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10 indícios de que já começou o xeque-mate contra o Irã

Na opinião de especialista que já trabalhou no Conselho de Segurança da ONU, já começou a contagem regressiva contra o programa nuclear do país comandado por Armadinejad

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 30 de janeiro de 2012 às 18h07.

São Paulo – O Irã marca presença constante na mídia internacional por conta das ameaças que giram em torno de seu programa nuclear. Mas até que ponto as discussões envolvendo a nação islâmica poderão sair da mesa de negociações e partir para um conflito armado, elevando a tensão no Oriente Médio, a região mais instável do planeta? Será que uma guerra contra os iranianos já se tornou iminente?

Há diversos indícios de que as negociações não caminham para bons resultados: Estados Unidos, Austrália e os países membros da União Europeia (UE) já anunciaram sanções comerciais para interromper a compra de petróleo vindo do Irã, ao mesmo tempo em que o governo iraniano elevou as ameaças de bloquear o Estreito de Ormuz, considerado vital para o transporte marítimo de 35% do óleo produzido em nível mundial.

Não apenas isto, o governo americano já revelou que está pronto para atacar caso seja necessário, e países ocidentais têm enviado tropas militares para a região do Golfo Pérsico. Em resposta, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, tem visitado nações aliadas para demonstrar que tem aliados, promovendo inclusive testes nucleares “em seu próprio quintal” para indicar aos inimigos de que é capaz de rebater aos ataques.

Heni Ozi Cukier

Heni Ozi Cukier

Segundo o cientista político Heni Ozi Cukier, professor de Relações Internacionais da ESPM e que já trabalhou no Conselho de Segurança da ONU, os Estados Unidos ainda não chegaram a um consenso sobre um ataque ao Irã.

“Ninguém quer iniciar uma guerra, mas todos os países se preparam para tal cenário. Os americanos já enfrentaram dois conflitos na última década: um no Iraque e outro no Afeganistão. Apesar disso, caso as ameaças de Teerã se intensifiquem e as negociações fracassem, o presidente Obama não terá outra opção a não ser enfrentar os iranianos”, afirmou.

Confira abaixo os indícios que evidenciam o acirramento do conflito entre o Irã e o Ocidente e avalie se é possível determinar ou não se um futuro ataque contra Teerã está próximo:

1 Barreiras comerciais

Na última terça-feira, a União Europeia (UE) anunciou novas sanções aos iranianos. Os países que integram o bloco econômico deixarão de comprar 20% do petróleo exportado por Teerã, irão bloquear as transações financeiras com o Banco Central do Irã e encerrarão todos os acordos feitos com companhias do país, incluindo empresas do setor bancário e aquelas ligadas à Guarda Revolucionária (setores de defesa e de transporte marítimo).

A decisão poderá ter forte impacto na economia do Irã, já que a exportação da commodity representa 71% do Produto Interno Bruto (PIB) gerado pelo país islâmico, segundo dados de 2010 fornecidos pelo Banco Mundial. Para piorar a situação, a Austrália também decidiu seguir o exemplo de Estados Unidos e Europa e anunciou que não comprará mais petróleo de Teerã.

“A razão é muito clara. É preciso enviar uma mensagem ao povo do Irã, às elites políticas do Irã e ao governo do Irã de que sua conduta (referente ao programa nuclear) é globalmente inaceitável", disse o ministro australiano das Relações Exteriores, Kevin Rudd.

Por conta das sanções contra o Irã, a consultoria britânica Exclusive Analysis ampliou suas apostas em meados deste ano: elevou de 10% para 50% a possibilidade de um ataque unilateral entre Israel e Irã até junho, quando os últimos bloqueios contra Teerã devem entrar em vigor.

Na opinião de Heni Ozi Cukier, as sanções comerciais não são suficientes para ocasionar a guerra. “As barreiras comerciais por si só não devem gerar o conflito armado, mas sim a ameaça nuclear, considerada um problema para a comunidade internacional”, afirma.


2 Bloqueio do Estreito de Ormuz

Estreito de Ormuz/Wikipedia Commons

Em resposta as sanções, o vice-presidente da Comissão de Segurança Nacional e Política Externa do Parlamento do Irã, Mohammed Kousari, anunciou que o povo iraniano irá se defender das barreiras comerciais fechando o Estreito de Ormuz em 11 de fevereiro deste ano.

