O banqueiro foi um dos homens mais ricos do país, mas perdeu sua fortuna diante dos problemas com o Banco Santos (VEJA/Reprodução)
Agência de notícias
Publicado em 14 de janeiro de 2024 às 14h16.
Morreu neste domingo o banqueiro Edemar Cid Ferreira, fundador do Banco Santos, que chegou a ser um dos maiores do Brasil. Em meados dos anos 2000, a empresa ganhou destaque nas manchetes após Ferreira ser acusado de dar um desfalque de R$ 2,9 bilhões no caixa da instituição financeira, causando prejuízo para 700 clientes, principalmente no segmento corporativo.
Em 2004, o Banco Central do Brasil (BC) interveio no banco e nomeou um novo dirigente, sob o argumento de que a empresa não fazia o recolhimento do compulsório, a parcela dos depósitos de clientes que as instituições financeiras são obrigadas a repassar ao BC.
Na época, os correntistas do banco tiveram os saques limitados a até R$ 20 mil para contas à vista e cadernetas de poupança. O restante dos recursos foram bloqueados, enquanto não havia uma solução à vista para os problemas da instituição financeira.
De início, o Banco Central calculava que o rombo no caixa da empresa fosse de apenas R$ 700 milhões, mas esse valor foi recalculado, chegando a mais de R$ 2 bilhões.Diante desse novo quadro, o interventor e antigos controladores não conseguiram elaborar um plano consistente, que permitisse a reabertura do Banco Santos por meio da venda de ativos, por exemplo.
Isso levou o Banco Central a decretar sua falência em 2005. Outras medidas incluíram o bloqueio dos bens de Cid Ferreira e outros diretores que estiveram à frente do banco na época em que os problemas apareceram.
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Por decisão da Justiça Federal de São Paulo, Cid Ferreira chegou a ser condenado a 21 anos de prisão por formação de quadrilha, gerência fraudulenta de instituição financeira, desvio de recursos, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e ocultação de bens e valores.
Em 2006, ele foi preso preventivamente, mas acabou solto por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). A prisão preventiva foi decretada pelo juiz Fausto Martin de Sanctis, da 6ª Vara Criminal Federal, especializada em crimes financeiros, a pedido do Ministério Público Federal (MPF), que investigou o ex-banqueiro e outros 18 ex-diretores do Banco Santos.
De acordo com o MPF, Cid Ferreira ocultou o paradeiro de algumas obras de arte de sua coleção pessoal, que haviam sido arrestadas pelo Judiciário como garantia no processo de liquidação do Santos.
Cid Ferreira alegou que as obras haviam “desaparecido”, mas uma testemunha de defesa disse, em depoimento, ter visto os quadros na mansão do ex-banqueiro. Segundo o MPF, o próprio Cid Ferreira admitiu, em outra ação judicial, ter vendido obras para saldar dívidas. A negociação teria sido feita pela Wailea Corporation, empresa pertencente a Cid Ferreira no paraíso fiscal de Antígua, no Caribe.
O ex-controlador do banco foi preso duas vezes durante todo o longo processo decorrente da quebra da instituição. Na mais longa, ficou três meses detido no presídio de segurança máxima de Tremembé, no interior de São Paulo.
O banqueiro foi um dos homens mais ricos do país, mas perdeu sua fortuna diante dos problemas com o Banco Santos. No ano passado, vivia em um apartamento alugado em São Paulo, de 300 metros quadrados, segundo o jornal O Estado de S.Paulo. Na ocasião, Cid Ferreira afirmou ao jornal que não tinha bens em seu nome e vivia às custas da ajuda dos três filhos.
A mansão que pertenceu a ele abrigava obras de arte e mobiliário de artistas e arquitetos como Victor Brecheret, Antonio Poteiro e Oscar Niemayer. O acervo foi leiloado para cobrir parte dos prejuízos causados após o Banco Santos falir e deixar um rombo bilionário.
A mansão também foi leiloada. Foi arrematada por R$ 27,5 milhões em um certame promovido pelo gestor da massa falida do extinto Banco Santos. Nos últimos anos, Ferreira estudava antigos processos para repensar sua estratégia de defesa.