Cordilheira do Ushuaia: corrida de 33 km desafiou corpo e mente no fim do mundo. (Envato)
Colunista
Publicado em 8 de abril de 2025 às 14h00.
Este mês, fiz minha primeira prova de montanha. Corri 33 quilômetros subindo e descendo a cordilheira no Ushuaia, o fim do mundo em todos os sentidos. Frio, altitude, silêncio, solidão. Internamente, porém, aquela voz que tanto nos atrapalha estava lá, insistindo em prever o pior, mesmo sem motivo. E venci. Não só por terminar a prova, mas, principalmente, por conseguir silenciar novamente essa voz.
Essa voz é a mesma que, no trabalho (e também na vida pessoal), muitas vezes se disfarça de hipervigilância ou excesso de controle, mas que, na essência, é só medo. Na trilha, não dá pra fingir controle. Você aprende rápido que a natureza lidera. Que seu relógio não manda no tempo. E que sua força está menos nos músculos e mais na mente.
É impressionante como deixamos de sentir o físico e entramos somente no flow.
Correr é um exercício de presença.
De escuta interna.
De adaptação.
Cada subida lá exigiu leitura de contexto. Cada descida, confiança e muita força... ou, como bem disse um grande amigo, “a subida cansa e a descida machuca” (e como isso vale para a vida, não?). Distância ajuda a enxergar melhor.
Voltei diferente. Mais centrado. Mais leve.
E com uma clareza que só o silêncio traz: força não está com os que gritam mais alto, mas com aqueles que sustentam o passo mesmo quando tudo ao redor é incerteza.
No fim do mundo, venci um tipo de batalha que não está num pódio.
E isso, para mim, é a vitória.