Títulos do Tesouro Direto recuperam parte das perdas em abril (Classen Rafael/EyeEm/Getty Images)
Bianca Alvarenga
Publicado em 1 de maio de 2021 às 07h50.
Depois de meses de perdas consecutivas, os títulos do Tesouro Direto renasceram das cinzas. A maioria dos produtos negociados no mercado voltou a ter ganho de rentabilidade, e alguns chegaram a avançar mais de 1% no mês, como os prefixados.
A razão para a retomada foi o respiro trazido pela aprovação do Orçamento Federal de 2021. O projeto, aprovado pelo Congresso no final de março, só foi avalizado pelo presidente Jair Bolsonaro no dia 22 de abril. Com a resolução do imbróglio, as taxas dos títulos do Tesouro voltaram a se recompor.
"A versão do Orçamento que passou não é a ideal e está longe de ser a melhor, mas acabou a novela. Em razão disso houve grande valorização nos preços de todos os títulos do Tesouro que têm algum componente prefixado", explica Alan Ghani, especialista em renda fixa da EXAME Invest Pro.
Veja a rentabilidade dos títulos do Tesouro Direto em abril:
Título | Rendimento em março (em %) | Rendimento em 2021 (em %) |
Tesouro Prefixado 2026 | 1,83 | -7,08 |
Tesouro Prefixado 2025 | 1,70 | -5,54 |
Tesouro IPCA+ 2024 | 1,69 | -0,36 |
Tesouro Prefixado com juros semestrais 2027 | 1,68 | -7,51 |
Tesouro IPCA+ com juros semestrais 2024 | 1,56 | -0,09 |
Tesouro Prefixado com juros semestrais 2025 | 1,55 | -5,24 |
Tesouro Prefixado 2024 | 1,54 | - |
Tesouro Prefixado com juros semestrais 2029 | 1,54 | -9,59 |
Tesouro IGP-M+ com juros semestrais 2031 | 1,48 | 9,56 |
Tesouro Prefixado com juros semestrais 2031 | 1,27 | -10,67 |
Tesouro IPCA+ 2026 | 1,22 | -2,11 |
Tesouro IPCA+ com juros semestrais 2026 | 1,17 | -1,46 |
Tesouro Prefixado com juros semestrais 2023 | 0,81 | -1,75 |
Tesouro Prefixado 2023 | 0,79 | -1,98 |
Tesouro Prefixado 2022 | 0,29 | -0,37 |
Tesouro Selic 2023 | 0,20 | 0,67 |
Tesouro IPCA+ com juros semestrais 2030 | 0,17 | -4,42 |
Tesouro IPCA+ com juros semestrais 2035 | 0,12 | -4,07 |
Tesouro Selic 2027 | 0,02 | - |
Tesouro Selic 2024 | -0,02 | - |
Tesouro IPCA+ 2045 | -1,17 | -11,39 |
Tesouro Selic 2025 | -0,20 | 0,04 |
Tesouro IPCA+ 2035 | -0,32 | -5,31 |
Tesouro IPCA+ com juros semestrais 2040 | -0,40 | -4,61 |
Tesouro IPCA+ com juros semestrais 2045 | -0,55 | -4,85 |
Tesouro IPCA+ com juros semestrais 2050 | -1,01 | -6,70 |
Tesouro IPCA+ com juros semestrais 2055 | -1,13 | -8,22 |
Antes categoria de "patinho feio" entre os títulos do Tesouro, os papeis prefixados voltaram a subir. No caso do Tesouro Prefixado 2026, a alta foi de 1,8% -- apenas para comparação, o mesmo título chegou a cair mais de 3% em março.
Os números deixam claro que a recuperação de abril não foi suficiente para repor todas as perdas acumuladas desde o início do ano, mas a normalização do cenário político pode indicar um breve período de calmaria para os títulos públicos.
Quem não brilhou tanto no mês foi o Tesouro Selic. Algumas das chamadas LFTs continuam com dificuldade para acompanhar o rendimento do próprio CDI no ano. O Tesouro Selic 2025 e o Tesouro Selic 2024 fecharam no vermelho no mês.
"O único que não se beneficiou do alívio dado pela aprovação do Orçamento foi o Tesouro Selic. Isso acontece porque basicamente a precificação desses títulos vem de acúmulo de juros diários, e não da perspectiva de juro futura", explica Ghani, da EXAME Invest Pro.
É importante ficar de olho nessas taxas, pois as LFTs são comumente usadas para a composição de reserva de emergência dos investidores. O desempenho negativo sequente pode ser uma boa deixa para o investidor substituir o Tesouro Selic por outra aplicação. Mas atenção: na reserva de emergência é importante garantir a liquidez diária.
Apesar da melhora no cenário de curto prazo, a situação dos títulos mais longos, como os do Tesouro IPCA+ com vencimento após 2040, continua nebulosa. Apesar do alívio momentâneo trazido pela aprovação do Orçamento, existem outros fatores de complicação no horizonte.
"O investidor deve observar algumas variáveis fundamentais. A primeira é a inflação: se houver uma retomada econômica mais sólida, pode ser que a demanda reprimida faça o consumo subir. Se isso acontecer, os preços podem aumentar, o que terá um impacto direto sobre a Selic", alerta o especialista.
Ghani lembra que o desfecho da pandemia ainda não está claro, e especialistas temem que haja um novo aumento de casos e de mortes ao longo dos próximos meses. Se isso acontecer, o cenário de risco pode voltar a piorar, o que tende a impactar negativamente as taxas dos títulos públicos.