Educadores e gestores educacionais desempenham um papel crucial guiando os alunos em suas jornadas de aprendizagem ao explorar a IA. ( FamilyStock/Envato)
Colunista
Publicado em 30 de agosto de 2024 às 11h00.
Com o surgimento do ChatGPT, intensificaram-se os debates sobre a aplicação de soluções de IA (Inteligência Artificial) na educação. Mais do que discutir o uso ideal por educadores, gestores e criadores de conteúdo, é crucial analisar a adoção dessas ferramentas pelos estudantes. Para isso, devemos considerar fatores como faixa etária e o modelo de ensino adotado por cada instituição, buscando um equilíbrio entre inovação tecnológica e eficácia pedagógica.
Como gestor, considero ineficaz reprimir o uso de soluções de IA por estudantes, tanto no ensino fundamental e médio quanto nas universidades e faculdades; indo além, adotar uma postura restritiva pode ser contraproducente e, em alguns casos, gerar respostas combativas. Afinal, quando bem utilizadas e com critérios éticos claros, ferramentas de IA têm o potencial de se tornarem verdadeiros recursos aliados no processo educacional.
Para executar essa visão, é fundamental estabelecer diretrizes para entender como usar essas ferramentas, em quais contextos e medidas e, tão importante quanto, quais são seus limites. Nesse aspecto, educadores e gestores educacionais desempenham um papel crucial guiando os alunos em suas jornadas de aprendizagem ao explorar a IA para otimizar tarefas mais operacionais, liberando tempo adicional para atividades intelectuais e pedagógicas essenciais.
A ideia de que a ascensão da IA é contrária ao papel do educador – cuja principal missão é desenvolver indivíduos críticos e reflexivos – reflete um pensamento ultrapassado e que vai contra o fluxo de um movimento global cada vez mais preocupado com a aplicação ética e responsável da IA.
Nesse sentido, todas as áreas passarão por adaptações e transformações significativas à medida que a IA evolui e se integra cada vez mais no cotidiano, e a educação não é exceção. Contudo, é imprudente adotar uma mentalidade de "tudo é possível"; neste período de transição, é crucial estabelecer critérios, normas e diretrizes para garantir que essa tecnologia facilitadora contribua de maneira realmente construtiva.
Estudos recentes corroboram minhas percepções, tanto como executivo quanto como usuário dessas soluções. A pesquisa "Perfil e Desafios dos Professores da Educação Básica no Brasil", divulgada pelo Instituto Semesp em maio, entrevistou 444 docentes de redes pública e privada em todas as regiões do país. Destes, 74,8% concordam, parcial ou integralmente, com a adoção da IA e outras tecnologias na sala de aula.
Uma realidade semelhante foi identificada por uma pesquisa conduzida pela Chegg através de seu braço sem fins lucrativos. Os dados analisados mostram que 52% dos universitários brasileiros – dentre 1.010 entrevistados – utilizam IA em seus estudos.
Entre as principais justificativas, os estudantes de ensino superior no Brasil que adotam essa abordagem listam três benefícios: ganho de tempo, aprendizado ágil e maior criatividade no ensino. São exatamente esses pontos, empiricamente destacados por esse público, que favorecem a perspectiva de uma educação verdadeiramente integrada à IA, desde que realizada de forma ética e responsável, beneficiando tanto educadores quanto alunos de todos os níveis de ensino.
O desafio, agora, é proporcionar recursos para que essa visão seja executada de forma abrangente, promovendo o acesso democratizado dos benefícios da IA na educação a todas as camadas da população brasileira.