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Empresas familiares e ESG: o desafio de construir confiança

Apesar da solidez e confiança emprestada pelo processo de sucessão e conselhos fortes, a falta de um plano ESG claro afeta a relação com os stakeholders

Empresas familiares precisam se atentar para  planos ESG eficientes (Anna Fomenko/Getty Images)

Empresas familiares precisam se atentar para planos ESG eficientes (Anna Fomenko/Getty Images)

Enrico Milani
Enrico Milani

Colunista

Publicado em 31 de outubro de 2023 às 12h00.

Última atualização em 1 de novembro de 2023 às 15h02.

Empresas familiares desempenham um papel vital na economia brasileira. Elas, muitas vezes, são conhecidas por sua tradição, estabilidade e valores enraizados em gerações de líderes. No entanto, os tempos estão mudando, e um estudo recente revela que essas companhias podem estar ficando para trás em um aspecto essencial: o foco nas questões ESG (ambientais, sociais e de governança).

A Pesquisa de Empresas Familiares de 2023 da PwC, realizada em colaboração com a FBN (Family Business Network International), trouxe à tona uma desconexão preocupante: enquanto a confiança tem sido historicamente um trunfo para empresas familiares, o foco insuficiente em questões ESG e de diversidade pode afetar sua capacidade de construir e manter essa relação com stakeholders em geral.

Mas o que, de fato, está em jogo? Nos últimos anos, questões ESG se tornaram um ponto crucial. Cada uma das dimensões expressas na sigla representa aspectos críticos para a sustentabilidade e responsabilidade corporativa. Dessa forma, não se trata mais de algo opcional e pesquisas como a da PwC reforçam que organizações com fortes princípios ESG tendem a ser mais resilientes.

Os dados apontam que apenas 16% das empresas familiares brasileiras se consideram “muito avançadas” em relação a uma estratégia ESG clara. Ainda segundo o levantamento, apenas 20% delas priorizam minimizar o impacto ambiental, enquanto somente 5% priorizam reduzir a pegada de carbono nos próximos anos. São números mais baixos do que a média global, sugerindo que, por aqui, estamos olhando com menor atenção para essas questões.

E quando falamos de diversidade e inclusão, também deixamos a desejar: apenas 22% de nossas companhias têm uma declaração de propósito clara relacionada à DEI (Diversidade e Inclusão), em comparação com 27% na Europa e 18% nos Estados Unidos – o que indica um descompasso entre as prioridades das empresas familiares e as demandas cada vez mais presentes na sociedade contemporânea.

Por isso, a falta de uma estratégia clara nessas áreas pode afetar a capacidade das empresas familiares de construir confiança com seus principais stakeholders. Uma situação preocupante, considerando que a pesquisa da PwC também demonstrou uma forte correlação entre confiança e lucratividade: empresas que desfrutam de níveis mais altos de confiança tendem a ter melhor desempenho financeiro.

Mas embora os números despertem um alerta, é preciso dar os primeiros passos. Por aqui, iniciamos adotando uma abordagem sólida em nosso parque fabril, minimizando a geração de resíduos e a reutilização e reciclagem de materiais. Buscamos com afinco a certificação “Aterro Zero”, processo que garantiu que todos os resíduos gerados fossem encaminhados para reaproveitamento ou tratamento, reduzindo significativamente os custos de destino em aterros sanitários.

Isso, por sua vez, também permitiu reinvestir os recursos economizados para aprimorar práticas de governança voltadas para a sustentabilidade e o impacto social positivo.

Adaptar-se às expectativas em constante evolução dos clientes e funcionários, especialmente aqueles das gerações mais jovens, como os millennials e a Geração Z, é essencial para empresas familiares: estamos, afinal, diante de um público com perspectivas diferentes e em constante evolução, que prioriza questões ESG e de DEI. Não podemos perder a oportunidade de caminhar lado a lado com eles.

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