Sigrid Guimarães: "não se sinta obrigado a decidir qual das conjecturas sobre o ano será a mais acertada" (Leo Aversa/Alocc/Divulgação)
CEO da Alocc Gestão Patrimonial
Publicado em 20 de dezembro de 2023 às 10h47.
Está aberta a temporada de previsões.
Prepare-se: daqui até meados de janeiro, sua caixa de e-mails estará lotada de previsões sobre o comportamento da economia e dos mercados em 2024. Essa é a única previsão que eu farei, mas tenho alguns bons conselhos, e o primeiro deles é: não se sinta obrigado a decidir qual das conjecturas sobre o ano será a mais acertada.
Quando não são presságios místicos, previsões são exercícios especulativos razoáveis, porém baseados em dados incompletos. Sua finalidade é averiguar possibilidades e suas probabilidades, mais otimistas ou mais pessimistas conforme o ângulo de observação de cada analista. São úteis e até indispensáveis para gestores de ativos, mas, se o seu problema é gerir um patrimônio, o que você precisa é de um plano para todas as probabilidades e também para o improvável.
Observe que as previsões produzidas por profissionais competentes sempre têm boas razões, mesmo as que não acertam, e que previsões igualmente inteligentes e bem fundamentadas divergem. Em última análise, a divergência entre expectativas é condição para o próprio funcionamento do mercado. Dificilmente, haveria negociações se todos estivessem de acordo quanto ao desempenho futuro dos ativos. Exceto por uma súbita necessidade de sobrevivência, quem venderia hoje algo que acredita que se valorizará amanhã ou compraria, agora, aquilo que acha que sairá mais barato adiante?
O caso é que analistas absolutamente brilhantes são surpreendidos por eventos que não estavam no seu radar. Assim é a vida, e, por isso, as previsões mudam a todo momento. Também faz parte do jogo.
Então você está condenado a andar à deriva? - Nem de longe.
Os fatos reais estão sempre no presente, que se tornará passado antes que eu digite o ponto final desta frase. Em linhas bem gerais, a realidade objetiva e conhecida, neste preciso instante em que escrevo, é a seguinte: ainda sofrendo as sequelas da pandemia, que, ao contrário do esperado pela imensa maioria dos analistas, resultaram em persistente inflação global e taxas de juros estratosféricas aqui e nas economias mais influentes do mundo, avançamos muito mais lentamente do que o desejável ao longo de 2023. Ainda convivemos com duas trágicas guerras de impacto mundial, embora tenha chegado por aqui a notícia de uma trégua de quatro dias entre Israel e Hamas. (Não sou louca de tentar prever o que pode estar acontecendo enquanto você me lê).
Prosseguindo, dentro desse quadro, os mercados têm até se comportado com relativa calma, sem oscilações absurdas nem no câmbio nem nas bolsas, porém sem deslanchar. Nos últimos meses, contudo, a desinflação doméstica fez com que o nosso Banco Central começasse a reduzir os juros, e, mesmo sujeita a marchas e contramarchas, a Reforma Tributária possível finalmente avançou. Para reforçar o ânimo do mercado, novos dados sobre a inflação norte-americana têm elevado a probabilidade da deflagração de um ciclo de queda dos juros no início de 2024, com presumíveis repercussões positivas no Brasil.
Esses são os fatos e as suposições mais óbvias do mercado em geral. Já as perguntas que as previsões mais abalizadas procuram responder giram em torno de temas bem mais complexos, como o equacionamento da questão fiscal brasileira e o progresso das reformas; a dívida pública e as eleições nos EUA; a evolução da economia chinesa; as condições geopolíticas e climáticas; os impactos das novas tecnologias..., além da prospecção de possíveis eventos, bons e maus, para os quais a maioria não está olhando. - Há estudos ultracompetentes, raciocínios inteligentíssimos, mas quem pode ter certeza? Mais do que tudo, essas especulações servem para indicar pontos de atenção aos gestores de ativos.
Depois de anos e anos acompanhando a economia, os mercados e grandes analistas e gestores, eu estaria mentindo se dissesse que não tenho meus palpites sobre o próximo ano, mas o que eles importam a você ou aos meus clientes, o que importam à minha própria segurança pessoal, à minha família? - Absolutamente nada.
Sou uma gestora de patrimônios, meu papel é construir e acompanhar planejamentos que protejam a vida econômica dos meus clientes em qualquer cenário, incluindo aqueles que se instalam sem aviso prévio. Conhecer as visões dos gestores é parte do meu dever, tanto quanto, não aderir a nenhuma delas e jamais admitir que os projetos de uma família dependam do acerto de uma previsão. Daí que a diversificação, não só de mercados, mas também de visões e estratégias, seja vital.
Não perca de vista: o seu objetivo é sustentar as necessidades da sua família por um horizonte virtualmente infinito, chova ou faça sol. Sua medida de sucesso não é a maior rentabilidade do mercado a curto prazo, mas a duração da sua capacidade global de gerar rentabilidade suficiente. Investimentos alocados com eficiência entre os vários mercados e diversos gestores competentes, com diferentes visões e estratégias, dissipam riscos imponderáveis e permitem que você viva o presente e realize seus planos sem precisar prever o futuro.
É o que eu lhe desejo, querido leitor!