Invest

Ricardo Schweitzer: 'Aceite o óbvio: renda variável varia'

Fuja do esforço inútil de negar a natureza do mercado

O mercado oscila, pelos mais variados motivos, com razões concretas ou não | Foto: Getty Images (Getty Images/Getty Images)

O mercado oscila, pelos mais variados motivos, com razões concretas ou não | Foto: Getty Images (Getty Images/Getty Images)

DR

Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2021 às 07h50.

Por Ricardo Schweitzer*

Hoje eu vim aqui falar para você uma obviedade. Já consigo antever o Capitão Óbvio invadindo a sala pela janela, mas às vezes é simplesmente necessário.

Segure minha mão, olhe nos meus olhos e prepare-se.

Esse negócio de renda variável tem esse nome porque varia.

(Na verdade, renda fixa também varia, caso não seja pós-fixada. Mas isso é assunto para outra ocasião...)

A cada momento de estresse de mercado, vejo crescer a demanda pelo Santo Graal do mundo dos investimentos: a tal da “proteção” que anula os efeitos das quedas na sua carteira.

Já me adianto em dizer: o objetivo deste artigo não é demonizar, por exemplo, estratégias com opções. Tampouco denegrir ferramentas de hedge.

A questão, aqui, é esclarecer que essas coisas não funcionam da maneira que as pessoas fantasiam. E que, para grande parte do público investidor, provavelmente nem façam sentido.

Tudo gira em torno da bendita marcação a mercado. Quando você abre o seu homebroker, você vê seus investimentos líquidos avaliados pelo preço da última transação realizada com cada um deles.

Não importa o tamanho da transação. Não importa o motivo. É o preço do negócio mais recente, repercutido sobre o total do seu investimento.

O pequeno investidor sonha, basicamente, com o seguinte: eu quero que todas as marcações a mercado positivas reflitam na minha carteira, e todas as negativas, não; quero que minhas ações só subam e nunca caiam.

Não dá, amigo. Não dá, amiga. O mercado oscila, pelos mais variados motivos: seja porque saiu algum dado econômico na gringa e criou uma onda de mau humor; seja porque um gestor de fundo está tomando saque e precisa se desfazer de um lote grande das ações que você tem (e a escassez de compradores o força a empurrar o preço para baixo), seja porque um analista convenceu outro gestor a trocar a posição na empresa A por outra na empresa B.

Isso vai fazer o valor de mercado da sua carteira oscilar. Algumas dessas oscilações terão razões concretas de ser (suponhamos que o mercado está descobrindo que, de fato, as perspectivas para aquela empresa são piores do que originalmente pareciam -- e aí, sim, alguma decisão de sua parte acerca de seu investimento faz sentido), enquanto outras esbarrarão em explicações esotéricas (como o famoso “aumento do prêmio de risco”, que tão em voga está atualmente) ou técnicas (o fundo tomou resgate; o trader colocou um zero a mais na ordem de venda, trocaram CSN por Cosan por acidente…).

E você aí, arrancando cabelos querendo encontrar o motivo exato pelo qual subiu ou caiu. E querendo reagir a cada movimento do mercado, como se estivesse num fliperama jogando aquele jogo de martelar cabeça de marmota…

Não. Isso não é investir.

Mas e se eu comprar X% da minha carteira em opções como “seguro”?

Em primeiro lugar, isso não é de graça: você vai deixar parte do retorno do seu portfólio ao longo do caminho comprando opções que não serão exercidas.

Em segundo lugar, é altamente provável que o dimensionamento disso aí não funcione: em um momento de queda de mercado, a oscilação contrária daqueles 2% em opções provavelmente não vai cobrir a queda do restante.

Em terceiro lugar, a implementação desse tipo de estratégia consome tempo, dinheiro e energia que, na minha humilde opinião, só se justificam se você é investidor profissional, gestor, tem cotistas nervosos com a oscilação do seu fundo etc.

Conselho? Para 99% dos casos, o melhor a fazer é simplesmente parar de se debater com o fato óbvio: sua carteira de renda variável vai oscilar ao longo do tempo.

Aceita!

A questão chave que você precisa ter em mente é que o que você comprou não é um ticker e um preço numa tela: é um pedaço infinitesimal de uma empresa que existe no mundo real (ou pelo menos assim espero: se não for o caso, pare de botar dinheiro em mico enquanto é tempo!), na qual muito provavelmente aquele está sendo mais um dia ordinário como qualquer outro: time de vendas fechando negócio; produção avançando; turma do administrativo vagando lentamente de volta para o escritório depois do almoço esticado de sexta-feira…

E, se for verdade (e eu creio que é) aquela ladainha de que, naquela terra prometida chamada “longo prazo”, preço e fundamento convergem, então no dia do juízo final toda aquela gritaria e ranger de dentes do dia-a-dia do mercado com a qual você tanto se preocupa vai dar lugar a avaliações adequadas de cada empresa. E pronto!

Só que até lá, meu amigo e minha amiga, vai chacoalhar. Porque é normal que chacoalhe. Porque a interação simultânea da multidão de participantes dessa feira livre eletrônica tem como consequência inevitável a vol, minha vol.

Ela faz parte do jogo. Se a favor ou contra você, é questão de decidir como encará-la.

Bom final de semana.

*Ricardo Schweitzer é analista CNPI, consultor CVM e investidor profissional. Escreve quinzenalmente na EXAME Invest.

Acompanhe tudo sobre:bolsas-de-valoresGestores de fundosInvestimentos-pessoaisrenda-fixarenda-variavel

Mais de Invest

Como o Índice de Sharpe pode ajudar a tomar decisões na hora de investir?

Proclamação da República: veja o funcionamento dos bancos nesta sexta-feira

Como negociar no After Market da B3

Casas Bahia reduz prejuízo e eleva margens, mas vendas seguem fracas; CEO está confiante na retomada