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Marina Filippe
Publicado em 9 de setembro de 2021 às 23h00.
A população negra é minoria em todos os cargos do setor de publicidade no Brasil e também recebe um salário menor, é o que revela a primeira edição do estudo Sustentabilidade Racial: Dados e estatísticas sobre a população negra no Brasil, com recorte específico para o setor de publicidade e propaganda.
"Começamos por esse setor por dois motivos: o Ministério Público do Trabalho desenvolve um projeto para mudar o cenário atual, e por ser o setor é responsável pela criação e reprodução de diversos estereótipos raciais e de gênero", diz Michael França, pesquisador do Núcleo de Estudos Raciais do Insper e coautor da pesquisa.
A iniciativa chega para dar visibilidade às informações sobre desigualdades socioeconômicas entre brancos e negros de modo setorial considerados três indicadores de desigualdade socioeconômica: diferenciais no número de colaboradores, diferenciais salariais, e o índice de equilíbrio racial (IER).
Esses indicadores foram calculados a partir dos dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), gerenciada pelo atual Ministério da Economia. Além disso, os dados mostram que setor de publicidade empregava pessoas em 1.363 cidades dos 27 estados brasileiros, e contava com 12.883 empresas, que empregam 145.945 colaboradores, em 2017, quando os últimos dados foram disponibilizados.
Entre os principais resultados da pesquisa, está o fato de que a população negra é minoria em todos os cargos do setor de publicidade no Brasil, contudo, há um aumento de cerca de 10 pontos percentuais entre os colaboradores que não fazem parte da alta gestão ou dos cargos estratégicos do setor nos últimos anos. Na diretoria e em cargos estratégicos, esse aumento foi menor, de cerca de 5 pontos percentuais.
Quando se observa a remuneração média da população negra e a remuneração média da população branca, percebe-se que os cargos de maior prestígio e liderança estão associados a um diferencial de salário ainda maior. Por exemplo, pessoas negras em cargos de diretoria recebem, em média, 54,3% do salário de uma pessoa branca. Em posições mais baixas esse valor chega a 68,7%.
"Existe um desequilíbrio racial ocupacional acentuado no Brasil. Cargos de maior prestígio e rendimentos apresentam menor proporção de negros e mulheres. Nos últimos anos está ocorrendo uma melhora modesta no percentual de negros nas ocupações de maior nível hierárquico e um expressivo avanço nas ocupações de menor prestígio. Há ainda o destaque nas remunerações entre os grupos. Quando comparamos com o homem branco, o percentual da remuneração dos homens negros e das mulheres brancas e negras cai consideravelmente ao longo do tempo", diz França.
Ainda sobre a remuneração, em média, uma mulher negra recebe menos da metade (45%) da remuneração de um homem branco. Homens negros também são desfavorecidos, recebendo em média 54% da remuneração de um homem branco. Por fim, uma mulher branca também tem uma remuneração menor, em média, recebendo cerca de 81% do que recebe um homem branco.
É possível ver ainda, que entre 2006 e 2010 houve uma redução da desigualdade salarial tanto para homens negros como para mulheres negras. Desde então, porém, a desigualdade tem aumentado, chegando a seu máximo no último ano disponível, 2017.
Esse aumento afetou ainda mais as mulheres negras, que em 2006 uma remuneração média de 53,7% da remuneração média de um homem branco, e em 2017 esse valor chegou ao mínimo de 45,1%.
A crise econômica também evidencia a disparidade. "Nos períodos de mais alto crescimento, como o período de 2006-2010, houve uma redução nos diferenciais de salários de mulheres e homens negros quando comparados ao salário de homens brancos no setor. Já no período de 2014-2017, marcado por crise econômica, essa desigualdade salarial se acentuou", diz Rafael Tavares, da Universidade de São Paulo e coautor da pesquisa.
A pesquisa completa pode ser conferida no site da iniciativa. Em breve outros setores serão mapeados. "Os dados e as estatísticas ajudam nos processos de tomada de decisão e contribui para gerar um debate mais qualificado. Ainda existe muito a ser feito nessas agendas", completa França.