Empresa B é uma avaliação que verifica se o negócio tem um propósito maior do que o lucro, (andreswd/Getty Images)
Colunista
Publicado em 25 de outubro de 2024 às 14h00.
Não há dúvidas de que os compromissos ambientais e sociais estão no radar dos consumidores. Mais da metade dos entrevistados para a elaboração do Índice do Setor de Sustentabilidade 2023 da Kantar afirmou que deixariam de comprar produtos de marcas que não investem em sustentabilidade ou que possuem práticas nocivas ao meio ambiente e à sociedade. O estudo foi conduzido nos 33 países onde a Kantar está presente.
No Brasil, 63% das pessoas consultadas afirmaram buscar marcas com um histórico robusto de boas práticas sociais, ambientais e de governança corporativa (ESG).
Considerando dados como esses, não é exagero afirmar que os negócios que buscam perenidade precisam ter estratégias de ESG sólidas. Devemos nos lembrar de que, no contexto atual, as organizações não devem almejar apenas o lucro pelo lucro. O capitalismo de stakeholder, afinal, pressupõe a criação de valor sustentável e compartilhado, voltado não apenas aos acionistas, mas a todos os que integram a empresa, como clientes, fornecedores, comunidades locais e a própria sociedade.
Diante desse cenário, surge a certificação Empresa B como um indicativo de compromisso autêntico com a sustentabilidade. O conceito foi desenvolvido pelo B Lab, uma organização sem fins lucrativos fundada em 2006 na América do Norte, com o objetivo de redefinir o que se considerava sucesso empresarial, indo além do êxito financeiro e levando em conta também o bem-estar da sociedade e do planeta. Rapidamente, o Movimento B se espalhou por diversas partes do mundo, sendo representado pelo Sistema B no Brasil.
Para os consumidores que querem ter certeza de que as empresas das quais adquirem produtos ou serviços estão verdadeiramente comprometidas com a sustentabilidade – como é amplamente reconhecido, o greenwashing é uma prática corriqueira, por mais condenável que seja –, um indicativo interessante a ser observado é o reconhecimento como Empresa B.
A certificação possui uma abordagem holística, avaliando como uma empresa impacta positivamente todos os seus stakeholders – e o próprio meio ambiente é tratado como parte interessada.
Em resumo, Empresa B é uma avaliação que verifica se o negócio tem um propósito maior do que o lucro, equilibrando ganhos financeiros com desempenho social e ambiental, transparência e responsabilidade.
O processo é minucioso e pode durar de 6 a 24 meses, dependendo do tamanho e da complexidade da empresa. As companhias são avaliadas por meio de um questionário composto por 200 perguntas, abrangendo diversos temas, desde o número de mulheres em posições de liderança até multas recebidas pela empresa.
Embora cada pergunta contribua inicialmente com um ponto para a pontuação total, a importância de cada uma é ponderada de acordo com seu impacto nos princípios de sustentabilidade da empresa. Assim, certas questões podem ter um peso maior na avaliação final, refletindo a relevância estratégica de certos temas para a sustentabilidade corporativa.
Esse sistema de pontuação diferenciada assegura que os aspectos mais críticos para a responsabilidade social e ambiental recebam a devida ênfase na certificação.
São analisadas cinco áreas principais: governança, trabalhadores, comunidade, meio ambiente e clientes. Para avançar no processo, a organização precisa somar pelo menos 80 pontos, podendo tentar novamente caso não consiga de primeira – o Sistema B sugere melhorias.
Além disso, é necessário comprovar, por meio de dados e documentos, a veracidade das respostas fornecidas no questionário, uma vez que o compromisso com a transparência é um componente fundamental da certificação. A certificação deve ser renovada a cada dois anos.
Vale reforçar que a certificação de Empresa B possui um forte foco nos stakeholders, ou seja, todas as partes afetadas pelas operações da empresa, pois esse reconhecimento incentiva os negócios a considerarem os impactos mais amplos de suas ações.
Diferentemente das certificações gerais de ESG, que visam mais a fornecer uma medida dos riscos e oportunidades associados à sustentabilidade de uma empresa – principalmente para informar investidores e outras partes interessadas sobre o impacto financeiro potencial dessas práticas –, o selo do Sistema B incentiva as empresas a equilibrarem o propósito com o lucro, utilizando os negócios como uma força para o bem. Assim, movimenta-se a economia enquanto se promovem valores humanos.