JBS e BRF: as duas companhias investiram juntas R$ 1,2 bilhão em publicidade no primeiro semestre de 2016, segundo os últimos dados da Kantar Ibope Media (Paulo Fridman/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 20 de março de 2017 às 16h57.
Última atualização em 21 de março de 2017 às 15h27.
São Paulo - JBS e BRF resolveram gastar para garantir aos consumidores que sua carne é segura, após serem envolvidas no mais recente escândalo de corrupção do País.
Desde sexta-feira, quando a Polícia Federal anunciou estar investigando evidências de que frigoríficos subornaram fiscais para aprovar a venda e exportação de carne com problemas, as duas empresas se mexem para conter os estragos.
A estratégia inclui anúncios no horário nobre da televisão e comunicados de página inteira nos jornais afirmando que nunca venderam carne estragada e que seus produtos são totalmente seguros para consumo, negando afirmações da PF de que empresas do setor adicionam ácido e papelão à carne, por exemplo.
O escândalo ameaça destruir anos de publicidade focada na qualidade e segurança de seus produtos, tendo entre seus porta-vozes celebridades como o ator Tony Ramos, a jornalista Fátima Bernardes, o cantor Roberto Carlos, além do chef britânico Jamie Oliver e o ator Robert de Niro.
As duas companhias investiram juntas R$ 1,2 bilhão em publicidade no primeiro semestre de 2016, segundo os últimos dados da Kantar Ibope Media.
Os títulos e ações de JBS e BRF desabaram na sexta-feira, após a PF revelar detalhes da investigação.
"Considerando a gravidade das acusações, eles deveriam ter sido mais rápidos e mais precisos para evitar maiores danos de imagem", disse Pedro de Camargo Neto, especialista em comércio exterior que já atuou em cargos de liderança no setor.
Maior frigorífico do mundo, a JBS veiculou um anúncio no sábado à noite na Rede Globo afirmando que a decisão judicial na Operação Carne Fraca não mencionava irregularidades em termos de qualidade envolvendo a empresa e que os casos "lamentáveis" citados pela imprensa não envolviam qualquer uma de suas marcas.
Uma versão impressa do anúncio nos jornais é o primeiro resultado que aparece quando se busca no Google o nome da empresa. A JBS até reativou sua conta no Twitter, que havia sido usada pela última vez em 2015.
QUALIDADE É A MAIOR PRIORIDADE DA JBS E DE SUAS MARCAS. Confira mensagem da companhia: https://t.co/loiab0Bj8l pic.twitter.com/6mkdDJ1zBN
— JBS (@JBS_oficial) March 18, 2017
A BRF está focando na família. Seu anúncio, também veiculado na Rede Globo, exibia fotos compartilhadas por funcionários nas mídias sociais com as geladeiras repletas de produtos da BRF e a afirmação de que a o produto que o consumidor tem em casa é o mesmo que os colaboradores do grupo consomem com seus filhos.
A versão impressa exibida nos jornais afirma que "a gente só produz os alimentos que a gente coloca na mesa de nossas famílias".
Por anos, a JBS promoveu a marca Friboi com uma campanha bastante popular que destacava que a carne da empresa é 100% inspecionada e "sinônimo de confiança".
No ano passado, a divisão de aves e alimentos preparados Seara contratou para estrelar seus comerciais o chef Alex Atala, dono do restaurante paulistano D.O.M., que tem duas estrelas pelo guia Michelin.
Também em 2016, a BRF lançou uma nova linha de alimentos com menos sódio e certificados de bem-estar animal sob a marca do chef britânico Jamie Oliver.
Agora, as empresas tentam combater a percepção de que os alimentos que vendem não são seguros.
Há acusações de que parte da carne era adulterada com ingredientes como cabeças de porco e que odores suspeitos eram mascarados com ácido em quantidade acima do permitido, além da re-embalagem de produtos vencidos e exportação de cargas contaminadas com salmonela.
Nem todas as companhias sob investigação – mais de 30 – cometeram todas as infrações, escreveu o juiz que autorizou a investigação.
O governo também está tentando diminuir o possível impacto do escândalo sobre a economia. O Brasil é o maior exportador de carne bovina e aves do mundo, responsável por um quinto das exportações globais.
O presidente Michel Temer convidou embaixadores dos maiores países importadores para um rodízio no domingo para provar que a carne brasileira é segura.
O diplomata chinês sentou-se ao lado de Temer no evento, mas há relatos de que a China já suspendeu temporariamente as importações.
As duas empresas negam irregularidades. Na sexta-feira, a JBS disse que "repudia veementemente" acusações de que vendeu comida estragada.
A BRF declarou que obedece a legislação e que está cooperando com as autoridades. Em outro comunicado, a BRF afirmou que as leis da União Europeia permitem o tipo de salmonela presente em alguns embarques de frango.
Segundo a empresa, a acusação de mistura de papelão à comida é um "grande mal-entendido" pela polícia.