Líderes Extraordinários

A empresa não vem em primeiro lugar - e as novas gerações já entenderam isso

Danilo Nogueira fala sobre liderança, diferenças entre gerações, o impacto das novas tecnologias e a importância do equilíbrio entre carreira e vida pessoal

Carreira e indivíduo não se separam; o desequilíbrio em um reflete no outro, cobrando seu preço mais cedo ou mais tarde. (John Lamb/Getty Images)

Carreira e indivíduo não se separam; o desequilíbrio em um reflete no outro, cobrando seu preço mais cedo ou mais tarde. (John Lamb/Getty Images)

Publicado em 13 de dezembro de 2024 às 11h00.

No próximo mês, completo trinta anos de carreira. Desde o meu primeiro emprego, o valor era dado ao chefe que chegava primeiro e saía por último. Aos diretores que jamais tiravam trinta dias de férias ao ano. Ao gestor que respondia e-mails fora do horário de trabalho e aos que sacrificavam finais de semana para “dar conta do recado” e “dar o exemplo”. Mas, o problema é que carreira e indivíduo não se separam; o desequilíbrio em um reflete no outro, cobrando seu preço mais cedo ou mais tarde. As novas gerações entenderam isso, enquanto a minha ainda resiste em mudar.

Crescemos em uma época em que executivos e empreendedores sacrificavam saúde e família em nome de performance a curto e médio prazo. Não se falava de saúde mental, de burnout ou de assédio moral. Focávamos na entrega e na performance acima de tudo, acreditando que a competitividade dos negócios e do indivíduo vinha do sacrifício pessoal. Era comum pensar que, para prosperar, era preciso trabalhar mais horas do que os concorrentes.

Recentemente, ouvi o relato de um ex-CEO que falava com arrependimento e um certo orgulho disfarçado sobre como construiu sua carreira com muitas horas extras e pouco tempo para a família: “Mas, no pouco tempo que eu tinha para meus filhos, eu estava lá para eles”. Essa narrativa, que tenta justificar o injustificável, reforça que o sucesso exige sacrifício de todo o resto. Liderança é sobre exemplo, e ainda é difícil para muitos de nós admitir que erramos, perpetuando sinais equivocados para milhões de profissionais.

Dados do SUS (Sistema Único de Saúde) indicam que, entre 2010 e 2020, foram registrados 126.001 óbitos atribuídos a transtornos mentais no Brasil. Números mais recentes mostram que o período pós-COVID agravou a situação. Em 2023, o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) concedeu 288.865 benefícios por incapacidade devido a disfunções cerebrais e comportamentais, um aumento de 38% em relação ao ano anterior. E imagina-se que ainda exista muita subnotificação, pois o tema é tabu em muitas empresas.

Assistimos a uma explosão de casos de desequilíbrio na vida dos colaboradores enquanto a tecnologia oferece ferramentas poderosas para ganho de produtividade. Saímos do fax para o celular, do presencial para o híbrido, do telefone fixo para a IA (Inteligência Artificial). Mas, esse ganho exponencial de produtividade não foi aproveitado para reduzir o excesso de horas trabalhadas e tornar o trabalho mais saudável.

Alguns céticos dizem que o “trabalho duro” saiu de moda e que esta geração não gosta de “pegar pesado” como se fazia no passado. É um preconceito e uma visão ultrapassada de liderança. Em todas as gerações, encontramos pessoas comprometidas e outras, não. Engajadas e desconectadas. Ambiciosas e indiferentes. E eu, como líder, busco desenvolver e inspirar aqueles que querem crescer, ter ambição e, acima de tudo, compromisso com o que fazemos juntos.

Foco no desenvolvimento e crescimento não se discute. Mas isso não pode comprometer o equilíbrio de vida dos colaboradores. A começar pela ideia equivocada de que existe “vida pessoal” e a “vida profissional”. Somos indivíduos e como o próprio nome diz a nossa vida é indivisível. Um gestor que não entende isso não terá mente e coração alinhados para performar a longo prazo.

Desatar esse nó depende da liderança, tanto na alta gestão quanto nos líderes imediatos. Quando um líder dá o exemplo certo, define o tom e inspira. Mas é preciso também revisar políticas internas, processos e capacitar as equipes.

Recentemente, em minha companhia, publicamos um framework global sobre formação de líderes. No centro do diagrama, está a palavra “Self”, destacando a autogestão. Queremos líderes com ambição, iniciativa, aprendizado contínuo, integridade, humildade, respeito pelos outros e resiliência para gerenciar seu próprio bem-estar.

Em outras palavras, se o líder não priorizar sua saúde física e mental, não será capaz de inspirar, engajar pessoas e entregar resultados de forma sustentável. Liderança não tem atalhos.

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