Magazine Luiza (MGLU3) e Casas Bahia (BHIA3) acumulam altas em novembro superiores a 50% e 20%, respectivamente (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter de Invest
Publicado em 30 de novembro de 2023 às 19h29.
Última atualização em 1 de dezembro de 2023 às 12h48.
O inverno parece estar chegando ao fim para as varejistas. Pelo menos é isso o que se supõe ao observar o desempenho das ações de empresas como Magazine Luiza (MGLU3) e Casas Bahia (BHIA3), que acumulam altas superiores a 50,37% e 20%, respectivamente, no acumulado de novembro. E não foram apenas elas que foram destaque no mês, considerando mais seis empresas, o setor ganhou R$ 11 bilhões em valor de mercado. Pesa de maneira positiva a expectativa por um cenário mais favorável nos próximos meses.
Isso porque, ao longo dos últimos três anos, as empresas do setor sofreram com o ambiente macroeconômico. De 2020 para cá, a Selic saiu da casa do um dígito e chegou à máxima de 13,75% ao ano. A alta dos juros gerou uma maior pressão sobre as margens das companhias, além disso, a inflação restringiu a disponibilidade de renda e consumo da população.
No entanto, o cenário parece caminhar para um lado mais positivo. O Banco Central já iniciou o ciclo de cortes na Selic — cujas apostas do mercado é de uma taxa a 9,25% no final de 2024 — e, somado a isso, outros fatores podem contribuir para essa retomada. Entre elas está a taxação de compras em sites internacionais, como Shein, Shopee e AliExpress.
Inclusive, a possibilidade de as compras internacionais de até US$ 50 estarem sujeitas à tributação trouxe ânimo ao mercado. Na última quarta-feira, 29, o ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, sinalizou que o "próximo passo" do governo é o início da cobrança. Vale mencionar que a medida ainda não foi anunciada pelo governo e não existe previsão de quando o imposto de importação voltará a ser cobrado ou mesmo qual será a alíquota.
A pedido da EXAME Invest, Einar Riveiro destacou o desempenho das ações no mês e quanto essas empresas ganharam em valor de mercado. Veja abaixo:
*EXAME Invest considerou as varejistas eletro e vestuário para o levantamento
Na avaliação de especialistas consultados pela EXAME Invest, a isenção exerce uma pressão maior sobre o varejo de vestuário. “Considerando que uma parcela significativa dos eletrônicos ou outros produtos vendidos pelo varejo local superam esse valor [de US$ 50] ou não há demanda a ponto igual ao vestuário. Desta forma, a possibilidade da tributação integral é positiva, principalmente, para o varejo de vestuário voltado para o público geral, como as Lojas Renner, Guararapes [dona da Riachuelo] e C&A”, afirma Luís Novaes, analista da Terra Investimentos.
Porém, um possível fim da isenção não necessariamente deve ser encarado como a bala de prata para salvar o varejo brasileiro. Phil Soares, chefe de análise de ações da Órama, pontua que a institucionalização desse mecanismo pode “formalizar” o canal de aquisição de clientes por parte das varejistas internacionais — sobretudo chinesas.
“[O possível fim da isenção] é bom, no sentido que torna o produto internacional menos competitivo, mas que ainda assim a competição continua acirrada. Só que o endereçamento dessa questão é ruim, porque as importações deixam de ser uma atividade paralela para ser algo ‘mainstream’ e adquire status de concorrente efetiva”, explica.
O mercado aposta em um cenário mais favorável às companhias do setor. E o principal condutor desse otimismo é o ciclo de corte de juros. “A queda dos juros vai beneficiar tanto na ponta dos consumidores, tirando um pouco da restrição de crédito, como também na parte das empresas, que terão os custos das dívidas muito mais baratos. E também nos bancos das varejistas, pois algumas delas têm as suas próprias financeiras”, aponta Gabriel Costa, analista da Toro Investimentos.
Ainda assim, os nomes mais populares do setor, que são Magazine Luiza e Casas Bahia, não estão exatamente entre as principais escolhas de investimento no varejo por parte do mercado — nem mesmo com o cenário de retomada. Costa cita como suas preferidas a Vivara (VIVA3) e o Assaí (ASAI3).
“A nossa preferida é a Vivara, que é uma empresa que tem entregado um crescimento robusto, avanços de margem e tem uma estrutura de capital saudável. Já o Assaí está com uma expectativa de desalavancagem para os próximos anos bastante interessante. A companhia sofreu neste ano com a desinflação do canal alimentar, mas para 2024 é esperado que a abertura de lojas realizada nos últimos anos tenha um efeito bem positivo”, explica.
Ainda assim, as rivais MGLU3 e BHIA3 estão entre os papéis com maiores potenciais de alta, aponta Phil Soares. Para o chefe de análise de ações da Órama, esse potencial deve-se ao fato de as varejistas, sobretudo com maior apelo ao consumidor de baixa e média renda, terem sido as que mais caíram nos últimos anos.
Além de MGLU3 e BHIA3, ele destaca os papéis LRNE3 e GUAR3. “Não que a gente recomende a entrada nesses papéis, pois observamos uma volatilidade grande no caminho. Além disso, algumas não têm um posicionamento estratégico muito bom. Mas, ainda assim, essas empresas têm um potencial de alta para o próximo ano.”
Por outro lado, a Terra Investimentos mantém a tese na Magazine Luiza. “Por acreditar que é a empresa que se sairá melhor desses anos desafiadores, tendo em vista a pandemia e o ambiente macroeconômico, ela pode aproveitar melhor o ciclo de baixa dos juros. Além dela, temos a Petz (PETZ3), que é uma tese de investimento voltada para o crescimento e deve se beneficiar do ciclo de baixa dos juros, além da precificação atual da empresa em bolsa”, diz Novaes.
No entanto, o otimismo do especialista não chega aos papéis da Casas Bahia. Segundo o analista, há outras alternativas no setor do varejo, sobretudo porque a companhia passa por um momento de reestruturação. “E os resultados não devem aparecer pelo menos até a segunda metade do próximo ano.”