Teerã vem investindo pesado em armamento nas últimas duas décadas e, entre 2007 e 2011, o orçamento militar do país cresceu 380%, enquanto o dos EUA aumentou apenas 19%.

Segundo funcionários do Pentágono, citados pelo The New York Times em 13 de janeiro, o Irã tem capacidade militar para fechar o Estreito de Ormuz. 

“Embora as forças navais do Irã não sejam páreo para os Estados Unidos, por duas décadas o país islâmico tem investido em armamento – adquirindo minas, frotas de barcos de alta velocidade fortemente armados e mísseis de cruzeiro: fato este que ameaça a marinha mais poderosa do mundo”, destaca o jornal americano.

3 Troca de ameaças entre Washington e Teerã

Caso ocorra, a ação de Teerã poderá ser considerada o estopim para o início de um conflito armado no Oriente Médio. O jornal americano The New York Times publicou na mesma edição de 13 de janeiro uma carta enviada pelo governo dos EUA para Teerã. O documento alerta o líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, sobre as consequências de um possível fechamento do Estreito de Ormuz.

Segundo o ultimato de Washington a Teerã, o fechamento da rota por onde passam diariamente 16 milhões de barris de petróleo é um “sinal vermelho” que poderá provocar uma resposta imediata dos militares americanos, segundo informaram funcionários da Casa Branca, que falaram em condição de anonimato.

A resposta de Teerã à ameaça feita pelos americanos foi imediata. O aiatolá Mohammad Emami-Kashani, um dos clérigos mais influentes do Irã, afirmou que um dos objetivos do avanço iraniano no campo das pesquisas com energia nuclear é “pacífico”, e enfatizou que Israel e os EUA insistem em questionar o progresso científico e a independência do país, realizando frequentemente advertências sobre o possível desenvolvimento de uma bomba nuclear.

A falta de diplomacia e os discursos mais severos significam que a situação está se agravando, avalia o cientista político Heni Ozi Cukier. “Estas negociações já estão se estendendo por mais de cinco anos. E nas conversas mais recentes, sempre é citado o uso das forças militares para reforçar os alertas contra Teerã. Um sinal de que a paciência dos americanos está se esgotando”.

4 Presença militar no Estreito de Ormuz

O Reino Unido já enviou tropas militares para a região do Golfo Pérsico para demonstrar a Teerã que o fechamento do Estreito de Ormuz é inaceitável, afirmou Philip Hammond, secretário de defesa britânico, citado pela reportagem do jornal Daily Mail. De acordo com ele, a presença da marinha inglesa é um “sinal claro” de apoio aos Estados Unidos e representa uma advertência contra o Irã. “Novos reforços estarão disponíveis caso seja necessário”, afirmou.

"Nós não temos nenhuma briga contra o povo iraniano. Mas a liderança do país islâmico não foi capaz de restabelecer a confiança internacional na natureza exclusivamente pacífica do seu programa nuclear. Não vamos aceitar que o Irã adquira uma arma nuclear", explicou.

A notícia foi divulgada após o primeiro-ministro britânico, David Cameron, dizer que a Grã-Bretanha "não aceitará" a oferta do Irã para desenvolver uma arma nuclear.


“O envio de navios pelos europeus para a região do Golfo Pérsico é mais um apoio político do que uma intervenção militar. É mais um aviso para a China e Rússia de que, se algo ocorrer, o mundo ocidental estará unido. Contudo, caso uma guerra tenha início, caberá aos Estados Unidos resolver a situação”, comenta o cientista político Heni Ozi Cukier, professor de Relações Internacionais da ESPM.

Situações de provocação já foram registradas no Estreito de Ormuz. O USS New Orleans, um navio anfíbio de transporte que navegava na região no começo deste ano, foi rodeado por três lanchas da marinha iraniana até se situar a menos de 500 metros da embarcação.

Os iranianos não responderam aos sinais de bandeira nem às advertências de rádio do New Orleans, e a falta de resposta significa o desprezo dos protocolos marítimos, disse um militar americano à rede de televisão CNN, que transmitiu imagens do incidente fornecidas pela marinha dos Estados Unidos.

