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Futebol americano no Brasil profissionaliza gestão e mira medalha olímpica

Confederação Brasileira de Futebol Americano aposta em experiência dos fãs e gestão profissional para popularizar o flag football e buscar presença em Los Angeles 2028

Com 15 mil praticantes e expectativa de crescimento, confederação se profissionaliza para disputar medalha no flag football em Los Angeles 2028 (Getty Images)

Com 15 mil praticantes e expectativa de crescimento, confederação se profissionaliza para disputar medalha no flag football em Los Angeles 2028 (Getty Images)

Gilmar Junior
Gilmar Junior

Colunista

Publicado em 19 de março de 2025 às 12h41.

"Que legal o Super Bowl no Brasil! Vi que teve até jogo na Neo Química Arena em setembro. Mas o futebol americano é jogado no país?" Essa é uma dúvida comum entre quem não acompanha o esporte ou tem pouca noção da sua presença por aqui. E a resposta é: sim. Somente no Campeonato Brasileiro de Futebol Americano, o chamado Brasileirão de FA, 46 equipes participaram da competição no último ano, envolvendo mais de 4 mil atletas.

No total, estima-se que o país tenha cerca de 15 mil praticantes da modalidade. Esse número deve crescer ainda mais com a expansão do flag football, uma versão sem contato do esporte, em que os jogadores devem retirar fitas (flags) presas à cintura do adversário em vez de derrubá-lo no chão.

O flag tem ganhado espaço rapidamente e, na Copa do Brasil de 2024, reuniu mais de 100 equipes nas categorias feminina e masculina. Com esse crescimento, a expectativa é que o número total de atletas no Brasil ultrapasse 20 mil. Além disso, o país se destaca pelo interesse na modalidade: segundo o IBOPE Repucom, por aqui há 41 milhões de fãs do futebol americano.

Este é um marco inédito para o futebol americano no Brasil. Ao final de 2024, a CBFA (Confederação Brasileira de Futebol Americano) passou por eleições, nas quais a atual gestão foi reeleita para mais um ciclo. A novidade, no entanto, é que, desta vez, Cristiane Kajiwara (presidente) e Rakel Barros (vice-presidente) iniciarão um ciclo focado em um projeto olímpico. Isso ocorre porque o programa esportivo dos Jogos Olímpicos de Los Angeles em 2028 incluiu cinco novas modalidades, entre elas o flag football.

O esporte já conta com adeptos no Brasil e pode se tornar uma nova esperança de medalha para o país. Vale ressaltar que ambas as modalidades estão sob a gestão da CBFA. A Seleção Brasileira feminina de flag football já figura no Top 5 do ranking mundial, enquanto a seleção masculina ocupa atualmente a posição Top 20 -- o que aumenta a responsabilidade do projeto e do trabalho voltado para os Jogos Olímpicos de 2028.

Diante desse cenário, a liderança da CBFA decidiu profissionalizar toda a gestão. Como primeira medida, Cristiane Kajiwara anunciou Fernando Fleury como o novo diretor-geral. Fleury possui mais de 20 anos de experiência em gestão, inovação e marketing esportivo, tendo liderado projetos para entidades e marcas do esporte, como Corinthians, Atlético-MG e Ceará, sempre com foco em tecnologia e conexão com os fãs.

Doutor pela FEA-USP, com período de pesquisa na renomada University of Massachusetts Amherst, Fleury é reconhecido pelo viés de inovação e pelo uso de dados para conectar marcas a públicos diversos e engajar os fãs. O profissional já havia atuado como diretor de marketing da CBFA na gestão de 2015/2018.

Para Kajiwara, o momento é de aprimorar a CBFA, com foco em estrutura organizacional, eficiência financeira e expansão da marca e das modalidades. “Estamos vivendo um processo irreversível de crescimento na CBFA, tanto para o futebol americano quanto para o flag football. E não podemos crescer sem organização e profissionalização, sob pena de crescer de forma inadequada”, afirma a presidente da entidade.

“Minha missão será coordenar e integrar todas as áreas da CBFA — administrativa, financeira, marketing e comercial — garantindo que atuem de forma estratégica e alinhada com as diretrizes da presidência. E aqui é importante reconhecer o mérito da presidente Cris e da vice-presidente Rakel, que tiveram a visão e a coragem de separar as funções políticas das executivas. Trazer profissionais de mercado para cuidar da gestão é uma iniciativa que poucas confederações, inclusive muitas mais tradicionais, tiveram ousadia de adotar. Esse passo coloca a CBFA em um caminho de profissionalização que serve de exemplo para todo o esporte brasileiro”, destaca o novo diretor-geral.

