Invest

Dever de casa: o que fazer diante de um fim de ano decepcionante?

A constatação de que os melhores investimentos de 2024 foram o dólar e os títulos de renda fixa incentivados por renúncia fiscal do governo representa bem um ano em que os mercados andaram à deriva

Sigrid Guimarães: se não dá para prever o comportamento da economia e dos mercados, não dependa deles para viver seu presente nem para preparar seu futuro (Alocc Gestão Patrimonial/Divulgação/Divulgação)

Sigrid Guimarães: se não dá para prever o comportamento da economia e dos mercados, não dependa deles para viver seu presente nem para preparar seu futuro (Alocc Gestão Patrimonial/Divulgação/Divulgação)

Sigrid Guimarães
Sigrid Guimarães

CEO da Alocc Gestão Patrimonial

Publicado em 26 de dezembro de 2024 às 09h39.

Esforçando um pouquinho a memória você deve se lembrar de ter dito e, se tem filhos, dificilmente deixou de ouvir: “Ah, que saco, dever de casa! Para que dever de casa?”

Finalmente, eis a explicação.

A constatação de que os melhores investimentos de 2024 foram o dólar e os títulos de renda fixa incentivados por renúncia fiscal do governo (uma espécie de Bolsa Família para investidores) representa bem um ano em que os mercados andaram à deriva. Sem indicações claras sobre os rumos da economia brasileira e global, foi praticamente impossível encontrar a direção dos demais ativos.

Com pistas contraditórias e projeções desencontradas sobre a trajetória da economia, os investimentos em multimercados como um todo tiveram grande dificuldade de superar os índices de inflação. Sua participação na indústria de fundos caiu consideravelmente, e quanto mais sucesctíveis às perspectivas macroeconômicas, mais sofreram, como demonstram os maus resultados dos gestores de fundos multimercado macro.

Tão pouco as ações resistiram à impossibilidade de visualizar tendências, e não só no Brasil. – Não, não se deixe enganar pela alta espetacular do Standard & Poor’s (S&P-500), o principal índice de ações dos EUA, composto por papéis das 500 empresas com maior peso na economia norte-americana.

Quem se dispõe a fazer o exercício de subdividi-lo em dois índices hipotéticos, S&P-10, formado pelas ações das 10 maiores empresas, e S&P-490, reunindo as demais, encontra resultados absolutamente discrepantes; enquanto o primeiro acumula forte alta, o segundo permanece praticamente estagnado. A conclusão é que quase toda a valorização apresentada pelo S&P-500 deriva apenas daquelas 10 ações do primeiro grupo, a grande maioria delas ligada ao setor de tecnologia.

Essa é a retrospectiva, mas e, agora, o que fazer, diante de um fim de ano decepcionante e na iminência de outro sem indicações razoavelmente seguras?

Bem, é exatamente em momentos de incerteza como este que estamos vivendo que um planejamento bem ajustado faz toda diferença, seja para resistir às adversidades, seja para aproveitar as oportunidades, que em algum momento, mais cedo ou mais tarde, virão.

É hora de rever receitas, despesas e gastos correntes e previstos, verificar a adequação dos seus contratos, do esquema de sucessão, do grau de imobilização do patrimônio, tendo uma noção objetiva da função dos imóveis no seu mix patrimonial, e, em especial, no nosso caso presente, verificar a eficiência da sua equação tributária considerando as recentes alterações da legislação.

O objetivo geral é reduzir ao mínimo a imprevisibilidade daquilo que se pode controlar e ganhar flexibilidade para lidar com contextos sobre os quais não é mesmo possível ter grande ingerência. Portanto, a tônica do processo de revisão do planejamento deve ser aumentar a eficiência de despesas e gastos, quando não reduzi-los, e evitar que saídas imprevistas atropelem seu planejamento pessoal. O lema é: se não dá para prever o comportamento da economia e dos mercados, não dependa deles para viver seu presente nem para preparar seu futuro.

Na prática, tudo se resume a garantir liquidez suficiente para a sua vida no curto prazo, em qualquer cenário, sem abrir mão da diversificação dos investimentos em renda variável, tanto mais necessária à proteção do patrimônio e a sua manutenção a longo prazo, quanto mais imprevisível é o contexto macroeconômico.

Desfazer-se do que não é mais necessário, como, por exemplo, custos associados a uma fase ultrapassada da vida familiar, libera recursos para a manutenção do que realmente lhe importa. Um grande imóvel onde já não vivem os filhos que aproveitavam o espaço, clubes e casas de campo não mais frequentados, veículos longamente parados na garagem ou no hangar, seguros e produtos financeiros que não correspondem aos seus riscos nem às suas ambições de hoje são expressões de nostalgia que merecem lugar em um álbum de fotografias, mas não no seu portfólio patrimonial. Da mesma forma, planos de sucessão bem formulados para as circunstâncias do passado podem se demonstrar ineficazes diante da conjuntura familiar e da legislação presentes.

Com a segurança de ter um bom planejamento em mãos, o passo seguinte é rever seus investimentos considerando os objetivos reavaliados e, também, eventuais novas condições institucionais das empresas gestoras de ativos e dos mercados, com o cuidado de não confundir essas condições com o histórico de resultados dos últimos anos.

Sim, perceber que o ano termina sem dar pistas sobre o que virá a seguir não é lá muito animador, ainda mais quando estamos vindo de uma sequência de anos desalentadores. Não obstante, se há algo de positivo que se possa dizer com segurança é que resultados espetaculares são sempre precedidos por anos decepcionantes. Como os últimos anos demonstraram, não é garantia – um ano passado decepcionante pode ser sucedido por outro de decepção igual ou até maior. No entanto, no mundo dos investimentos, a decepção é a pré-condição para as grandes alegrias, e isso nós seguramente temos. Convém, então, estar posicionado para aproveitar as alegrias, em 2025 ou mais adiante, tanto quanto para suportar um ano ou mais de resultados fracos, que serão apenas marasmo para quem estiver preparado, mas não representarão a derrocada dos seus planos.

É quando ninguém faz ideia do que vai cair na prova que o dever de casa mostra o seu valor. Quem se submeteu à rotina nada excitante de manter a matéria em dia, revendo tópico por tópico sem grandes emoções nem recompensa imediata, passa de ano, porque não precisa correr o risco do prazo, lutando para ser mais rápido do que o tempo e revisar a matéria do ano inteiro na véspera da prova. Dá trabalho, é chato, modorrento, mas sempre compensa.

Seguem, por fim, querido leitor, os meus votos: que tenhamos, antes de tudo, um ano tranquilo, em paz, que nos encontre firmes e prontos para aproveitar tudo de bom que ele trouxer, e, que ele venha cheio de excelentes surpresas.

Acompanhe tudo sobre:InvestidoresInvestimentos-pessoaisbolsas-de-valoresrenda-fixa

Mais de Invest

5 ações para ficar de olho no mercado dos EUA em 2025; veja a lista

BC vende oefrta integral de US$ 3 bi em leilão, dólar opera em queda, a R$ 6,16

AGU aciona Banco Central após Google mostrar cotação errada do dólar no dia de Natal

Onde investir em 2025? Veja quais ações, FIIs, BDRs, cripto e renda fixa comprar