Alfinetada: em cinco dias, o BK recebeu quatro mil mensagens relativas ao anúncio. (Burger King/Reprodução)
Vanessa Barbosa
Publicado em 8 de maio de 2019 às 11h14.
Última atualização em 8 de maio de 2019 às 15h40.
São Paulo - No dia 14 de abril, o Banco do Brasil (BB) suspendeu uma propaganda que celebrava a diversidade racial e sexual. Em cena, apareciam atores jovens, negros, brancos, tatuados e uma transexual. No ar desde o início de abril, a peça publicitária desagradou o presidente Jair Bolsonaro, que pediu sua retirada do ar e a demissão do diretor de marketing do BB, Delano Valentim. Assim foi feito. Segundo Bolsonaro, as mudanças no BB ocorreram porque "a massa quer respeito à família" e porque "dinheiro público não pode ser usado dessa maneira".
Nem todo mundo pensa como o presidente. Sempre atento a oportunidades para se posicionar, o Burger King publicou em seus perfis nas redes sociais um anúncio de seleção de elenco para uma suposta campanha publicitária. A marca impôs apenas uma condição: para concorrer às vagas, os candidatos teriam que ter "participado de um comercial de banco que tenha sido vetado e censurado nas últimas semanas".
O anúncio diz ainda que no "BK, todo mundo é bem-vindo. Mesmo que não seja bem-vindo em outro comercial", numa clara alfinetada no governo. Um e-mail de contato é disponibilizado no anúncio. Resultado? A empresa recebeu uma "avalanche" de reações, a maioria delas positivas.
Em cinco dias, o Burger King recebeu quatro mil mensagens relativas ao anúncio, que vai virar campanha em breve. As inscrições podem ser feitas até sexta-feira (10).
Os R$ 20 mil reais investidos na campanha retornaram 800 milhões de impressões de marca [número de vezes que determinado anúncio foi “apresentado” para um usuário] por compartilhamentos via rede social.
Críticos da ação promoveram a hashtag #BoicoteaoBurgerKing, que se tornou um dos trending topics do Twitter no último final de semana passado. Segundo Ariel Grunkraut, diretor de marketing e vendas do Burger King Brasil, "a grande maioria entendeu a nossa campanha e se mostrou favorável ao nosso posicionamento".
Em entrevista ao site EXAME, Grunkraut destacou que o "BK é uma marca que reforça sempre o seu posicionamento, onde todos são bem-vindos, em todas suas comunicações" e que "por ser uma empresa inserida profundamente nos países onde atua, entendemos que é nosso papel ser uma antena da sociedade e trazer reflexões aos nossos consumidores".
O executivo lembra que a diversidade é um tema presente na comunicação da rede. "Em março, por exemplo, abordamos o tema do Poliamor, onde colocamos um trisal em comercial na TV, e em 2018 tivemos campanhas como Saiba a Diferença, ue mostrava a diferença entre opinião e preconceito – reforçando que opinião é sempre bem-vindo e preconceito não. Também já fizemos campanha contra o bullying e fomos a primeira a marca a trazer uma DragQueen para um filme na TV e patrocinamos a Parada LGBT em 2018".
A marca de fast-food não está sozinha nessa cruzada. Cada vez mais empresas despertam para o poder que a diversidade traz para os negócios. E o Brasil é terreno fértil para fazer esse trabalho. Nove em cada dez profissionais de marketing acreditam que campanhas que promovem a diversidade podem aumentar a reputação de uma marca.
Mas o que os brasileiros pensam disso? Oito em cada dez acreditam que uma comunicação com diversidade mostra que a marca respeita as pessoas e suas diferenças, enquanto para para 67%, tratar desse tema no marketing ajuda a romper com barreiras e preconceitos.