5 Pressões da Arábia Saudita e de Israel

Os governos de Israel e da Arábia Saudita já solicitaram a intervenção militar dos Estados Unidos no Irã. Mensagens diplomáticas americanas vazadas pelo site WikiLeaks e publicadas pelo jornal americano Los Angeles Times revelam que ambos os países estão obcecados com o perigo representado pelo programa nuclear iraniano e com as aspirações hegemônicas de Teerã na região.

Apesar do reino saudita, sunita, se mostrar moderado nas declarações públicas sobre o vizinho xiita, os documentos divulgados em novembro de 2011 revelam que nas conversas privadas se mostra veemente contrário ao programa nuclear do Irã, do qual suspeita que o objetivo final é a produção de uma bomba atômica.

"Disse a vocês que cortem a cabeça da serpente", declarou o embaixador saudita em Washington, Adel al-Jubeir, citando o rei Abdullah. A afirmação foi feita ao colega americano no Iraque, Ryan Crocker, e ao general David Petraeus.

O diplomata recorda a ambos os "pedidos frequentes (do rei Abdullah) aos Estados Unidos para que um ataque ao Irã acabe com o programa militar nuclear", segundo a transcrição de uma reunião de 17 de abril de 2008.

Em janeiro de 2009, o ministro adjunto saudita das Relações Exteriores, o príncipe Turki al-Kabir, "advertiu que se o Irã tentar produzir armas nucleares, outros países do Golfo se veriam obrigados a seguir seu exemplo".

Heni Ozi Cukier, professor de Relações Internacionais da ESPM, também compartilha esta opinião. “Caso o Irã crie uma bomba atômica, uma corrida armamentista irá ocorrer no Oriente Médio, a região mais instável do planeta, local onde esta localizada grande parte da reserva mundial de petróleo”, disse. “A Árabia Saudita já possui acordos para que o Paquistão forneça tecnologia e informações sobre o desenvolvimento de bombas nucleares caso seja necessário”, completa.

“No caso de Israel, o fato do Irã ter uma bomba é inaceitável. É uma questão de sobrevivência. Ninguém quer ver o país islâmico como uma nova ‘Coreia do Norte’. E pior: pode-se esperar de tudo em termos de ameaça, já que o regime iraniano é muito mais severo que o coreano”, acrescenta.

6 Testes militares do Irã

Com o objetivo de mostrar ao mundo que é capaz de se defender de ataques militares, o Irã tem realizado em seu “próprio quintal” testes para demonstrar poder e força contra as ameaças de invasão feitas pelos países ocidentais.

No primeiro dia do ano, O Irã testou dois mísseis na região do Estreito de Ormuz. "O míssil terra-mar de longo alcance Ghader foi testado com êxito pela primeira vez", anunciou a agência oficial de notícias Irna.


"O Ghader, com alcance de 200 quilômetros, construído por especialistas iranianos, atingiu o alvo com êxito e o destruiu", afirmou na ocasião o almirante Mahmud Mussavi, porta-voz das manobras navais executadas pelo Irã na região do Estreito de Ormuz.

“O Irã está fazendo isso em resposta às sanções comerciais que estão sendo aplicadas contra o país. Esta é uma manobra de Teerã para responder as ameaças feitas pelo ocidente e demonstrar que os iranianos estão prontos para um contra-ataque. E o dia que conseguirem desenvolver uma bomba nuclear, eles mostrarão ao mundo, assim como fez a Coreia do Norte”, opina Heni Ozi Cukier.

7 Cortejo de Armadinejad aos países aliados

O presidente do Irã, Mahmoud Armadinejad, tem visitado com frequência seus colegas latino-americanos com o intuito de demonstrar aos Estados Unidos que, da mesma forma que o ocidente está unido contra Teerã, os iranianos também possuem aliados que podem ajudá-lo caso uma guerra ocorra.

Em meados de janeiro, Ahmadinejad fez um giro pela América Latina, visitando países como Equador, Venezuela, Nicarágua e Cuba, onde obteve apoio ao desenvolvimento de seu programa nuclear.

“O Irã está mostrando aos Estados Unidos que possui aliados ‘próximos aos americanos’ em termos territoriais. Esta é uma forma de dizer ao governo de Obama que, caso um ataque contra Teerã ocorra, a tensão poderá não apenas ser elevada no Estreito de Ormuz, mas também no ‘quintal’ dos americanos”, avalia Heni Ozi Cukier.

