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Equidade de gênero: empresas precisam tirar o ESG do papel para alcançarem o sucesso

Estudo “Iniciativas ESG Geram Valor?, realizado pela Bain em parceria com a EcoVadis revelou que empresas com mais mulheres no time de executivos têm melhores resultados financeiros

Carolina Cavenaghi: "vejo muitas empresas que falam de ESG, se dizem sustentáveis, mas que, na prática, têm outra realidade" (Fin4she/Acervo pessoal)

Carolina Cavenaghi: "vejo muitas empresas que falam de ESG, se dizem sustentáveis, mas que, na prática, têm outra realidade" (Fin4she/Acervo pessoal)

Carolina Cavenaghi
Carolina Cavenaghi

Cofundadora e CEO da Fin4she

Publicado em 27 de junho de 2023 às 06h56.

Última atualização em 28 de agosto de 2023 às 15h52.

No mundo dos negócios, uma pequena sigla ganhou muito espaço nos últimos anos: ESG. Do inglês Environment, Social and Governance (Ambiental, Social e Governança), o termo representa um conjunto de práticas que tem sido adotado por empresas de todo o mundo para que o seu desenvolvimento cause menos impactos negativos sobre o meio ambiente, seja mais positivo para a sociedade e torne a governança das empresas mais responsável em suas tomadas de decisão.

O ESG passou a ser importante também para os consumidores. Apesar de não saberem exatamente a definição de ESG, a maioria dos brasileiros (87%) acredita que o tema é importante e deve ser tratado por instituições públicas e privadas. Essa crença se reflete no consumo, e, consequentemente, no financeiro das empresas.

O estudo “Iniciativas ESG Geram Valor?, realizado pela Bain em parceria com a EcoVadis revelou que empresas com mais mulheres no time de executivos têm melhores resultados financeiros. As companhias com maior diversidade de gênero na equipe executiva têm crescimento de receita anual de cerca de 2 pontos percentuais acima daquelas com menos executivas.

Os dados reforçam que boa parte do foco de ações ESG está concentrada nos impactos ambientais (“E”) de empresas e instituições. O social, e a governança ainda estão no subplano das organizações, mas deveriam ser tão importantes quanto. A segunda letra da sigla ESG engloba o fato de que, hoje, as empresas buscam laços fortes com clientes, colaboradores, fornecedores e comunidades onde estão inseridas. Na esfera de colaboradores, destaca-se a importância do capital humano para o sucesso das organizações.

Atrair e reter talentos passou a ser um dos papéis principais de instituições que querem se destacar. E compor um quadro administrativo diverso e incluso, também. Uma empresa que promove a diversidade e a inclusão tem mais chances de atrair talentos.

Mulheres no mundo corporativo

Com ações que incentivam a participação de mulheres no mundo corporativo, é possível notar um crescimento do público feminino no mercado e na alta direção das empresas. De acordo com o Estudo de Conselhos de Administração 2021, feito pela Korn Ferry, as mulheres representaram 16% dos Conselhos de Administração em 2021. Em 2020, eram apenas 13%.

Também aumentou a presença feminina em cargos C-level, de 14% para 18% no mesmo período. Países da Europa têm percentuais acima dos 20%. O resultado mostra o aumento da diversidade de gênero nas companhias, mas ainda está longe de ser o suficiente.

Além dos números aquém do ideal, também vejo muitas empresas que falam de ESG, se dizem sustentáveis, mas que, na prática, têm outra realidade. São instituições que se apoiam no pilar da sustentabilidade para criar uma boa reputação, mas que as ações não condizem com a teoria. Será que todas essas organizações pagam os mesmos salários para homens e mulheres? Têm mulheres em seus conselhos de administração? E nos cargos de liderança? Será que elas dão licença maternidade e paternidade iguais?

O ESG é a oportunidade para impulsionarmos ainda mais a pauta da equidade de gênero, que é o motivo de existir da Fin4She.

Nesse ponto surge a necessidade de ações para aumentar a presença de mulheres em cargos de tomada de decisão. É nesse momento também que surgem muitos grupos de apoio e influência criado por e para mulheres. O foco é promover a conexão e o sucesso de mais e mais mulheres. O Mapa do Ecossistema de Apoio às Mulheres Brasileiras reúne muitos desses grupos em um só lugar para facilitar o acesso aos projetos.

Uma iniciativa com esse objetivo é o Grupo 30% Club, que promove uma ação global para fazer com que as empresas tenham, no mínimo, 30% das cadeiras dos Conselhos de Administração preenchidas por mulheres.

O grupo criado no Reino Unido entra em contato com as empresas para mostrar a importância da aplicação do ESG - com foco na diversidade de gênero - e busca convencer as organizações com dados e argumentos. Uma das pesquisas feita pela iniciativa mostrou que 41% das empresas que fizeram IPO no Brasil em 2020 não tinham nenhuma mulher no conselho de administração, e apenas 7% delas tinham mais de 30% do órgão com representação feminina.

Nesse mesmo sentido, o projeto Women On Board concede um selo de certificação para empresas de capital aberto e fechado que têm pelo menos duas mulheres em seus colegiados, e acompanha se a organização mantém o número de conselheiras. Caso o número caia, a empresa perde a certificação. O projeto conta com o apoio da ONU Mulheres e já certificou mais de 80 empresas.

Outra iniciativa é a própria Fin4She, plataforma que fundei com o objetivo de conectar mulheres a empresas e criar uma rede de apoio para promover a equidade de gênero no mercado financeiro. Em agosto, promovemos nosso tradicional evento Women in Finance, e, neste ano, o ESG será um dos temas norteadores do encontro.

Apoiar o Women in Finance é uma oportunidade para empresas que querem adotar o ESG para além da teoria e causar impactos sociais realmente positivos. As instituições interessadas em fazer parte dessa transformação podem entrar em contato com a Fin4She por este link: https://fin4she-org.typeform.com/to/yf8lkUYj

Empresas com equidade de gênero em todos os níveis, sobretudo nas diretorias e conselhos, promovem uma leitura de mundo mais abrangente que é refletida diretamente nas tomadas de decisão. Pesquisas da Harvard Business Review, da McKinsey & Company e da Catalyst reforçaram a relação direta entre a adoção de práticas ESG e melhores resultados nos negócios.

É notável que atualmente existe uma demanda ética e moral para construirmos negócios mais humanizados e conscientes, mas as ações não deveriam ser apenas para mudar a imagem institucional, elas precisam refletir diretamente nos resultados.

Se as empresas querem o sucesso, elas precisam tirar o ESG do papel.

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