segurança atuaram em uma zona "perigosa", conhecida como "Colômbia", perto do local dos protestos.

"Este local, chamado 'Colômbia', foi durante muito tempo uma fonte de corrupção e atividades ilícitas", declarou o general.

Militares negam ataque

A junta militar que governa o Sudão negou que as forças de segurança tenham desmantelado o acampamento montado há dois meses por manifestantes na frente do quartel-general do exército em Cartum, segundo denunciou a oposição.

O porta-voz do denominado Conselho Militar Transitório, Shamsaldin Kabashi, afirmou em entrevista à rádio estatal sudanesa que seus homens não desalojaram os manifestantes, mas um grupo de "infratores" entrou no acampamento gerando uma situação de caos e as forças de segurança tiveram que intervir.

Kabashi acrescentou que os manifestantes estão nos arredores do quartel-general das Forças Armadas, onde a situação é "segura" neste momento, e podem retornar ao local do acampamento se assim quiserem.

Além disso, negou a veracidade das imagens divulgadas sobre a violência nas ruas e as denúncias dos opositores, segundo os quais pelo menos 13 pessoas morreram e centenas estão feridas após a ação das forças de segurança no acampamento.

"As informações e os vídeos sobre os mortos e feridos são falsos e fabricados", destacou o porta-voz.

"Matança"

A relação entre militares e manifestantes ficou tensa no mês passado após o fracasso das negociações, que gerou diversas advertências dos generais que governam o país desde 11 de abril, quando destituíram Al-Bashir por pressão popular.

A oposição anunciou a interrupção dos contatos com o Conselho Militar de Transição e convocou manifestações.

"Anunciamos o fim de qualquer contato político e de negociação com o Conselho golpista", afirmou em um comunicado a Aliança pela Liberdade e a Mudança (ALC), líder dos protestos.

A ALC convocou uma "greve e a desobediência civil total e indefinida a partir de hoje", segunda-feira.

"No momento, não resta ninguém diante do quartel-general das Forças Armadas, apenas os cadáveres de nossos mártires, que não conseguimos retirar", completou a ALC.

A Associação de Profissionais Sudaneses (APS), outra organização à frente dos protestos, citou um "massacre" e convocou os sudaneses à "desobediência civil total para derrubar o Conselho Militar pérfido e assassino".

O ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, a ex-potência colonial, condenou o ataque aos manifestantes, que chamou de "passo escandaloso".

"O Conselho Militar é plenamente responsável por esta ação e a comunidade internacional vai cobrar", escreveu Jeremy Hunt no Twitter.

A embaixada dos Estados Unidos em Cartum exigiu o fim da repressão.

"A operação das forças de segurança sudanesas é injustificável e deve cessar", escreveu a representação diplomática americana em sua conta no Twitter.

O comandante do Conselho Militar, Abdel Fatah al Burhan, visitou recentemente Egito, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita, três países que expressaram apoio aos militares sudaneses.

Depois de governar o Sudão por quase 30 anos, Omar al-Bashir foi deposto e detido pelo Exército em 11 de abril. A-Bashir foi pressionado por um movimento sem precedentes, que teve início em 19 de dezembro após a decisão do governo de triplicar o preço do pão em um país abalado por uma grave crise econômica.

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