Huawei: anúncio em jornal nos EUA para se defender de acusações (David Becker/Getty Images)
Guilherme Dearo
Publicado em 2 de março de 2019 às 06h00.
Última atualização em 2 de março de 2019 às 06h00.
São Paulo - A gigante chinesa Huawei, que em 2018 conseguiu vender 200 milhões de smartphones, pretende ser líder do segmento até 2020. Atualmente, está em segundo, atrás da Apple, e domina 15% do mercado global. Mas, para atingir esse objetivo, ela vai ter que superar a barreira do mercado norte-americano, avesso aos eletrônicos chineses e cativo do iPhone.
Recentemente, os EUA vem pressionando seus aliados a adotarem medidas contra a Huawei, à sua semelhança. Os governos ocidentais temem que os aparelhos Huawei sejam uma ameaça à privacidade e à segurança nacional. Primeiro, muitos governos temem que Pequim obrigue a empresa a revelar segredos industriais e isso leve a repassar informações de terceiros.
Em segundo lugar, teme-se que o serviço de 5G oferecido pela empresa seja acessado pelo governo chinês, que usa as redes de comunicação da empresa para espionagem. A Huawei não só fabrica celulares, como também a tecnologia das redes de telecomunicações, sendo a maior do mundo nesse segmento. Ela garante que é uma empresa privada e não passa informações ao governo comunista.
Depois dos EUA proibirem a tecnologia de 5G da empresa em seu território, outros países ficaram com um pé atrás e estão reavaliando sua relação com ela, como Japão, Coreia do Sul e Alemanha. Austrália e Nova Zelândia também barraram o 5G chinês.
Diante desse mercado avesso, a Huawei decidiu abrir os cofres para comprar um espaço publicitário de peso e falar diretamente ao povo americano, sem necessidade da aprovação da Casa Branca.
Na quinta-feira (28), a marca chinesa comprou uma página inteira do prestigioso jornal The Wall Street Journal para passar uma mensagem aos americanos. "Não acredite em tudo o que você escuta. Venha nos conhecer", diz a chamada principal do anúncio.
Veja:
https://twitter.com/AdamJanofsky/status/1101141848578506752
A carta aberta é assinada por Chaterine Chen, diretora do conselho da Huawei, e convida a imprensa americana a visitar a empresa e resolver qualquer mal entendido. Importante: confusões essas, segundo ela, criadas pelo governo americano.
"Escrevo a vocês com a esperança que possamos nos entender melhor. Em anos recentes, o governo dos EUA tem criado uma série de inverdades sobre nós", Chen escreve.
O texto elogia os EUA, ao dizer que a empresa se inspirou na paixão americana por tecnologia, inovação e desenvolvimento. Também dá suas credenciais, dizendo que opera em 170 países e provê tecnologia de redes de comunicação para três bilhões de pessoas.
O último capítulo da crise, que deve ter levado a Huawei a entender que uma carta aberta nos EUA era essencial, foi a prisão no Canadá de Meng Wanzhou, filha do fundador bilionário da empresa, Ren Zhengfei. Os EUA a acusa de fraude bancária, lavagem de dinheiro e roubo de segredos tecnológicos.
A prisão levou a uma crise diplomática entre Canadá, EUA e China, gerando represálias. A Huawei diz que as acusações dos EUA têm um objetivo protecionista e que há motivações políticas por trás.