Mercado imobiliário

Crédito habitacional será recorde mesmo com juro alto, prevê Abecip

Entidade que reúne bancos e instituições do segmento prevê que o financiamento imobiliário alcançará o volume de R$ 260 bilhões neste ano

José Ramos Rocha Neto, novo presidente da Abecip (Abecip/Divulgação)

José Ramos Rocha Neto, novo presidente da Abecip (Abecip/Divulgação)

Karla Mamona

Karla Mamona

Publicado em 19 de fevereiro de 2022 às 10h15.

A volta da taxa Selic ao patamar de dois dígitos não deve impedir a continuidade da expansão do crédito imobiliário no país. O diagnóstico é da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), que prevê que o financiamento imobiliário alcance um volume recorde de 260 bilhões de reais até o fim de 2022.

No ano passado, o financiamento imobiliário chegou a 255 bilhões de reais. Frente a 2020, houve um crescimento de 46%. A perspectiva para 2022, portanto, é a de nova expansão, ainda que menos intensa.

“Teremos o segundo melhor ano da história. Em 2020 e 2021, tivemos um crescimento muito forte. Podemos dizer em que 2022 andaremos de lado, mas, mesmo assim, esperamos recordes em volume”, disse José Ramos Rocha Neto, novo presidente da Abecip, em entrevista à EXAME Invest.

O executivo foi eleito no fim do ano passado e permanecerá no cargo no próximo biênio 2022/2023.

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A perspectiva otimista da associação é baseada em uma série de fatores. Um deles é que as incorporadoras ainda estão no ciclo de crescimento e é esperado um número alto de entregas de imóveis até 2023.

De acordo com Rocha Neto, o número de ofertas será absorvido porque o estoque de imóveis no Brasil ainda está baixo. “Isso manterá a sustentação do crédito.” Somado a isso, ele aponta um problema que está longe de ser resolvido no país, que é o chamado déficit habitacional, estimado em cerca de 7 milhões de habitações.

Outro motivo que pode contribuir para manter o crédito em alta é o histórico de baixa inadimplência nas carteiras voltadas para o financiamento imobiliário, o que faz com os bancos mantenham a oferta. Segundo o executivo, isso se deve a segurança jurídica do produto com o instrumento da alienação fiduciária.

“Com o cenário de hipoteca, os bancos demoraram anos para retomar o imóvel. Hoje, com a alienação fiduciária, são cerca de sete meses [em caso de atraso nas prestações]. Isso traz uma segurança jurídica muito boa e dá espaço para taxas baixas e aumento da concorrência entre as instituições”, afirmou Rocha Neto.

Desafios

Apesar do cenário ainda favorável para o crédito habitacional, o executivo destacou alguns pontos que podem impactar o segmento de forma negativa. O primeiro é a desaceleração do PIB brasileiro: segundo a projeção da associação, haverá um crescimento de apenas 0,5%, bem abaixo da estimativa para 2021, que foi de alta de 4,5%.

Além disso, o aumento da taxa de desemprego e a inflação em alta podem impactar a contratação do crédito. “Quando os níveis de confiança dos consumidores estão baixos, é comum que haja a postergação da compra de imóveis.”

Segundo Rocha Neto, a inflação, por sua vez, terá um impacto limitado. Mesmo com uma taxa de juro do financiamento mais elevada em razão da alta da Selic, o consumidor acaba fazendo as contas sobre se vale a pena comprar um imóvel ou continuar no aluguel. “Muitas vezes, o valor do aluguel fica muito próximo ao do financiamento.”

Mecanismos de funding

Por fim, Rocha Neto destacou a importância da expansão dos mecanismos de funding para o setor de crédito imobiliário no país nos próximos anos. Para 2022, a Abecip acredita os empréstimos com recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) devem cair 5%, para 195 bilhões de reais.

De acordo com executivo, apesar da queda, a poupança terá ainda nos próximos anos um papel relevante na oferta de crédito, mas é previsível o aumento dos financiamentos provenientes de outras formas de captação, como as Letras Imobiliárias Garantidas (LIGs), um novo ativo de renda fixa que ganhou espaço no ano passado.

“O próprio Banco Central tem estimulado que os setores busquem fontes alternativas de funding. A intenção é que reduza diminua o contingenciamento. Isso é bom para o setor e para os investidores”, finalizou.

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