A oferta menor de LCI ocorre porque uma instituição financeira precisa lastrear esse produto em um crédito habitacional (Divulgação/Imovelweb)
Da Redação
Publicado em 18 de maio de 2015 às 12h52.
São Paulo - O desaquecimento do mercado imobiliário pode esfriar a oferta do título que ganhou o posto de queridinho dos investidores nos últimos anos: a Letra de Crédito Imobiliário (LCI). Corretoras e bancos já relatam que está mais difícil encontrar o produto.
Em abril, foram emitidos R$ 16 bilhões em LCI, segundo a central de depósitos de ativos e títulos Cetip, que detém a maior parte dos registros de LCI do mercado. O crescimento é de 41% na comparação com o mesmo mês de 2014. Ante março, contudo, houve queda de 4% no volume emitido.
"O crescimento da LCI ainda continua, mas a redução na atividade do mercado de imóveis em algum momento vai afetar as emissões, pois o lastro da LCI são os financiamentos imobiliários já realizados pelos bancos. O impacto ainda será visto", afirma Ricardo Magalhães, gerente executivo de relações e projetos da Cetip.
"Muito se falou em LCI e LCA, mas agora as letras estão praticamente esgotadas. Recentemente, quando houve uma divulgação de que este produto poderia ser tributado, aumentou ainda mais o volume, tanto que hoje alguns bancos já não têm lastro para a emissão de LCIs e LCAs", afirma o diretor da Bradesco Corretora, Aníbal César Jesus dos Santos.
"Na dúvida se o governo vai tributar ou não, todo mundo saiu correndo para o produto", diz.
A LCI deve ficar cada vez mais escassa no mercado, mas isso não significa que o investidor precisa fugir desse título imobiliário.
"Quem aplica em renda fixa tem de comparar a taxa líquida entre os investimentos, não importa se é LCI, LCA ou CDB. No vencimento, a pessoa vai receber a rentabilidade que foi pactuada independentemente do que acontecer com o mercado imobiliário", diz Amerson Magalhães, diretor da corretora Easynvest.
Imposto
Isento de Imposto de Renda (IR), o rendimento da LCI pode muitas vezes ultrapassar o do tradicional Certificado de Depósito Bancário (CDB), que é tributado pelo Fisco.
Um CDB com rendimento em torno de 100% do Certificado de Depósito Interbancário (CDI), por exemplo, acaba equivalendo a uma LCI com rendimento na casa dos 85% do CDI.
No Banco do Brasil, o cenário ainda é um pouco melhor para a LCI. O diretor de empréstimos e financiamentos do banco, Edmar Casalatina, diz, sem detalhar números, que ainda há uma folga para emissão da letra.
O BB, ao contrário da Caixa Econômica, dedica a maior parte dos recursos disponíveis da poupança para o crédito agrícola, enquanto o restante é dedicado ao financiamento da casa própria. "Como o nosso forte é o crédito agrícola, deixamos a Letra de Crédito Agrícola (LCA) para os investidores mais qualificados e tratamos a LCI como um produto de varejo", afirma Casalatina.
O investimento inicial em LCI no BB é mais acessível, de R$ 1 mil, enquanto em outras instituições cobra-se no mínimo de R$ 10 mil a R$ 30 mil para aplicar no produto.
No BB, a contrapartida da exigência menor de capital é que o rendimento da LCI é de 80% do CDI, menos do que a média do mercado. O produto existe desde junho de 2013 no BB e, desde então, acumula um estoque de R$ 19 bilhões, segundo os dados mais recentes.
A LCI também tem garantia do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), de até R$ 250 mil por investidor em cada instituição. "Além da taxa de atratividade, o investidor tem de saber bem quem é o emissor. Não é só porque tem FGC que a pessoa vai investir a qualquer custo", alerta Stefanno Rocco, consultor de investimentos da Geração Futuro.
Cenário
A oferta menor de LCI ocorre porque uma instituição financeira precisa lastrear esse produto em um crédito habitacional. Em outras palavras, toda LCI precisa, para ser emitida, ter um crédito equivalente. Se um não avança, o outro também fica estacionado.
E a concessão de financiamento habitacional dá sinais de enfraquecimento no Brasil. Embora a carteira de crédito dos bancos continue a apresentar crescimento, as concessões, isto é, o crédito novo, já não mostram o mesmo vigor dos anos recentes.
A Caixa reportou um crescimento de apenas 0,3% na concessão de crédito habitacional no primeiro trimestre deste ano ante o mesmo período de 2014.
Isso porque a saída de recursos da poupança secou o crédito imobiliário e obrigou o banco estatal a endurecer as regras para a concessão dos empréstimos. O banco cortou de 80% para 50% o limite para financiamento de imóvel usado dentro do Sistema Financeiro da Habitação (SFH). Já para aqueles enquadrados no Sistema Financeiro Imobiliário (SFI), mais caros, o limite caiu de 70% para 40%.