Síndrome do impostor é comum em ambientes profissionais e afeta especialmente mulheres, minorias e pessoas em cargos de liderança (Getty Images/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 6 de abril de 2025 às 10h00.
*Por Rubens Harb Bollos
Você já se sentiu uma fraude no trabalho, mesmo após reconhecimento? Ou sente que se esforça, mas as promoções nunca chegam? Isto pode ser a síndrome do impostor.
Também conhecida como “fenômeno do impostor”, ganhou atenção em 1978, quando as psicólogas Pauline Rose Clance e Suzanne Imes publicaram o primeiro estudo sobre o tema. Pode surgir de um impulso saudável por excelência, criando um padrão mental em que a pessoa não se sente merecedora de suas conquistas, lutando contra a sensação de ser uma fraude, apesar das evidências de suas realizações.
As causas da síndrome do impostor podem incluir expectativas familiares rigorosas, comparações constantes ou expectativas irreais, sendo um comportamento aprendido na infância e, portanto, reversível. É mais comum entre mulheres e minorias, que enfrentam maior vulnerabilidade devido a desigualdades sociais e ocupacionais.
Além disso, padrões culturais e sociais atuais pressionam as pessoas a atingirem a excelência e a serem valorizadas apenas por resultados excepcionais, confundindo sucesso com perfeccionismo. Isso é observado no mundo corporativo e nos padrões de beleza e riqueza promovidos pela mídia. Em culturas como a japonesa, que enfatizam a melhoria contínua (kaizen), a síndrome do impostor pode ser ainda mais acentuada.
Quem sofre da síndrome do impostor tende a atribuir suas conquistas à sorte ou a fatores externos, em vez de reconhecer suas próprias capacidades. Isso pode resultar em esforços excessivos, mecanismos compensatórios prejudiciais à saúde e insegurança em diversas áreas da vida. O sentimento de inadequação é acompanhado por ansiedade, autocrítica, culpa e o medo constante de ser "desmascarado", com pensamentos como "o que me dá o direito de estar aqui?".
A síndrome do impostor é prevalente em ambientes profissionais, acadêmicos e criativos, afetando especialmente profissionais iniciantes e líderes em posições de alta responsabilidade. Embora não seja oficialmente reconhecida como uma condição psiquiátrica, pode estar relacionada à problemas de saúde mental, como transtornos de ansiedade, depressão, estresse e burnout, impactando significativamente a qualidade de vida.
Esses sentimentos crônicos de autocrítica e insegurança podem prejudicar profundamente a autoconfiança e afetar negativamente a vida social. No trabalho, geram queda de produtividade, procrastinação e dificuldades para entregar resultados, além de isolamento social. Isso pode impedir conquistas profissionais, como promoções, e gerar episódios de pânico em apresentações ou situações públicas, agravando a situação. A autossabotagem também é comum, com a pessoa evitando novos desafios ou oportunidades por medo de falhar ou ser "descoberta" como uma fraude.
Além de impactar a carreira, a síndrome do impostor afeta os relacionamentos afetivos. O medo de ser desmascarado compromete a autoconfiança, dificultando a criação de vínculos autênticos, incluindo os amorosos. Esse medo do julgamento pode levar a pessoa a evitar se expor em reuniões de trabalho, encontros sociais e eventos, o que reduz ainda mais as interações e reforça o sentimento de isolamento.
Cerca de 70% das pessoas experienciam a síndrome do impostor em algum momento da vida, e estudos destacam a importância de abordar o tema devido ao impacto significativo nos indivíduos e na sociedade. É essencial reconhecer os sinais e buscar ajuda profissional, como médicos ou psicólogos, caso a síndrome afete a vida pessoal ou profissional. Profissionais especializados podem identificar condições associadas e recomendar tratamentos, como terapias ou medicação, quando necessário.
Ele começa com a autoconexão. Como nos ensina Carl Jung, neuropsiquiatra suíço e fundador da psicologia analítica: “Quem olha para fora, sonha; quem olha para dentro, acorda.” Esse processo de autoconhecimento e aceitação profunda é essencial para lidar com a insegurança e a dúvida sobre nossas capacidades, construindo uma base sólida de autoconfiança.
