Oferecer alternativas às sacolinhas para a população é o principal desafio para as companhias (Cristiano Mariz/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 2 de fevereiro de 2012 às 09h50.
Rio de Janeiro - A substituição das sacolas de petróleo nos supermercados de São Paulo por suas concorrentes biodegradáveis vendidas a preço de custo, no último dia 25, tem gerado expectativas não apenas entre os consumidores, mas também entre os varejistas, que podem estar se perguntando como podem obter vantagens nesse processo e evitar a insatisfação do cliente.
Um dos principais desafios para os as empresas será educar o consumidor e apresentar as vantagens em adotar este novo comportamento em prol do meio ambiente, da maneira mais clara possível.
A maior pergunta que se deve levantar neste momento é como as marcas podem tirar proveito das mudanças. Entre as oportunidades proporcionadas às companhias, principalmente aos supermercadistas, está a chance de deixarem de ser vistas como vilãs do meio ambiente com a distribuição desenfreada de sacolas plásticas e aprofundar o relacionamento com o consumidor.
“A partir de agora, ao adotar estas novas medidas, os varejistas vão poder livrar as suas empresas da imagem do ‘lixo assinado’, as próprias sacolas que estampavam as marcas de supermercados e entupiam bueiros, além de poluirem as cidades”, declara Antonio Gandra, vice-presidente da Associação de Supermercados Paulista (APAS).
Consumidores estão dispostos a mudar
A Apas é uma das organizações que, junto com a Prefeitura, a Secretaria do Meio Ambiente, o Governo do Estado de São Paulo e o Procon, firmou o acordo de substituição das sacolas nos supermercados, baseado no projeto de lei 496/2007. Para incentivar os consumidores a mudarem o hábito e levarem sacolas retornáveis ou adquirirem a versão biodegradável por R$ 0,19, a associação criou a plataforma “Vamos tirar o planeta do sufoco”. Entre as iniciativas da campanha estão mensagens de conscientização em outdoors, busdoor e até sacolas gigantescas em pontos de grande movimentação da capital paulista.
Nos supermercados estão sendo exibidos, em cada ponto de check-out, cartazes com os dizeres “Poupe Recursos Naturias! Use Sacolas Reutilizáveis”. A iniciativa conta ainda com um site e pretende tirar de circulação 6,6 bilhões de sacolas plásticas por ano. A empreitada tem o apoio de empresas como Walmart, Carrefour e Pão de Açúcar, que incorporaram em suas lojas as mudanças sugeridas pela Apas.
Mesmo antes de o projeto valer para todo o estado de São Paulo, cidades como Belo Horizonte, em Minas Gerais, e Jundiaí, no interior de São Paulo, já tinham colocado em prática a substituição, há um ano. “O que se podia notar é que os consumidores estavam cansados da poluição e dos estragos causados pelos sacos plásticos, descartados indiscriminadamente. Em Jundiaí, a população se mostrava disposta à mudança e, após um ano do projeto instalado, a aprovação chegou a 80% sendo relatada também a economia nos cofres públicos com a limpeza da cidade”, relata o vice-presidente da Apas.
Incentivo nos pontos de venda
O Pão de Açúcar é uma das empresas que apoia a iniciativa da Apas. Antes mesmo do projeto entrar em vigor, a rede varejista já mantinha ações sustentáveis em seus pontos de venda, incluindo o incentivo ao abandono das sacolinhas plásticas. As chamadas “lojas verdes” do grupo em São Paulo oferecem como alternativa 13 sacolas retornáveis com preços que vão de R$ 2,99 a modelos mais resistentes, custando R$ 13,90, além de caixas de papelão.
Os pontos de venda sustentáveis da rede contam ainda com estações de reciclagem em parceria com a PepsiCo e a Unilever. No local, os consumidores podem deixar embalagens que serão levadas pela empresa para serem reaproveitadas. De 2001, quando o projeto foi criado, até 2010, foram reaproveitadas cerca de 50 mil toneladas de material.
O Extra também conta com ações para educar os clientes a respeito do uso desenfreado das sacolas plásticas. Desde 2008, os supermercados da bandeira em São Paulo realizam a Quinta-Feira sem Sacola, eliminando no dia, o uso das sacolinhas.
O Walmart também incentiva a redução do uso das sacolas, dando desconto de R$ 0,03, a cada cinco produtos comprados, para os consumidores que trouxerem suas próprias sacolas. O projeto foi iniciado em 2008 e já gerou uma economia de R$ 2,2 milhões para os clientes da rede de varejo.
Outra empresa que passou a adotar medidas sustentáveis em suas promoções foi a Procter & Gamble. A companhia criou a ação “Volte Sempre”, em parceria com a rede Carrefour, e, na compra de produtos da marca, os clientes concorrem a nove prêmios de R$ 10 mil em barras de ouro. O diferencial da promoção é que os consumidores receberão gratuitamente sacolas de papel para levar os itens da P&G adquiridos.
Diálogo para convencer o consumidor
Os colaboradores são parte importante da estratégia para educar o público a respeito da substituição das sacolas. Apesar de 60% dos brasileiros serem favoráveis à medida, segundo um estudo do Ministério do Meio Ambiente, é preciso se preocupar com os outros 40%. “O trabalho com os profissionais na área de check-out deve ser intensificado para que eles tenham conhecimento suficiente para argumentar juntos aos consumidores que podem não gostar de ter de pagar por algo que antes era falsamente gratuito, pois o custo das sacolas estava incorporado aos preços dos supermercados”, explica Gandra.
Outro ponto que deve ser levado em conta é que, segundo o mesmo estudo do Ministério do Meio Ambiente, 21% dos brasileiros não saberiam como acondicionar o lixo em suas residências sem as sacolas plásticas.
“Antigamente havia um desperdício, pois muitos consumidores não exploravam a capacidade total dos sacos plásticos, gerando um grande volume de descarte indevido. Como o brasileiro vai passar a gastar dinheiro com esse material, esse uso será mais racionalizado e a expectativa é uma redução nos próximos anos”, afirma o vice-presidente da Apas, que reitera “Esse é o primeiro passo, pois a partir de 2014, quando entrará em vigor um projeto de lei sobre o descarte de resíduos sólidos, as empresas terão que se preparar para se responsabilizarem pelo devido fim de produtos como sofás, móveis e eletrodomésticos, quando os consumidores adquirirem novos itens para suas casas”.