36º Polônia (Alex Grimm/Getty Images)
João Pedro Caleiro
Publicado em 16 de janeiro de 2015 às 14h58.
São Paulo - Ontem foi um dia movimentado para a Suíça: o Banco Central do país anunciou a volta para o câmbio flutuante após 3 anos garantindo uma cotação mínima de 1,20 franco por euro.
Na época que a medida foi posta em prática, a ideia era manter o franco desvalorizado (e competitivo), mas a economia já usou essa fase para "se ajustar à nova situação", diz o banco. Os juros também foram cortados novamente e entraram ainda mais fundo em território negativo.
O mercado reagiu em questão de minutos: a bolsa caiu 10% e o franco valorizou 30% em relação ao euro, deixando mais cara a vida dos convidados que desembarcam em Davos na semana que vem para o Fórum Econômico Mundial.
A decisão também deve afetar a economia suíça, que pode ter queda de 20% das exportações e de 0,7 ponto percentual no crescimento, segundo estimativa do UBS.
Mas as consequências vão além. Nos últimos anos, países do centro e leste europeus se aproveitaram dos juros negativos da Suíça para contrair empréstimos em francos. E na medida em que o franco se valoriza, os pagamentos de hipoteca ficam relativamente mais caros, complicando bastante a vida dos seus proprietários.
Moedas como o zloty, da Polônia, e o forint, da Hungria, tiveram quedas recordes ontem, assim como as ações de bancos ligado a este tipo de crédito.
Não é por acaso que alguns governos da região vem tentando, nos últimos anos, converter as hipotecas para a moeda local: o alto volume de dívida em moeda estrangeira foi um dos principais motivos para as crises no leste europeu em 2008 e 2009.
A Polônia está atrasada nesse processo e é um dos mais vulneráveis: praticamente metade do valor de empréstimos imobiliários do país está denominado em francos, segundo a Bloomberg.
Mas há quem diga que a situação não é tão grave assim. De acordo com Matthew Klein, do Financial Times, o crédito imobiliário em francos está entre 8% e 10% do PIB da Polônia. Segundo o Citi, a alta da moeda suíça ontem causaria um impacto na ordem de apenas 0,2% do PIB polonês.
Considerando que a Polônia não vive uma recessão há mais de duas décadas e que os preços de combustíveis devem cair, estimulando o consumo, é possível que os poloneses atravessem o processo sem maiores tremores. A ver.