Yuan e Dólar: programa de teste foi apresentado em 2011 para a compra de imóveis no exterior (Nelson Ching/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 14 de julho de 2014 às 16h53.
Hong Kong/Xangai - Durante anos, chineses ricos têm transferido bilhões ao exterior, comprando imóveis caros em mercados como Nova York, Sydney e Vancouver, apesar das restrições cambiais do seu país.
Agora, uma forma em que eles poderiam estar fazendo isso ficou mais clara.
Na semana passada, quando a China Central Television (CCTV) acusou o Bank of China de lavagem de dinheiro, o informe da emissora estatal levou à revelação de um programa do governo não anunciado previamente, que permite que os indivíduos transfiram e convertam seus yuan a dólares ou outras moedas no exterior.
Oferecido por alguns bancos na província de Guangdong, no sul do país, do outro lado da fronteira de Hong Kong, o programa de teste foi apresentado em 2011 para a compra de imóveis no exterior e para a emigração e não constitui lavagem de dinheiro, disse o Bank of China em comunicado no dia 9 de julho.
As transferências foram autorizadas pelos reguladores e informadas a eles, disse o banco.
“Isto mostra que o governo vinha tentando internacionalizar o renminbi há muito mais tempo do que pensávamos”, disse Jim Antos, analista da Mizuho Securities em Hong Kong, em entrevista por telefone, usando o nome oficial da moeda chinesa e referindo-se à meta estabelecida há muito pelos decisores políticos, de permitir que o yuan se torne totalmente conversível em outras moedas.
“Considero essa notícia estimulante, porque este é o caminho certo para eles”.
Controles cambiários
As normas cambiais na China limitam a quantidade máxima de yuan que os indivíduos os podem converter em US$ 50.000 por ano e os proíbem de transferir diretamente a moeda ao exterior.
Nos últimos anos, os decisores políticos têm tomado medidas, como a autorização para realizar movimentos mais livres de capital para dentro ou para fora da China, no intuito de impulsionar a estatura global do yuan, que ainda não é plenamente conversível.
O assunto veio à tona depois que a CCTV disse que o Bank of China ajudou os clientes a transferir quantias ilimitadas de yuan ao exterior através de um produto chamado Youhuitong, que significa “canal superior de moeda estrangeira”.
O programa é mais um sinal de que a China está testando métodos para possibilitar fluxos de saída do yuan antes de uma conversibilidade total, disse May Yan, analista da Barclays Plc em Hong Kong, em entrevista por telefone.
A meta vem sendo anunciada pelos decisores políticos desde a década de 1990 e é um passo adiante nos planos declarados de transformar Xangai numa capital financeira global até 2020.
O Youhuitong foi suspenso enquanto o Banco Popular da China e sua secretaria contra a lavagem de dinheiro solicitam os registros de todas as transações anteriores, de acordo com uma fonte familiarizada com o produto, que solicitou o anonimato porque não tem autorização para falar sobre o assunto publicamente.
A aprovação de transferências para clientes do Youhuitong costuma demorar várias semanas ou um mês, disse uma fonte do setor.
Os clientes devem apresentar documentos que mostrem como o dinheiro a ser transferido foi obtido, como recibos de pagamentos fiscais e comprovantes de renda, além de um acordo de compra de imóvel ou comprovante de emigração, disse a fonte.
Compras nos EUA
Compradores chineses, incluindo pessoas de Hong Kong e Taiwan, gastaram US$ 22 bilhões em casas nos EUA no ano encerrado em março, um crescimento de 72 por cento em relação ao mesmo período em 2013, e mais do que qualquer outra nacionalidade, disse a Associação Nacional de Corretores de Imóveis em seu relatório anual sobre compras de residências por estrangeiros.
A China precisava melhorar sua supervisão dos fluxos de capital depois que US$ 2,7 trilhões em fundos foram transferidos ao exterior sem explicação nos dez anos anteriores a 2012, disse no ano passado Anthony Neoh, ex-conselheiro do governo que ajudou o país a se abrir para gerentes de recursos estrangeiros, citando dados da Integrity International.
Esses fundos alimentaram bolhas imobiliárias em cidades como Hong Kong, em vez de serem investidos em ativos domésticos, disse ele.
“Sabemos que a demanda por mudar-se ao exterior existe”, disse Zhou Hao, economista do Australia New Zealand Banking Group Ltd em Xangai.
“Mesmo que sejam impostas várias restrições, o dinheiro encontrará uma forma de sair do país, através de bancos clandestinos ou por outros meios”.