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Ricardo Schweitzer: 'Não se trata de ou ações, ou renda fixa'

Renda-se de uma vez por todas à necessidade de um portfólio balanceado

Muitos investidores podem fazer escolhas ruins por fixas seus investimentos em apenas uma modalidade (baona/Getty Images)

Muitos investidores podem fazer escolhas ruins por fixas seus investimentos em apenas uma modalidade (baona/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 16 de maio de 2022 às 07h07.

Por Ricardo Schweitzer*

“Com a renda fixa nesses níveis, não vale a pena investir em ações”.

Esta tem sido uma frase cada vez mais frequente. E tem lá sua razão de ser.

De um lado, a Selic avançou de 2% no começo de 2021 para os 12,75% de agora. E tal rentabilidade, percebida como garantida e sem risco, é tentadora – não por acaso, os volumes voltados a esse tipo de investimento voltaram a crescer.

De outro, a história de 2022 até aqui é turbulenta para os mercados de renda variável. No plano internacional, o conflito Rússia-Ucrânia e a escalada de juros nos Estados Unidos deixam a forte sensação de que o mar não está para peixe. O cenário local ganha temperos de brasilidade com a proximidade de um novo ciclo eleitoral.

A mim parece que a maioria dos pequenos investidores é viciada em uma falsa dualidade. Não existe isso de agora é hora da renda fixa (e, consequentemente, de zerar ações) e agora é hora de ações (isto é, zerar renda fixa): uma carteira de investimentos deveria contemplar essas duas classes de ativos. E ouso dizer que as flutuações de cenário sequer deveriam afetar significativamente a proporção de cada uma.

Começo pela renda fixa: a Selic é uma taxa de curto prazo. A preocupação de um investidor não deveria ser de ganhar 12,75% em um ano, mas sim de assegurar fluxos relevantes para um prazo longo. Consequentemente, a taxa para a qual o investidor de bolsa deveria olhar não é a Selic, mas sim o rendimento dos títulos mais longos possíveis – como, por exemplo, os Tesouro IPCA de vencimentos mais distantes.

O Tesouro IPCA 2045, por exemplo, está remunerando IPCA+5,72% no dia em que escrevo este artigo. Assumindo que a inflação finalmente convirja para a meta (oremos…), isso dá aproximadamente 9,2% a.a.

É esta, a meu ver, a taxa de renda fixa para qual se deveria olhar como baliza para investimentos na bolsa. Isto porque não há qualquer garantia de que será possível reinvestir nos 12,75% da Selic em prazos mais longos.

E essa taxa é boa? Sim, me parece razoavelmente interessante – embora, confesso, ainda esteja esperando por mais para reforçar posições. No entanto, o desempenho da bolsa em janelas longas é substancialmente melhor do que isso.

Além disso, convém entender o quanto antes que não existirá um momento no qual o retorno da renda fixa estará baixo e as ações ainda estão baratas. Essas coisas andam em direções opostas. Exatamente por isso, sair da bolsa no momento de altos retornos da renda fixa e vice-versa é, no frigir dos ovos, uma mui eficiente maneira de perder dinheiro.

Isto significa que não faz sentido ter renda fixa? Vamos 100% de bolsa?

Também não.

Estabeleça um percentual de renda fixa para ter na carteira. Estabeleça um percentual de renda variável. E assim por diante.

Momentos como o atual são propícios não para alterações significativas na macroalocação (o peso de cada classe de ativo no portfólio), mas sim de microalocação (a composição de cada classe).

Eu, por exemplo, estou cada vez mais inclinado a reduzir minha exposição a juros pós-fixados (o famoso Tesouro Selic) em prol de juros indexados (Tesouro IPCA).

Já na renda variável, os valuations altamente deprimidos de nomes menos líquidos pode chamar dinheiro atualmente alocado em teses de commodities, que tiveram bom desempenho em tempos recentes.

Todos estão carecas de ouvir que o melhor momento para comprar bolsa é ao som de canhões. É justamente agora, sob estampidos, que você vai pra renda fixa?

Até a próxima!

* Ricardo Schweitzer é analista CNPI, consultor CVM e investidor profissional. Escreve quinzenalmente na EXAME Invest.

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