Conselheiro digital: seu papel é entender a relação entre os impactos que a visão, o mercado e o talento têm sobre o negócio. (Busakorn Pongparnit/Getty Images)
Colunista
Publicado em 2 de abril de 2024 às 09h10.
A evolução na composição dos conselhos de administração no Brasil tem avançado gradualmente, passando de um grupo inicial de amigos e familiares, para embaixadores e ex-ministros, até chegar aos executivos comprovados que já ocuparam cargos de gestão.
No entanto, uma certeza é que, de cada 10 posições de conselheiros contratadas por nós, 6 são ocupadas por mulheres, devido à busca acentuada por diversidade, 2,2 por perfis digitais e apenas 1,8 para os demais. Por isso, muitos executivos interessados em conselho estão buscando a certificação digital como uma alternativa viável.
A era digital transformou completamente a maneira como os negócios são gerenciados, a governança é realizada, a segurança é abordada e a liderança é exercida nas empresas. Atualmente, é essencial que um conselheiro não fique alheio a essas mudanças e assuma uma postura ativa, sendo capaz não apenas de compreender o contexto digital, mas também de fazer as perguntas certas e ajudar a empresa a planejar sua gestão e governança futuras.
Além disso, é fundamental que o conselheiro antecipe os impactos que a digitalização pode ter no risco do negócio e da empresa, na cultura organizacional e na atração e retenção de talentos.
Recentemente, estabelecemos uma parceria com a ISDI, a escola de negócios digitais da Espanha, para participar de um programa de certificação de conselheiros digitais. Nesse programa, buscamos compreender como temas tão relevantes como nuvem, segurança cibernética e inteligência artificial, entre outros, impactam os negócios e qual é o papel do conselheiro em auxiliar a empresa a navegar nesse novo cenário. Através dessa aliança, buscamos aprimorar nossas habilidades e conhecimentos para lidar com as transformações digitais que estão ocorrendo no mundo dos negócios.
Tudo começa com o entendimento do modelo de gestão do conselheiro digital. O papel do conselheiro é compreender a correlação entre os impactos que a visão, o mercado e o talento têm sobre o negócio e, a partir daí, entender como gerar, transformar, capturar e entregar valor.
Para isso, é fundamental fazer as perguntas certas, buscar alinhamento no conselho e no time executivo e acompanhar de perto a execução das ações necessárias. O conselheiro digital deve estar sempre atento às mudanças e tendências do mercado, bem como às transformações digitais que estão ocorrendo no mundo dos negócios, para poder auxiliar a empresa a navegar nesse novo cenário de forma estratégica e eficiente.
Toda empresa inevitavelmente passará pela transformação digital. Os clientes não se contentam mais com marcas confiáveis, canais tradicionais de comunicação, recomendações boca a boca ou limitações geográficas. A tecnologia não deve ser vista como uma barreira e os contratos com colaboradores não devem ser puramente transacionais. A empresa não existe apenas para ser otimizada. A estabilidade é coisa do passado. Neste novo mundo, os clientes são impacientes e exigem cada vez mais personalização.
Os canais são omnichannel e a publicidade é feita por meio de recomendações nas redes sociais. As marcas são voláteis e os mercados são globais. A tecnologia deve ser vista como um impulsionador de negócios. As empresas devem ser ágeis e flexíveis. Os contratos com colaboradores devem ser baseados em uma equação de valor e a aprendizagem contínua deve ser sempre incentivada
O conselheiro digital é fundamental para definir o que realmente significa a transformação digital para a sua empresa. Ele deve explicar e entender a ambição da mudança ao comitê executivo, identificar as alavancas de valor e ajudar no desenho das métricas para medir o sucesso. A empresa só pode sobreviver se entender e servir bem seu consumidor, que agora é digital, com novos hábitos, tendências de consumo e abordado por novos competidores.
Nesse sentido, o marketing digital deve ser um novo modelo de entrada e buscar novas tecnologias facilitadoras. Os dados são o principal ativo de negócio e sua importância, como geri-los, estruturá-los e analisá-los para a tomada de decisões, passa a ser crucial. Se a primeira onda da internet era da leitura e a segunda foi da participação social, a terceira que estamos vivendo é a que lê, escreve, escuta e executa.
No próximo ano, 75% dos profissionais de mercado serão millennials, criados nesse ambiente de múltiplas escolhas. Em 2050, 1/3 da população mundial terá mais de 65 anos, onde estará o dinheiro a ser buscado pelas marcas. Com isso, o conselho precisa equilibrar o foco nos números com os consumidores e o mercado, o curto com o médio e longo prazos, e como melhorar o serviço e a experiência que entrega para seus clientes. A pergunta a ser feita é: qual é o papel que teremos no ecossistema em que estamos envolvidos?
A utilização da Inteligência Artificial como ferramenta de negócios está diretamente relacionada à produtividade. Estudos apontam que a IA pode contribuir com 3,3% do PIB mundial, o que representa cerca de USD 25 bilhões em aumento de produtividade. Mas por que a IA só explodiu agora, se foi apresentada pela primeira vez no final dos anos 50? A resposta está na abundância de dados, no poder de computação massiva e nos modelos e algoritmos mais avançados.
Com a facilidade de compra de capacidade de processamento e o aumento de engenheiros capazes de modelar, é possível prever que o grande vencedor dessa corrida será o proprietário dos dados, já que eles são o principal ativo para que as máquinas aprendam de forma generativa.
O conselheiro digital deve ter conhecimento sobre as arquiteturas tecnológicas e saber como utilizar a tecnologia para conectar ambientes financeiros, de produção, distribuição e gestão de consumo. Atualmente, estar na nuvem não é mais uma opção, mas sim uma necessidade.
É importante analisar os custos e a segurança, mas de forma geral, as organizações estarão em três níveis de serviço: IaaS (infraestrutura como serviço), que é a camada de hardware para servidores e infraestrutura; PaaS (plataforma como serviço), que atende mais aos programadores para desenvolverem suas aplicações sobre a base de IaaS; e finalmente, SaaS (software como serviço), para os usuários finais (Office 365, Google Docs, CRM, etc).
Existem diferentes opções entre comprar ou desenvolver internamente, usar ou não empresas para financiar e pagar por uso, entre outras. É fundamental que o conselheiro digital esteja atualizado sobre as tecnologias disponíveis e saiba como aplicá-las para melhorar a eficiência e a produtividade da empresa.
A cibersegurança é uma realidade cada vez mais importante para as empresas. Como guardiões dos valores e da cultura da organização, o conselho deve garantir que existam barreiras robustas contra ataques cibernéticos e fornecer as chaves para uma boa segurança da informática.
É crucial entender quão vulnerável a empresa pode estar e qual plano de proteção é mais adequado: preventivo ou corretivo? Além disso, é importante identificar o que deve ser protegido: infraestrutura, aplicações e/ou informações. Em caso de identificação de uma brecha, é necessário ter um plano de ação claro e eficiente.
O conselho precisa estar também atento e atualizado sobre as novas metodologias de trabalho na era digital, incluindo modelos enxutos e ágeis e tecnologias facilitadoras para a gestão de equipes mais eficientes.
Através do comitê de pessoas, é papel do conselho ajudar na mudança de cultura e mentalidade para uma nova era, onde as empresas terão que lutar mais para atrair, reter e desenvolver talentos. Para isso, é importante fazer uso não só de instalações e ativos físicos, mas também de aspectos intangíveis ao trabalhar com uma força de trabalho em parte remota e possivelmente conviver com novos modelos de empregabilidade compartilhada.