Invest

A alma do negócio

Alcançar seu objetivo se resume a encontrar a estratégia que garanta esse rendimento e o suficiente para pagar taxas e impostos decorrentes

Sigrid Guimarães: 'A primeira coisa que vem à cabeça de quem pensa em combater desperdícios é reduzir despesas e custos' (Alocc Gestão Patrimonial/Divulgação/Divulgação)

Sigrid Guimarães: 'A primeira coisa que vem à cabeça de quem pensa em combater desperdícios é reduzir despesas e custos' (Alocc Gestão Patrimonial/Divulgação/Divulgação)

Sigrid Guimarães
Sigrid Guimarães

CEO da Alocc Gestão Patrimonial

Publicado em 17 de novembro de 2023 às 10h23.

Última atualização em 17 de novembro de 2023 às 11h36.

Para oferecer ao leitor uma visão panorâmica da gestão de investimentos patrimoniais, abordei nos três artigos anteriores uma questão primordial de contexto (os prazos e objetivos característicos desse tipo de gestão) e duas questões estratégicas fundamentais (a construção de reserva de liquidez e a diversificação dos investimentos). Sigo agora para o tema que perpassa toda e qualquer estratégia: a eficiência.

Na expressão mais simples, eficiência é a qualidade de alcançar o melhor rendimento possível com o menor desperdício de recursos (energia, tempo, dinheiro). É uma qualidade, um modo de proceder que deve ser observado ao longo de todo o processo de gestão e requer não uma, mas diversas medidas relativas a cada atividade envolvida na gestão.

OK, é óbvio que qualquer um, em qualquer circunstância, gostaria de ganhar o máximo ao menor custo, mas observe: quando o caso é um investimento de curto prazo com objetivo definido, uns tostões a mais ou a menos não costumam fazer grande diferença.

Vamos supor que você tenha uma dívida a saldar ou pretenda fazer frente a determinado gasto previsto para daqui a um ano. Digamos que você tenha X e precise de X+15%. Alcançar seu objetivo se resume a encontrar a estratégia que garanta esse rendimento e o suficiente para pagar taxas e impostos decorrentes. É claro que é sempre desagradável constatar que seus recursos teriam gerado um lucro superior se as perdas pudessem ter sido evitadas. No entanto, desde que você atinja a meta proposta, essas perdas não inviabilizarão seu objetivo nem representarão um dano considerável a sua capacidade de investir e manter-se, já que o desperdício cessará com o fim da operação, dentro de um ano.

É bem diferente quando se trata da gestão de investimentos patrimoniais e se tem um horizonte infinito pela frente, com despesas diárias. Nesse caso, o efeito de pequenos desperdícios é uma bola de neve crescendo exponencialmente ao longo dos anos, corroendo constantemente sua capacidade de investir e diminuindo, dia a dia, a perspectiva de duração do patrimônio.

A primeira coisa que vem à cabeça de quem pensa em combater desperdícios é reduzir despesas e custos. São, de fato, medidas muito importantes, porém insuficientes... O problema é que o ganho dessas reduções tem limites. Como vemos acontecer nos primeiros meses após a entrada de novos clientes em nosso escritório, a racionalização de gastos pessoais, a economia de taxas e o planejamento fiscal tendem a ter um impacto notável sobre o resultado no curto prazo, mas não se pode seguir cortando indefinidamente. Para continuar ganhando, é preciso gerar valor. São muitos e eloquentes os casos de empresas que, tendo se concentrado obsessivamente no controle de custos, viram seu valor despencar após anos de enorme sucesso. A queda da GE após a gestão de Jack Welch é o mais conhecido exemplo.

Há, no entanto, um outro lado do desperdício, bem menos óbvio e mais decisivo para investimentos de longo prazo. Diz respeito ao bom aproveitamento dos recursos disponíveis e está intimamente ligado à qualidade da sua alocação. Convenhamos que, em qualquer aspecto da vida, usar aquilo de que você dispõe, seja seu tempo, suas habilidades pessoais ou seu dinheiro, de forma inadequada aos seus objetivos é um desperdício e, portanto, uma ineficiência. Assim, o julgamento sobre o “bom” ou o “mau” uso dos seus recursos depende dos objetivos que você elege. Não é diferente com os investimentos.

Como vimos nos artigos anteriores, investimentos patrimoniais têm o objetivo básico de sustentar o padrão de vida de uma família pelo maior tempo possível. Na prática, esse objetivo se desdobra em dois objetivos divergentes. De um lado, busca-se garantir liquidez imediata; ou seja, dinheiro certo para pagar as contas de cada dia, o que elimina a opção por investimentos voláteis, sujeitos a oscilações que impedem a certeza do dinheiro na conta. De outro lado, busca-se o crescimento do patrimônio, de modo que ele possa continuar a gerar a liquidez conveniente no futuro, o que só é possível com investimentos voláteis premiados por rentabilidades superiores, embora sem garantia.

O principal desafio da gestão de investimentos patrimoniais é ponderar adequadamente esses ingredientes, liquidez e volatilidade. Qualquer desequilíbrio representa desperdício. Um nível de volatilidade que comprometa a necessidade de liquidez da família instala o dilema entre inviabilizar o presente ou o futuro, e, como o presente é mais urgente, costuma promover perdas irreversíveis com a venda de ativos em baixa. Já uma liquidez excessiva desperdiça o potencial de geração de renda e encolhe a duração do patrimônio ao restringir desnecessariamente investimentos voláteis com maior probabilidade de retorno. Encontrar o ponto ótimo entre liquidez imediata e crescimento patrimonial é a regra do jogo e diz respeito à eficiência da alocação dos seus recursos - nada a ver com percentuais mágicos indicados por perfis “conservadores”, “moderados” e “arrojados”.

A solução que recomendo é balizar a alocação da sua carteira pelo custo anual da família multiplicado pelo número de anos conveniente à proporção entre gastos e patrimônio; jamais inferior a três anos de despesas, considerando imprevistos. Para dar um exemplo simplificado, minha sugestão para uma família com custo mensal de R$ 20 mil e disponibilidade de R$ 5 milhões para investimentos financeiros seria uma reserva de liquidez para cinco anos; ou seja R$ 1,2 milhão, aplicados em renda fixa atrelada à Selic em uma instituição sólida e de grande porte. Os R$ 3,8 milhões restantes seriam diversificados em mercados voláteis, investidos em fundos multimercado (até o limite de 30% dos recursos) e ações. Com isso, contemplam-se os três pilares da gestão de recursos patrimoniais: liquidez, diversificação e eficiência e garante-se liquidez para todos os momentos.

Acompanhe tudo sobre:Dívidas pessoaisInvestimentos-pessoais

Mais de Invest

Dólar fecha em queda de 0,84% a R$ 6,0721 com atuação do BC e pacote fiscal

Alavancagem financeira: 3 pontos que o investidor precisa saber

Boletim Focus: o que é e como ler o relatório com as previsões do mercado

Entenda como funcionam os leilões do Banco Central no mercado de câmbio