Kajiwara assumiu a Confederação em fevereiro de 2021. Desde então, o relacionamento com a IFAF (Federação Internacional de Futebol Americano) passou por mudanças significativas, o que possibilitou ao Brasil disputar as duas edições do Mundial de Flag Football (2021 e 2025), tanto com a seleção feminina — que já havia participado de edições anteriores — quanto com a masculina. A CBFA também fez do Brasil sede de dois importantes eventos: o Sul-Americano de Flag Football em 2022 e o Sul-Americano de Futebol Americano em 2023.

Relação com a NFL

Com a NFL, a maior liga de futebol americano do planeta, houve um importante estreitamento de relações. Após reuniões preliminares no início de 2023, no segundo semestre daquele ano, aconteceu a primeira edição do NFL Flag Championship no Brasil, com a colaboração da CBFA, que ficou responsável por toda a parte operacional do evento.

Diante do sucesso, uma nova edição foi realizada em 2024, no fim de semana que antecedeu o primeiro jogo da história da NFL no Brasil. Maior do que a edição anterior, o NFL Flag novamente foi um sucesso, impulsionando o fomento da modalidade, e a CBFA mais uma vez desempenhou papel fundamental na execução do projeto.

Essa aproximação proporcionou a alguns adolescentes a oportunidade de realizar a primeira viagem ao exterior: as equipes vencedoras do NFL Flag Championship nas duas edições realizadas (Braves e Hornets, respectivamente) viajaram para Orlando, para o Pro Bowl, evento que ocorre regularmente no fim de semana que antecede o Super Bowl. Essa é uma das principais ferramentas utilizadas pela CBFA para fomentar o flag football.

No último ano, o evento teve edições regionais, o que ampliou o número de projetos para 48 equipes. “Queremos que a CBFA consiga ampliar parcerias como essa e elevar o número de pessoas contempladas nos próximos anos. Não é possível que se apaixonem pela modalidade se não conseguirmos aproximá-la de quem está disposto a se apaixonar por ela”, afirma Kajiwara, presidente da CBFA.

Houve também uma importante aproximação com a CFL, a liga canadense da modalidade, e, juntas, as duas entidades realizaram duas edições do Combine, onde prospectos brasileiros tiveram a oportunidade de mostrar suas habilidades e sonhar com uma oportunidade no exterior.

Durante a última gestão, a CBFA também organizou os campeonatos nacionais de ambas as modalidades. A Copa do Brasil de Flag Football teve um aumento significativo de participantes, ultrapassando a marca de 100 times (masculino e feminino), enquanto o Brasileirão de Futebol Americano cresceu, passando a contar com três divisões e retomando até mesmo a edição feminina.

Além disso, a CBFA realizou o primeiro jogo da história da Seleção Feminina de Futebol Americano: em março de 2023, no Estádio Baetão, em São Bernardo do Campo (SP), o Brasil Onças enfrentou o All Star USA Team (um combinado universitário norte-americano) e conquistou uma vitória emocionante por 10 a 6.

Presente e futuro

A CBFA também conquistou importantes parceiros durante a gestão passada, como a fornecedora de materiais esportivos Kickball e universidades como a ESPM e a UniCesumar, agora parceiras da entidade. Além disso, a Confederação estreitou laços com diversos veículos de mídia esportiva, destacando-se o Canal GOAT e a RedeTV, que exibiram as finais do Brasileirão de Futebol Americano.

A Oakley também firmou parceria com o Brasil Onças, apoiando tanto as seleções de flag football quanto a seleção de futebol americano. Novos parceiros estão se juntando à CBFA, como resultado natural do trabalho desenvolvido nos últimos quatro anos.

Por tudo o que já foi realizado e pelo que está sendo planejado para se tornar realidade, a expectativa é bastante positiva. “Não controlamos se vamos ou não ganhar medalha, mas controlamos o tamanho e a qualidade da nossa entrega diária para que isso se torne possível. E nossa dedicação será no nível dos campeões”, diz Kajiwara.

Para Fleury, os objetivos são claros. “Entre os principais desafios, o primeiro é trazer previsibilidade financeira para a CBFA. Não basta apenas buscar recursos, é preciso criar uma plataforma de negócios atrativa para marcas e parceiros, com produtos comerciais robustos e uma visão de longo prazo. Essa previsibilidade é a base para qualquer projeto sólido. Para isso, vamos trabalhar com um planejamento estratégico claro e uma governança moderna, baseada em processos transparentes e prestação de contas constante”, afirma.

Sob sua direção, a estrutura de gestão da CBFA conta com Cesar Grafietti (diretor administrativo e financeiro), Louis Dollabella (responsável pelo jurídico), Ramon Soares (tecnologia da informação), Celson Leonardo (comercial), Filipi Junio (comunicação), Felipe Pereira (relações internacionais) e Geraldo Pedroso (relações institucionais).

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