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Ronaldo engorda bolso no Timão e puxa onda de craques pródigos

Crescimento brasileiro e imposto mais baixo faz jogadores consagrados retornarem ao país

Ronaldo: desde a chegada do atacante o Corinthians aumentou seu faturamento em 54% (Rodolfo Buhrer/Placar)

Ronaldo: desde a chegada do atacante o Corinthians aumentou seu faturamento em 54% (Rodolfo Buhrer/Placar)

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Da Redação

Publicado em 7 de março de 2011 às 16h38.

São Paulo/Madri - A saudade do feijão-com-arroz e do pagode deixou de ser a principal arma do futebol brasileiro para repatriar seus craques. Agora, é a vez do real forte e do crescimento econômico do País seduzirem astros, como Ronaldo, a trocarem as ligas europeias e os contratos em euros pelas rodadas do Brasileirão e da Libertadores.

Ronaldo fatura hoje no Corinthians pelo menos a mesma bolada que embolsava no auge da carreira, quando jogava no Real Madrid. Quem diz isso é o agente do atleta, Fabiano Farah. Segundo o jornal espanhol El Mundo, a receita do jogador chegava a US$ 8,2 milhões em 2003, incluindo salários e patrocínios.

O inseparável colega de Seleção e de clube, Roberto Carlos, diz que, depois de perambular pela Europa por 15 anos, não precisa mais de cheques muito maiores do que os que recebe no Brasil.

“O Brasil hoje é muito diferente dos anos 90, quando eu fui para a Europa”, disse Roberto Carlos em entrevista. “É possível jogar em alto nível no Brasil, fazer dinheiro e conviver com a família.”

É que Roberto Carlos voltou ao País exatamente no período em que a economia brasileira cresce no ritmo mais forte em mais de duas décadas. Como se essa expansão de renda e de emprego já não fosse suficiente para colocar mais torcedores nos estádios e diante da TV durante os jogos, ainda há o fato de que o Brasil será a sede do maior evento de futebol mundial, a Copa da Fifa, em 2014.

Virada pós “Palestina”

A goleada de vantagens do futebol brasileiro para os craques estabelecidos não para por aí. A Receita Federal é bem menos agressiva aqui do que na Espanha, por exemplo, para quem recebe fortunas. Por aqui, a alíquota máxima não passa de 27,5 por cento. Na terra em que jogam Kaká e Cristiano Ronaldo, a mordida chega a 43 por cento.

O Brasil sempre foi um exportador de “pé-de-obra”. Desde os anos 80, jogadores buscavam melhores contratos e campeonatos mais vistos na Europa enquanto no Brasil predominava uma combinação de estádios em ruínas, violência de torcidas organizadas e calendário desorganizado.

“Acho que só o conflito na Palestina entre árabes e judeus era mais difícil de entender”, disse em entrevista Richard Law, consultor do time inglês Arsenal, que nos anos 90 trabalhou na Hicks Muse Tate & Furst Inc., período em que o fundo de private equity americano fez um contrato de parceria com o S.C. Corinthians Paulista.

Em 1997, por exemplo, mais da metade dos jogadores que atuavam no Brasil recebia uma média mensal de R$ 120. Realidade bem diferente é a que existe hoje, 14 anos depois. A queda da taxa de desemprego de mais de 11 por cento para perto de 6 por cento, o crescimento de 3 por cento ao ano na renda média, contra 0,3 por cento em 2002, são fatores que puxam para cima os contratos dos direitos de TV, os acordos comerciais de merchandising e os direitos de imagem dos atletas. Nos últimos 10 anos, a quantidade de domicílios com acesso a TV por assinatura mais do que dobrou, de 4 milhões para mais de 9 milhões.

Segundo Amir Somoggi, analista da Crowe Horwaht RCS baseado em São Paulo, o faturamento bruto dos 20 maiores clubes brasileiros cresceu 12 por cento em 2009, para R$ 1,93 bilhão, um crescimento maior do que na Inglaterra ou na Espanha.

Os 12 estádios que serão construídos ou remodelados para a Copa de 2014 vão consumir investimentos de US$ 2,8 bilhões. Esse é um dos fatores que vão ajudar os clubes nacionais a elevarem o faturamento em 58 por cento até 2014, com mais gente pagando ingressos e comprando produtos e serviços.


Fenômeno

Ronaldo, de 34 anos, passou mais da metade da vida fora do País. Saiu logo após a conquista do tetra na Copa de 1994, passou por Holanda, Itália e Espanha. Voltou em 2008. Farah diz que Ronaldo já recusou propostas para atuar nos Estados Unidos, na Inglaterra e na Alemanha depois que voltou.

“Jogar na Europa não é mais como antes porque o atleta perde metade do contrato com os impostos”, diz Richard Law. Ronaldo não quis dar entrevistas para essa reportagem.

O real valorizado é outra razão para tornar os contratos no Brasil mais competitivos, diz um dos mais experientes agentes de jogadores do mundo, Juan Figer. Ele atua desde os anos 70, quando trouxe do Uruguai Pedro Forlan, pai de Diogo Forlan, que recebeu a Bola de Ouro na última Copa. O real se valorizou 74 por cento desde 2004, quando Ronaldo e Roberto Carlos jogavam em Madrid.

“Os jogadores podem conseguir no Brasil contratos tão bons quanto os que eles podem ter de proposta lá fora”, disse Figer por e-mail.

Muito barato

Os dirigentes dizem que esses contratos não representam necessariamente risco para os balanços dos clubes. O presidente do Corinthians, Andréz Sanchez, diz que Ronaldo é barato para o clube do Parque São Jorge. As receitas do time cresceram 54 por cento e atingiram R$ 181 milhões em 2009. E vão crescer pelo menos mais 10 por cento este ano, diz o vice-presidente de marketing do clube, Luis Paulo Rosenberg. “Ronaldo é muito barato. O Corinthians nunca vendeu tanto”, disse Sanchez em entrevista.

Parte desse faturamento maior vai diretamente para os bolsos do centroavante, maior artilheiro das Copas do Mundo. Segundo Farah, Ronaldo tem participação nos contratos de patrocínio estampado nas mangas e na barra da camisa, além de ter percentual sobre as vendas de ingressos nas bilheterias.

O campeonato brasileiro de 2010 se encerra neste domingo. O vice-líder Corinthians entra em campo com os repatriados Ronaldo e Roberto Carlos. Enquanto o líder Fluminense F.C. aposta nos craques Deco, Fred e Beletti, também nomes que trocaram a Europa pelo Brasil. Ronaldo é dúvida, dependendo da recuperação de contusão num músculo para voltar a atuar. Em oito jogos, fez seis gols.

Europa ainda atrai jovens

Agentes apontam que jovens craques seguem mirando contratos europeus. Fabiano Farah diz que os gramados de fora atraem pela exposição e pela experiência que oferecem. Segundo o jornal inglês The Sun, a joia santista Neymar é o próximo a embarcar. Vai para o Chelsea, de Londres, para receber US$ 85,4 mil por semana. “Funciona como um teste para esses jovens. Eles querem experimentar”, diz Farah.

Segundo a Confederação Brasileira de Futebol, 1.017 jogadores profissionais deixaram o Brasil ano passado, 14 por cento menos que em 2008. Um movimento que não atrai mais estrelas que já viveram essa experiência, como o meia Anderson Luis de Souza, o Deco, do tricolor das Laranjeiras. Ele passou 13 anos na Europa, entre Portugal, Espanha e Inglaterra, onde atuou por Porto, Barcelona e Chelsea. “Fiquei muito tempo longe de casa. Senti falta da família. Era hora de voltar.”

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