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ANJ diverge da Apple na venda de conteúdo

Entidade não concorda com sistema e também não admite dividir publicidade veiculada em iPads

Judith Brito: "problema não é do equipamento, e sim da loja que comercializa o aplicativo" (Divulgação/Apple)

Judith Brito: "problema não é do equipamento, e sim da loja que comercializa o aplicativo" (Divulgação/Apple)

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Da Redação

Publicado em 25 de março de 2011 às 17h47.

São Paulo -  A era digital traz novos devices para consumo de conteúdos editoriais e entretenimento. A estrela tecnológica do momento é o iPad, que apressou o empresário Rupert Murdoch a lançar o The Daily, o primeiro título para o equipamento desenvolvido pela Apple de Steve Jobs.

Vários jornais e revistas brasileiras já disponilizam suas reportagens e fotos no tablet, mas há controvérsias sobre o controle do cliente. A Apple Store, loja virtual que comercializa os artigos moderninhos da marca da maçã, quer vender diretamente e pagar comissão. Os jornais do país querem o controle total do assinante.

A presidente da ANJ (Associação Nacional de Jornais), a executiva Judith Brito, diz que não "está claro se essas condições são as mesmas para todos, mas, ao que parece, a Apple cobra 30% de comissão sobre todas as transações e não permite a venda, dentro do aplicativo, de outros produtos do veículo".

Sobre a participação da Apple na vendas de publicidade do jornais, Judith foi taxativa: "Não é lógica a tentativa de participação das lojas na veiculação comercial, assim como as bancas de jornais não participam da veiculação de jornais e revistas. Dificilmente um modelo com este vai prevalecer, pois, pragmaticamente, o que um grupo de comunicação cobra por um anúncio é impossível de ser controlado", ela afirmou.

Leia a entrevista concedida por e-mail pela executiva:

Por que a ANJ não concorda com a Apple em relação ao iPad?

A posição da ANJ, e de praticamente todos os produtores de conteúdo no mundo, não se refere ao equipamento físico, ao "tablet" conhecido como iPad. O problema está na loja da Apple, por onde é preciso passar para baixar os aplicativos, gratuitos ou pagos, e também está nas condições impostas por esta loja para a comercialização das edições pagas.


Qual o pomo da discórdia?

Pelo enorme sucesso de vendas do iPad, a Apple se considera capaz de impor condições aos jornais e produtores de conteúdo em geral. Não está claro se essas condições são as mesmas para todos, mas, ao que parece, a Apple cobra 30% de comissão sobre todas as transações e não permite a venda, dentro do aplicativo, de outros produtos do veículo.

Além disso, a Apple exige que o comprador dê uma autorização para que ela repasse ao veículo os dados cadastrais deste mesmo comprador enquanto ela, obviamente, fica de posse destes dados.

Jornais brasileiros e europeus entendem que iPad é uma plataforma de distribuição?

Sem dúvida, o iPad é uma plataforma de distribuição. Junto com as dezenas de "tablets" que estão sendo lançados no mundo, serão utilizados por todos os produtores de conteúdo hoje impressos. A mobilidade que esses aparelhos permitem e sua "interface" amigável com o usuário são seus grandes diferenciais em relação às alternativas existentes.

Essa exigência inviabiliza o relacionamento dos jornais com o equipamento da Apple?

Não inviabiliza, tanto que há muitas opções oferecidas aos usuários. Haverá produtores de conteúdo que irão aceitar as condições da Apple. No entanto,  as grandes marcas mundiais dificilmente aceitarão tais limitações.

A curto prazo, a Apple tem como bancar a queda de braço com os produtores. Mas a concorrência certamente obrigará a empresa a flexibilizar suas condições técnicas e comerciais. Virá a concorrência de “tablets” com outros sistemas operacionais, como o Android e o Windows 7, e o aparecimento de outras lojas.

Veja o lançamento recente da loja da Amazon para dispositivos móveis Android. Isso sem falar das ações judiciais contra a Apple que começam a acontecer em alguns países.


Esse problema atinge outros tablets ou só o iPad?

O problema não é do equipamento, e sim da loja que comercializa o aplicativo. Se um veículo optar por utilizar um "site" ao invés de um aplicativo, ele poderá estar presente no iPad ou em qualquer outro dispositivo móvel sem passar por qualquer loja.

Como deve ser o modelo?

Não haverá um modelo único. Os produtores negociarão com as lojas -  exclusivas de determinado equipamento ou não - as condições mais adequadas para seu caso. Haverá condições diferentes, dependendo de volumes de vendas de edições e assinaturas.

E como fica a questão da publicidade? Como é a divisão entre jornais e iPad?

Não é lógica a tentativa de participação das lojas na veiculação comercial, assim como as bancas de jornais não participam da veiculação de jornais e revistas. Dificilmente um modelo com este vai prevalecer, pois, pragmaticamente, o que um grupo de comunicação cobra por um anúncio é impossível de ser controlado.

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