Crianças: os países da África Subsaariana acolhem quase três partes -393 milhões- das crianças ameaçadas por guerras e crise humanitárias (Getty Images)
EFE
Publicado em 9 de dezembro de 2016 às 12h45.
Genebra - Aproximadamente 535 milhões de crianças, uma de cada quatro, vivem em países em conflito, "sem proteção, sem acesso à saúde e educação de qualidade e com problemas de nutrição", segundo denunciou nesta sexta-feira o Unicef.
Este número, considerado "colossal" pelo porta-voz desta organização, Cristoph Boulierac, foi publicado em um relatório prévio à celebração do 70° aniversário da criação do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
Os países da África Subsaariana acolhem quase três partes -393 milhões- das crianças ameaçadas por guerras e crise humanitárias de todos os tipos, seguidos pelos estados do Oriente Médio e o norte da África, nos quais residem 12% do total dos menores afetados.
A metade das quase 50 milhões de crianças deslocadas foi afastada de suas casas por conflitos, afirma o Unicef, que se referiu com especial preocupação à situação dos menores na Síria, Nigéria, Afeganistão, Iêmen e Sudão do Sul.
O número de crianças que vivem nas 16 áreas sitiadas da Síria, sem acesso a serviços básicos e nem à ajuda humanitária, chega a 500 mil, de acordo com Unicef.
No nordeste da Nigéria um milhão de crianças foram obrigadas a fugir dos ataques do grupo terrorista Boko Haram enquanto no Iêmen já são quase 10 milhões afetadas pelo conflito que arrasa o estado da península arábica.
No Afeganistão e Sudão do Sul aproximadamente a metade das crianças não recebem educação primária.
Por outro lado, a representante especial do secretário-geral das Nações Unidas para a questão das crianças e dos conflitos armados, Leila Zerrougui, denunciou a presença de crianças-soldado nestes cinco mesmos países, além de no Sudão, Mali, Líbia, Congo e República Centro-Africana.
"Não há dúvidas de que grupos armados ao redor do planeta estão recrutando crianças em suas fileiras de forma forçosa", afirmou.
A representante nomeou os grupos jihadistas Estado Islâmico (EI), a frente da Conquista do Levante (antigo Frente al Nusra) e Boko Haram, como alguns dos "atores não estatais" que realizam esta prática.
O diplomata se referiu especialmente ao trabalho de radicalização que está o EI está realizando nos territórios que ocupa, onde "está recrutando crianças como estratégia de futuro, para preparar uma nova geração que continue com a luta se eles forem derrotados", explicou.
Além disso, Zerrougui denunciou que os menores que fogem de zonas de conflitos são frequentemente detidos e capturados por exércitos e milícias já que são percebidos como "ameaças para a segurança" ao invés de "vítimas", sobretudo se forem meninos entre 14 e 20 anos.
Estas detenções são frequentes na Nigéria, país no qual, apenas em 2016, cerca de 25 menores cometeram ataques suicidas em nome do Boko Haram.
As detenções arbitrárias e o maus-tratos a crianças que foram recrutadas necessariamente "não ajuda a derrotar os grupos" que as obrigaram a lutar em primeiro lugar, lembrou a representante.