(Morsa Images/Getty Images)
Colunista
Publicado em 18 de maio de 2023 às 08h00.
Eu tenho um enorme receio dos mitos, ídolos e grandes gurus empresariais que vamos colocando num pedestal, seguimos, lemos os livros e achamos que replicando algumas dicas que compartilharam vamos replicar o sucesso deles, e criar mais um unicórnio. No mundo das startups essa dinâmica tem ganhado proporções gigantescas.
A narrativa da nova economia versus a velha economia está fazendo um desserviço a muitas ideias excelentes, as levando por um caminho fictício, acabando no fracasso por tentar replicar a mesma fórmula de sucesso dos outros.
Antes de aprofundar no mundo das startups eu também estava pronta a mudar e reformular os meus princípios, falhar rápido, escalar, pivotar, acelerar, exponencializar…viraram parte do meu vocabulário e pensamento.
Aí comecei a mentorar muitas startups, e comecei a perceber um padrão interessante, a maior parte delas estava com problemas por ter ignorado os princípios básicos de gestão, cultura, lucratividade, diferenciação, consistência, execução, em prol da famosa “hype” da nova economia. Eu me lembrei muito do boom da internet em 2000 quantos sonhos que foram parar no lixo.
Os conceitos que os nossos queridos gurus nos ensinam são simplesmente isso, algumas ideias compartilhadas, experiências, descobertas individuais inseridas num contexto, com pessoas e condições específicas. Aí nós vamos e achamos que é só fazer copiar e colar e vamos conseguir o mesmo resultado.
Só que no ímpeto de aprender o novo, esquecemos que tem bases e princípios que não mudam. As empresas continuam sendo feitas de pessoas, mesmo as de tecnologia. Precisamos gerar lucro para sermos viáveis, termos clareza de onde queremos chegar, nosso diferencial, vantagem competitiva, nosso propósito. É aqui que vejo a maior parte das lacunas, cada vez que ouço agora “estamos pivotando pela terceira vez”, sinto um arrepio, lá vamos nós, mais uma turma perdida no espaço, e começa a missão de aterrissagem de volta para a Terra.
Parece que quanto mais inovador o time mais aversão a tudo o que é gestão, tenho sentido isso particularmente nas startups de impacto, onde tem um receio de ser visto como empresário, como se isso fosse incompatível com fazer o bem. Querendo mudar o mundo podemos esquecer que o primeiro lugar para mudar é a nossa casa.
Parece-me que o caminho do meio vai ser a solução, integrar as duas economias e voltar aos princípios básicos para dar uma bela chance de sucesso às nossas startups, menos hype, mais gestão e liderança.