“O Irã tem usado a Venezuela para movimentar seus negócios, principalmente para reduzir os prejuízos criados por conta das barreiras comerciais. Em troca, a guarda revolucionária iraniana tem treinado militares venezuelanos, inclusive membros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), já que a tensão entre Colômbia e Venezuela aumentou nos últimos tempos por conta da presença de bases dos EUA no país sul-americano: algo que incomoda Hugo Chávez”, explica Cukier.

8 Instalações ocultas

Na avaliação do professor de Relações Internacionais da ESPM, uma decisão final sobre uma eventual guerra contra o Irã deverá ser tomada no curto prazo, já que o país islâmico está escondendo suas instalações nucleares em áreas subterrâneas, o que futuramente poderá dificultar um ataque aéreo por parte das forças americanas.

“Ainda neste ano devemos ter uma definição sobre o caso. A partir do momento em que as usinas subterrâneas de enriquecimento de urânio entrarem em operação, os Estados Unidos perderão a chance de impedir o Irã de desenvolver armas nucleares, já que um ataque terrestre seria inviável. O objetivo dos americanos será bombardiar as instalações nucleares, e não realizar um conflito armado que envolva a invasão por terra. A guerra será contra o programa nuclear de Teerã, e não contra o povo iraniano”, opina.

9 Operações encobertas

A consultoria britânica Exclusive Analysis já estimou em relatório que, antes de optar por um ataque aéreo, Israel e Estados Unidos devem intensificar as operações encobertas - que agem nas sombras dos bastidores - para atrasar o programa nuclear iraniano.

Na visão de Heni Ozi Cukier, isto já está ocorrendo. Prova disso é a série de notícias que tem sido veiculadas pela imprensa mundial, tal como o assassinato do cientista nuclear iraniano Mostafa Ahmadi Roshan. Este fato foi visto por Teerã como uma ação da agência de inteligência americana (CIA, na sigla em inglês) ou de Israel.


O engenheiro, que há nove anos se formou em Química na Universidade Sharif, era o vice-diretor para assuntos comerciais da central de Nantanz, a principal central de enriquecimento de urânio do Irã e que conta com mais de 8.000 centrífugas. Ele morreu após a explosão de uma bomba que foi colocada em seu veículo.

A matéria divulgada pelo The New York Times também revela que o assassinato de cientistas iranianos teve início há vários anos. “Nesta ‘guerra nas sombras’, vários diplomatas iranianos em Bagdá foram vítimas de seqüestros, e alguns cidadãos iranianos em visita à Geórgia, à Arábia Saudita e à Turquia foram detidos ou raptados”, destaca um trecho da reportagem.

Outros fatos noticiados pela mídia estrangeira também demonstram que as operações escondidas já estão em andamento: em dezembro de 2011, as forças armadas do Irã derrubaram um avião espião não-tripulado dos Estados Unidos que violou o espaço aéreo do país ao longo da fronteira leste. A devolução do equipamento foi solicitada até pelo presidente americano.

O incidente ocorreu poucos dias após o Ministério de Relações Exteriores do Irã ter ordenado a expulsão de todo o pessoal da embaixada britânica em Teerã, em resposta ao fechamento pelo Reino Unido da legação iraniana em Londres.

Outra manobra, desta vez cibernética, foi feita nas escondidas: computadores portáteis "privados" de operários e técnicos da usina nuclear de Bushehr foram afetados pelo vírus industrial "Stuxnet". Segundo autoridades iranianas, o vírus não prejudicou os principais equipamentos da usina, situada no litoral do Golfo Pérsico.

10 O custo de uma guerra

Alguns conselheiros de Barack Obama já vieram a público informar que o custo de um ataque aéreo contra o Irã neste momento seria muito menor do que uma invasão terrestre caso Teerã declare que conseguiu finalmente desenvolver uma arma nuclear.

“Haverá muitas consequências de um ataque militar ao Irã, e haverá consequências ainda piores caso os Estados Unidos não tome uma atitude agora”, disse Dennis Ross, ex-conselheiro de Segurança Nacional e que trabalhou por dois anos com Obama.

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