A segunda chave é a autenticidade. Em vez de buscar validação externa ou tentar ser algo que não somos, devemos nos aceitar como realmente somos, o que nos permite viver de forma mais plena e verdadeira.
Baseado na minha experiência em mentoria, desenvolvi estratégias práticas para superar a síndrome do impostor, fortalecendo a autoconfiança, a percepção de si mesmo e a relação com as conquistas, além de promover autoaceitação e segurança. A seguir, compartilho 15 estratégias e dicas eficazes para ajudar nesse processo.
A conscientização é o primeiro passo para superá-los. Não os ignore. Dica: quando sentir que não é capaz de realizar uma tarefa, reconheça esse sentimento. Em vez de ignorá-lo, reflita sobre suas habilidades e o que já conquistou para chegar até ali.
Isso fortalece a autoconfiança e a autoestima. Dica: se você se sentir inseguro por não ser bom em uma habilidade específica, aceite-a sem julgamentos, reconhecendo também suas qualidades e o que você já faz bem.
O aprendizado é contínuo e parte do processo. Dica: se não souber uma resposta em uma reunião, veja isso como uma chance de aprender e buscar soluções, em vez de fingir que sabe tudo.
Focar no presente é essencial para reduzir a insegurança e avançar. Dica: se cometeu um erro em uma apresentação anterior, não fique remoendo-o. Concentre-se em como melhorar na próxima oportunidade e aprenda com a experiência.
Isso não diminui seu valor. Dica: se não conseguir resolver algo de imediato, aceite que nem tudo está sob seu controle. Pedir ajuda é sinal de sabedoria, não de fraqueza.
Atividades prazerosas reduzem o estresse e aumentam a autopercepção positiva. Dica: dedique alguns minutos por dia para ler, caminhar ou contemplar a natureza. Isso renovará sua energia e melhorará sua autoestima.
Isso afeta como você se vê e é visto pelos outros. Dica: mesmo inseguro, mantenha a postura ereta e linguagem corporal confiante. Todos já passaram por isso.
Conhecer seus gatilhos facilita o enfrentamento. Dica: ao entender sobre a síndrome identifique padrões de comportamento e pensamento, tornando mais fácil combatê-los com novas estratégias.
Escreva - e revise - sobre seus progressos e realizações para reforçar sua autoconfiança. Dica: no final do dia, anote três vitórias, como concluir uma tarefa difícil ou receber um elogio.
Leia e relembre os elogios e reconhecimentos recebidos para combater a autocrítica. Dica: crie uma pasta digital com mensagens e avaliações positivas e consulte sempre que precisar de motivação.
Identifique pensamentos negativos automáticos e substitua-os por perspectivas mais positivas. Dica: reconheça pensamentos negativos e substitua-os por perspectivas mais positivas. Dica: Quando pensar "não sou bom o suficiente", substitua por "tenho aprendido e crescido com cada experiência".
Celebre pequenas conquistas e exerça a atenção plena. Dica: medite e foque nas qualidades que aprecia em si mesmo e nas conquistas já alcançadas.
Parentes, colegas ou amigos podem ajudar a compartilhar inseguranças e desafios. Dica: converse regularmente com pessoas de confiança que possam oferecer uma nova perspectiva e encorajamento.
Encare o conhecimento como prazer, não apenas para conquistar valor. Dica: Participe de cursos, workshops ou aprenda um idioma. O aprendizado traz também novos encontros e experiências.
Um mentor ou um psicólogo pode ajudar a identificar padrões limitantes e construir estratégias personalizadas para superá-los.
A síndrome do impostor surge quando duvidamos de nossas conquistas e nos sentimos como fraudes. No entanto, ao reconhecermos nosso valor, podemos deixar a autocrítica excessiva de lado e viver com mais confiança e autenticidade. Já pensou no que poderia conquistar se acreditasse totalmente no seu potencial, em vez de duvidar?
Como Nietzsche disse: "É preciso ter o caos dentro de si para gerar uma estrela dançante." Essa metáfora nos lembra que atravessar dificuldades internas pode gerar algo belo e original. Talvez seja hora de celebrar quem você é e o que já conquistou. Entre a dúvida e a clareza, há a transformação. Eu acredito. E você? O convite está feito.