Elie Horn: promessa é doar 60% dos seus bens para a caridade (Germano Luders/Exame)
Editora de Finanças
Publicado em 1 de julho de 2024 às 06h00.
Última atualização em 1 de julho de 2024 às 07h06.
“Este homem tentou fazer o bem.” É o que Elie Horn, fundador da incorporadora Cyrela, gostaria que escrevessem em sua lápide. Desde que saiu do comando da companhia, há dez anos, o bilionário se dedica exclusivamente à filantropia. Horn foi o primeiro empresário do Brasil a aderir ao The Giving Pledge, programa criado por Bill Gates e Warren Buffett com o objetivo de incentivar bilionários a doar ao longo da vida pelo menos metade da fortuna para causas sociais.
A promessa de Horn é doar 60% dos seus bens para a caridade. Sua fortuna é estimada em cerca de R$ 3 bilhões, segundo a revista Forbes. “Quando minha mãe faleceu, eu tinha 40 anos, decidi doar 60% do meu patrimônio à filantropia em vida. Cheguei a pensar em doar 100%, mas consultei minha família e decidimos um número juntos. Ouvi da boca deles para fazer isso em vida. Compreendi que a herança do bem passa de geração em geração. Somos unidos com o mesmo propósito.”
Aos 80 anos, Horn tem uma só meta: incentivar que outras pessoas ‘façam o bem’. Avesso a entrevistas, o bilionário fez uma pequena coletiva de imprensa na última semana, em São Paulo, para divulgar seu primeiro livro “Tijolos do Bem – Reflexões do Fundador da Cyrela”.
No livro, Horn relembra a infância na Síria, a vinda para o Brasil após a dificuldade financeira da família, e aposta certeira no mercado imobiliário, criando uma das maiores incorporadoras do país. A trajetória do self-made man contada no livro e se mistura a projetos sociais que ele apoia, financia e ajuda a divulgar como: Instituto Liberta, Associação Fernanda Bianchini, Amigos do Bem, Transforma Brasil, Instituto Baccareli, Fundação Dom Cabral e Espaço K.
Com o livro, Horn quer incentivar a cultura de doação no país. Atualmente, o volume de doações no Brasil é de 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB). Um volume que ele considera baixo. Com ajuda de outros empresários, como Pedro de Godoy Bueno, Eugênio Mattar e Rubens Menin, Horn participa da organização Movimento Bem Maior, que visa dobrar o volume de doação nos próximos 10 anos. “Este movimento não fala em dinheiro. Falamos sobre ideias para o bem. É um ‘think tank’. Se a ideia é aprovada, levamos à mídia, falamos com o governo, entre outros. Atualmente, são 20 executivos envolvidos.”
Horn quer expandir a filantropia entre os empresários brasileiros e para isso usa seu próprio exemplo. O bilionário já ajudou mais de 200 projetos sociais. Estes que são escolhidos por um comitê, com cerca de 20 pessoas. Juntos, eles decidem sobre a doação de patrimônio do filantropo.
Para Horn, os grandes empresários brasileiros ainda não estão engajados com a filantropia. “Nunca ninguém faz tudo que pode fazer. Sempre podemos fazer mais. O que precisamos é convencer todo mundo a fazer um pouco mais.”
Uma das estratégias usadas pelo fundador da Cyrela é quem vai doar o dinheiro, possa escolher para quem irá doar. Método usado por ele desde quando trabalha com a venda de imóveis. “Vender sempre foi meu forte. Quando a negociação ficava truncada, eu sugeria uma solução: que o valor da divergência fosse destinado por ambas às partes para doação, sempre escolhidas pelo comprador.” Foi assim que ele vendeu um apartamento para Roberto Setúbal, na época presidente do Itaú Unibanco. No livro, Horn conta que disse à Setúbal que ele poderia pagar quanto quisesse no imóvel. A única condição seria que a diferença do valor fosse doada para caridade que o banqueiro escolhesse. No dia seguinte do negócio fechado, Horn recebeu os comprovantes da doação.
Apesar de ser um porta-voz da filantropia entre os empresários, Horn afirma que se sente pequeno quando se trata de doação frente a empresários americanos. “Eu sou um anão perto deles. Buffett e Gates, por exemplo, prometeram doar 99% da sua fortuna.” A fortuna deles é estimada em US$ 129 bilhões e US$ 157 bilhões, respectivamente.
Horn se diz a favor da taxação de grandes fortunas. Mas ressalta que é importante que a arrecadação tenha a destinação correta. “O dinheiro tem que ser usado para o fazer o bem. O problema é o gerenciamento desse dinheiro que ficará na mão do governo.”
Durante o encontro com os jornalistas, Horn também opinou sobre o Programa Minha Casa, Minha Vida e se mostrou um entusiasta. A Cyrela, que atua no segmento de médio e alto padrão, criou a marca Vivaz, com foco no programa habitacional. “É a possibilidade de a pessoa ter um imóvel com toda infraestrutura e perto do trabalho. Antes do programa, isso nunca foi possível. Isso é um avanço enorme.”