Encontro do Clube CMO (Exame/Exame)
Vice President of Corporate Education da Exame
Publicado em 9 de abril de 2025 às 08h15.
Somos hiperconectados — mas estamos cada vez mais sozinhos.
Vivemos cercados de grupos, redes e notificações, mas muitas vezes nos faltam conversas significativas, vínculos de confiança, espaços onde se possa aprender sem julgamento e crescer com o outro. Essa solidão não é só pessoal. Ela chegou às empresas, aos times e às marcas.
No meio disso tudo, surgiu um novo papel para os líderes — principalmente de marketing e de pessoas: o de formar comunidades.
Quando participei da criação do Clube CHRO, não era só sobre RH. Era sobre gerar um ambiente onde líderes pudessem se escutar, se desenvolver, trocar dores reais e refletir juntos. Sem fórmulas prontas, sem palco — com contexto. Hoje, o clube se tornou um benchmark, e isso não aconteceu por acaso.
A verdade é que estamos entrando numa nova era da influência — e nela, educar vale mais do que vender. Conectar pessoas vale mais do que impressionar audiências. E construir comunidades deixou de ser algo periférico para virar uma das estratégias mais poderosas para marcas, lideranças e negócios com propósito.
Nunca estivemos tão conectados — nem tão distantes.
A evolução da tecnologia encurtou distâncias, mas criou um novo tipo de isolamento: digital, emocional e até profissional.
Vivemos, inclusive, uma nova forma de desconexão — alimentada, ironicamente, pela ascensão da IA.
E aqui não estou falando da Inteligência Artificial. Estou falando da Intimidade Artificial: essa sensação de proximidade que a tecnologia simula, mas que não se sustenta na realidade.
As pessoas se sentem cada vez mais desconectadas de seus times, de suas relações e do próprio propósito. Estudos da U.S. Public Health caracterizam a solidão como uma pandemia. Nos últimos anos, o número de horas em isolamento social aumentou em mais de 20%, enquanto o tempo de interação com outras pessoas caiu 37% e o tempo de convivência com amigos despencou 66%.
Nesse cenário, as marcas que conseguirem reconectar — e não apenas comunicar — terão mais impacto, mais presença e mais relevância.
A confiança não nasce da insistência. Ela nasce da utilidade.
Em vez de empurrar discursos, as marcas que mais crescem hoje são aquelas que ajudam as pessoas a compreenderem o mundo ao seu redor.
Educar virou a estratégia de marketing mais poderosa — e mais subestimada.Quando uma marca ensina, ela mostra que entende. Quando uma liderança educa, ela mostra que se importa. Quando uma organização cria espaços de aprendizado e troca, ela constrói algo que nenhuma campanha sozinha é capaz de gerar: credibilidade.
Existe uma diferença clara entre ter audiência e ter comunidade.
Audiência assiste. Comunidade participa.
No Clube CHRO e no Clube CMO, vimos isso na prática.
A força do grupo não está apenas no conteúdo. Está no que acontece entre os encontros: nas conversas paralelas, nas trocas entre membros, no vínculo que se forma entre quem compartilha desafios parecidos.
Ao criar essa comunidade, aprendi que os pilares mais importantes são:
Escuta genuína, para entender o que realmente importa.
Consistência, para gerar confiança e engajamento real.
Curadoria, para filtrar o excesso de informação e valorizar o tempo das pessoas.
E, sobretudo: experiência.
Uma comunidade forte não é só sobre conteúdo — é sobre como esse conteúdo chega, circula e transforma quem participa. É sobre fazer as pessoas se sentirem parte de algo maior, com valor real em cada interação.
Marcas que entendem isso deixam de ser apenas fornecedoras. Viram pontos de encontro.
O futuro do CMO está na interseção entre cultura, tecnologia e conexão humana.
Não há marketing sem dados — assim como não há marca relevante sem vínculo real com as pessoas.
O marketing que se destaca hoje está menos interessado em slogans criativos e mais comprometido com o design de experiências inteligentes: aquelas que combinam dados, tecnologia e sensibilidade para criar interações com significado.
É sobre entender crenças, interpretar identidades, facilitar trocas genuínas — e orquestrar ambientes onde o aprendizado acontece de forma natural, contínua e colaborativa.
A nova liderança não ocupa palcos — ela organiza trocas.
Constrói pontes, facilita conversas, sustenta vínculos.
É nesse ponto que branding, cultura de aprendizagem e comunidade se encontram:
No papel do líder como educador, facilitador e curador de experiências com propósito.
E é exatamente por isso que a construção de comunidade virou um pilar estratégico — não só de marketing, mas de negócio.
Em um mundo com excesso de ruído, construir comunidade é oferecer silêncio com sentido: um lugar de conexão real, onde pertencimento e propósito voltam a andar juntos.
A marca que vence hoje não é a que grita mais alto, mas a que escuta melhor — e constrói espaços onde as pessoas querem permanecer, aprender e pertencer.
No fim das contas, comunidade é estratégia.
É onde branding, cultura e aprendizado deixam de ser departamentos — e viram relações.