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SPX, Verde e JGP: Meta de inflação brasileira está errada e deve ser rediscutida

Importância de reformas para redução de juros também foi destaque em painel realizado durante a CEO Conference, do BTG Pactual

Stuhlberger: "eu concordo em achar que a discussão da meta é cabível e não é o fim do mundo. Buscar uma meta irrealista não é uma boa coisa no momento" (Patricia Monteiro/Bloomberg)

Stuhlberger: "eu concordo em achar que a discussão da meta é cabível e não é o fim do mundo. Buscar uma meta irrealista não é uma boa coisa no momento" (Patricia Monteiro/Bloomberg)

Da Redação
Da Redação

Redação Exame

Publicado em 15 de fevereiro de 2023 às 10h56.

Última atualização em 15 de fevereiro de 2023 às 11h25.

Para o Brasil, perseguir uma meta de inflação perto de 3% não tem sentido. Embora alguns economistas aleguem que rediscutir a meta – visando aumentá-la, sobretudo – possa gerar uma desancoragem de expectativas de agentes econômicos, a realidade é que essa desancoragem já aconteceu, dado que cumprir a meta é inviável. A opinião poderia ter sido emitida pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, que já tem planos de realizar esse debate junto ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, mas foi emitida por três dos maiores e mais respeitados gestores da Faria Lima: Rogério Xavier, fundador da SPX Capital, Luis Stuhlberger, fundador da Verde Asset, e Andre Jakurski, fundador da JGP.

Com mediação de André Esteves, sócio sênior do BTG Pactual, a conversa sobre o tema começou com tom firme de Xavier, para quem “a meta estabelecida há dois ou três anos está errada” por ser muito ambiciosa, considerando o juro real no Brasil e aspectos de perda de produtividade local. Citou, como exemplo, que o Brasil só foi capaz de cumprir a meta de inflação em 3% uma única vez desde a instituição do regime de metas, em 2000. “Ficamos dizendo que nos EUA  a inflação será de 3% ou 3,5%, que será 3% na Europa e no Brasil também será 3%? Sejamos sinceros”, afirmou, durante o evento CEO Conference, em São Paulo.

Stuhlberger adotou linha de pensamento semelhante. “Eu concordo em achar que a discussão da meta é cabível e não é o fim do mundo. Buscar uma meta irrealista não é uma boa coisa no momento em que estamos, mas devemos associar isso a um arcabouço fiscal crível”, disse. “Precisamos ter presidentes e ministros estadistas que pensem no Brasil no longo prazo.”

As metas de inflação são estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e são o cerne por trás da política monetária executada pelo Banco Central, que deve trabalhar com aumento ou corte da taxa básica de juros, a Selic, para fazer a inflação convergir para a meta indicada. Em 2022, por mais um ano, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, precisou fazer a tradicional carta em que explica porque não teve sucesso na tarefa, já que a inflação fechou o ano em 5,79%, contra uma meta de 3,5%.

“A meta está errada, não dá para ser perseguida. Se a [meta] antiga não é boa, precisamos de uma nova e que será mais leniente do que a antiga, o medo é ser válvula de escape [para gastos fiscais]”, disse Jakurski. “Neste caso, a ordem dos fatores altera o produto. É mais importante definir a regra fiscal que vai substituir o teto [de gastos] do que ficar perseguindo a PEC 110 e 45 e que será implementada em 10 anos. Não sei porque está se dando prioridade a isso ao invés de substituir uma meta de inflação. O Brasil não vai dar certo com esse juro.”

As PEC 110/2019 e PEC 45/2019 propõem mudanças profundas no sistema tributário e entram no escopo da ampla reforma tributária brasileira. Nos dois casos, não necessariamente o resultado será redução de impostos, mas ambas iniciativas têm um objetivo de simplificação do sistema, por meio da substituição de tributos hoje sobrepostos por um único tributo, o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS).

A preocupação fiscal dos gestores é que, com uma mudança de meta de inflação para cima, isso abra espaço para gastos do governo dado a maior “leniência” com o avanço de preços, fruto de uma política mais expansionista e com mais dinheiro na economia. É por isso que alguns deles citam justamente a mudança de meta associada a um arcabouço fiscal que dê credibilidade ao combate da inflação, com execução crível da política monetária e possibilidade de um juro não tão elevado como atualmente está.

“A trajetória da inflação tem que ser cadente, é óbvio, mas com metas alcançáveis. Não adianta querer ser ambicioso nesse momento, isso gera um custo para a sociedade. Muitos dizem que a sociedade quis essa meta de inflação. Que sociedade? Realmente importa essa de 3%? As pessoas do supermercado convivem com 10%. O custo de se carregar uma meta desse tamanho é gigantesco. Essa discussão passa um pouco pela questão fiscal, concordo, mas aí isso precisa ser endereçado pelo ministro [da Fazenda, Fernando] Haddad”, afirmou Xavier.

*Juliana Machado é analista CNPI e integra o time de análise de fundos de investimento do BTG Pactual. É jornalista formada pelo Mackenzie, com pós-graduação em economia brasileira pela Fipe-USP. Atuou com análise e seleção de fundos de investimento na EXAME e escreveu por quatro anos para o Valor Econômico, nas áreas de governança corporativa e bolsa de valores.

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