O calendário traz imagens de modelos travestis e transexuais e não revela a identidade delas até a última página (Reprodução/Facebook)
Da Redação
Publicado em 22 de outubro de 2015 às 20h07.
São Paulo - Um trabalho desenvolvido pela agência de publicidade Leo Burnett Tailor Made e indicado ao prêmio do Anuário do Clube de Criação foi considerado preconceituoso e transfóbico.
O projeto The Shemale Calendar, indicado na categoria Design e Marketing Direto, foi desenvolvido para a empresa de autopeças Meritor com o intuito de alertar mecânicos e donos de oficina sobre a compra de peças piratas para carros.
O calendário traz imagens de modelos travestis e transexuais e não revela a identidade delas até a última página, onde está escrita a frase: Se não é original, mais cedo ou mais tarde você sente a diferença.
A analogia feita pela campanha gerou muitas críticas à agência e ao prêmio.
E as críticas não foram poucas:
Parabéns Leo Burnett Tailor Made pela campanha transfóbica. Erraram feio. https://t.co/dFE1bHr8E1
— Mari Brasil™ (@atomitter) 21 outubro 2015
A @LeoBurnett Brasil fazendo campanha transfóbica em pelo 2015. Vocês tão morando dentro de qual caverna, queridos publicitários?
— Bruna G. (@abrunagalvao) 21 outubro 2015
@bicmuller não conhecia a peça da Leo Burnett e o que me deixa mais impressionado é o clube defender como algo genial.
— Rodrigo Madeira (@rodrigomadeira) 21 outubro 2015
No texto publicado pelo Clube de Criação no álbum do anuário no Facebook, o anúncio, que foi feito em 2013 é descrito como uma peça direcionada aos mecânicos, reforçando a importância de usar peças originais Meritor.
Ainda segundo a descrição, a peça é inspirada em uma tradição tendo em vista que os mecânicos têm o costume de pendurar nas paredes de suas oficinas calendários com mulheres em poses sensuais".
E continua: "criamos um calendário especial, estrelado por mulheres lindas. Ao final do calendário, mostramos que aquelas mulheres, na verdade, eram homens travestidos, que são mesmo travestis na vida real.
Após as críticas, Ciça Bernardet, coordenadora de eventos do Clube de Criação, falou com o jornal Extra:
"Essa peça é referente a 2013 e foi julgada em 2014. Foi publicado só esse ano, porque o anuário leva de oito a dez meses para ser produzido [...]. Esse júri definiu que essa peça deveria fazer parte de memória da propaganda e, por isso, ela está no livro. A associação não faz nenhum julgamento de valor sobre as peças. Qualquer pessoa ou agência que inscreva a peça vai ser avaliada pelo júri".
Em entrevista ao BuzzFeed Brasil, o departamento de marketing da unidade brasileira da Meritor, empresa de peças automotivas, afirmou que não tem conhecimento da campanha e que nunca teve contato com a agência, responsável pela peça.
Afirmaram ainda que estão checando internamente o que pode ter acontecido.
Ainda na noite de ontem, quarta-feira (21), Marcelo Reis, copresidente da agência Leo Burnett Tailor Made, enviou um esclarecimento ao Clube de Criação.
Esse calendário foi criado há mais de 2 anos, de forma equivocada, mas sem o intuito de ofender ninguém. Já na primeira semana de distribuição solicitamos para as oficinas que não fosse fixado nas paredes. A peça foi inscrita no festival do Clube de Criação por uma falha nossa. Somos uma empresa que sempre respeitou e apoiou a diversidade. Eu, Marcelo Reis, peço desculpas. Lamentamos o constrangimento causado. Já solicitamos ao Clube de Criação que o trabalho seja retirado do Festival, por não estar alinhado com nosso modo de pensar e agir."