O “Valor do Cliente ao Longo do Tempo” é uma métrica crucial para quem deseja entender o valor financeiro total que cada cliente traz para o negócio, (wutwhanfoto/Thinkstock)
Colunista
Publicado em 9 de outubro de 2024 às 09h00.
Há dois conceitos que qualquer empresária ou empresário deve conhecer, sem importar o tamanho do seu faturamento:
1) O Valor do Cliente ao Longo do Tempo, ou LTV (Lifetime Value); e o
2) Lucro unitário do produto ou serviço (Unit Economics).
Entendidos e calculados em conjunto, eles podem direcionar grande parte dos seus esforços para aumentar os seus lucros, hoje e no futuro.
O Conceito de Valor do Cliente ao Longo do Tempo para Empreendedores de menor porte
O “Valor do Cliente ao Longo do Tempo” é uma métrica crucial para quem deseja entender o valor financeiro total que cada cliente traz para o negócio, durante toda a sua relação com a empresa. Essa métrica ajuda a prever a receita futura de um cliente e, assim, determinar quanto vale a pena investir para adquirir e manter cada um deles.
A fórmula geral para calcular o LTV pode ser resumida assim:
Essa fórmula pode ser ajustada dependendo do tipo de negócio, mas, em geral, ela fornece uma boa base para entender o valor de cada cliente ao longo do tempo, como por exemplo:
Vou utilizar outros exemplos, um pouco mais elaborados, para que você avalie a aplicação do conceito para o seu negócio, além de conhecer algumas decisões possíveis.
Tenho uma empresa que presta serviços de manutenção (hidráulica, elétrica, limpeza) para residências:
Que decisões você pode tomar com essa informação: se algum dos seus técnicos tem que fazer uma visita adicional para um dos clientes porque ele não estava em casa quando prometeu, você deve cobrar ou não essa visita?
O que acredito: se esse cliente contrata esses serviços há mais de 2 anos, e é a primeira vez que te deixa esperando, vale a pena pensar se os R$80 a mais cobrados pela visita irão arriscar os R$1.500 que ele ainda poderá pagar a você.
Tenho uma empresa que oferece cuidadores a domicílio para clientes idosos ou em recuperação cirúrgica:
Que decisões você pode tomar com essa informação: se você tem apenas um cuidador disponível no momento e 2 clientes necessitando, um para um idoso (cobro R$ 200 por semana) e outro para recuperação cirúrgica (cobro R$400 por semana), a quem deve oferecer o cuidador?
O que acredito: como vimos, o valor no tempo dos cuidados a um idoso pode levar a uma receita de R$20.800, se seguir o prazo médio. Ainda que a recuperação cirúrgica pague o dobro por semana, você precisaria manter esse paciente por 1 ano para ter a mesma receita. Se a cirurgia for simples, com prazo de recuperação de 3 meses, fica claro que atender ao idoso pode ser melhor.
Tenho uma papelaria ou mercearia de bairro onde os clientes compram produtos regularmente:
Que decisões você pode tomar com essa informação: avaliando o gasto médio das clientes, você pode deduzir que elas não gastam apenas R$ 100 por mês, em alimentos, bebidas ou artigos de limpeza para casa, portanto também compram esses produtos em outras lojas. O que deve fazer: aumentar a frequência das visitas (2 vezes por mês) ou o valor comprado a cada vez (média de R$ 50)?
O que acredito: fazer as pessoas saírem mais vezes de casa pode ser um problema, porém se você realizar um programa com elas que, ao atingir determinado valor por compra (exemplo R$ 75), você faz a entrega no domicílio, pode atacar os 2 elementos ao mesmo tempo – gerar mais gasto por cada compra e gerar uma compra de maior valor a cada vez.
No entanto, no início do texto comentei que há outro conceito igualmente fundamental: Lucro unitário do Produto ou Serviço.
O Conceito de Lucro Unitário do Produto ou Serviço para Empreendedores de menor porte
Refere-se aos custos e receitas associados a uma unidade vendida no seu negócio, ou seja, essa métrica ajuda a calcular o lucro ou prejuízo gerado por cada transação (produto fabricado, mercadoria vendida ou serviço prestado).
A combinação da métrica “Lucro Unitário” com o “Valor ao Longo do Tempo” é extremamente poderosa para ajudar em suas decisões diárias, além das discussões mais estratégicas.
Vamos imaginar alguns cenários para tornar as suas decisões ainda mais lucrativas.
Imagine que o custo que você paga para o prestador de serviço subcontratado é de R$ 50 por hora, fixo. No entanto, o conserto de uma geladeira demora em média 30 minutos, enquanto a revisão de um vazamento dura em média 90 minutos.
Que decisões você pode tomar com essa informação: vale a pena cobrar o mesmo valor para todos os serviços? Ou você deveria cobrar pelas horas que o prestador ficou na casa do cliente?
O que acredito: pagar um serviço por hora pode levar a que alguns prestadores trabalhem um pouco mais lentos do que o cliente gostaria, afetando a satisfação deles com o seu serviço no longo prazo (e o valor desse cliente ao longo do tempo). Usar a sua experiência para propor 2 ou 3 preços “pré-definidos”, em função da duração média de atendimentos passados pode ser uma solução que sirva para todos e não estimule um mau comportamento.
Imagine que, apesar do preço do “atendimento pós-cirurgia” ser o dobro do outro (R$ 400 neste, versus R$ 200 no “atendimento a idosos”), o valor que você paga ao cuidador seja o mesmo (R$ 100). Você, então, teria uma receita 2 vezes maior (R$ 400 vs R$ 200), porém um lucro 3 vezes maior:
Que decisões você pode tomar com essa informação: é imprescindível fazer o cálculo de “Valor do Cliente ao Longo do Tempo” utilizando não o preço do serviço, mas o “Lucro Unitário do Produto ou Serviço”.
O que acredito: ainda que seja sedutor vender muito para alguns clientes, o que paga as contas efetivamente é o lucro. O empreendedor precisa valorizar grandes clientes, com toda a certeza, mas avaliar cuidadosamente se eles irão trazer prosperidade, ou um problema para o caixa da empresa, ao longo do tempo de relacionamento.
Neste negócio, a definição da “margem” sobre o valor de compra do produto é a grande questão.
Imagine que a sua loja está em frente a uma drogaria e que você, para não passar a imagem de ser “uma lojinha cara”, abaixa a margem de todos os itens de higiene e beleza. No entanto, você começa a perceber que, nas compras do dia a dia, as pessoas colocam poucos itens de higiene e beleza, mas que ao mesmo tempo, há pessoas que perceberam esse movimento e vão à sua loja apenas para comprar essa categoria.
O quanto esse comportamento dos compradores destrói a sua margem? Não seria melhor ter menos produtos de higiene e beleza na sua loja, aumentando o espaço da gôndola para outras categorias com menor concorrência?
Que tal aplicar isso amanhã? Seguem 5 dicas práticas para começar a usar os conceitos do Lucro Unitário e do Valor ao Longo do Tempo: