Mesmo com a saída de capital, o número de contistas de fundos de investimento subiu 12,3% no semestre (Getty/Getty Images)
Repórter de Invest
Publicado em 6 de julho de 2023 às 15h09.
Última atualização em 7 de julho de 2023 às 17h13.
Em recorde amargo para a indústria brasileira de fundos de investimento, o primeiro semestre de 2023 foi o de maior saída de recursos dos fundos desde o início da série histórica, em 2002. Foram R$ 205 bilhões em resgates nos primeiros seis meses deste ano, ante um saldo positivo de captação de R$ 45,6 bilhões no mesmo período do ano passado.
Os dados da Anbima, a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais, mostram a continuidade de um movimento iniciado ainda em 2022, com a elevação da taxa básica de juro.
O segmento de renda fixa foi o grande prejudicado neste semestre, e registrou R$ 109,9 bilhões em resgates. E quem mais está sacando o dinheiro é o investidor de varejo. Foram R$ 40,3 bilhões resgatados pelo segmento entre janeiro e junho.
“Apesar de relevantes, os números [de resgates] ainda são bastante diminutos em relação ao patrimônio da indústria”, disse Pedro Rudge, vice-presidente da Anbima e sócio-fundador da Leblon Equities, em coletiva. Os fundos de investimento possuem hoje R$ 7,75 trilhões em patrimônio. Para efeito de comparação, o patrimônio era de R$ 1,5 trilhão em 2002.
O fluxo contínuo de resgates também não fez a indústria encolher. Mesmo com a saída de capital, o número de contas subiu 12,3% no semestre. “Apesar da queda recente na captação, existe certa reciclagem de novos cotistas abrindo contas. Isso mostra certo rebalanceamento: mais uma realocação entre produtos do que uma queda no número de investidores”, afirmou Rudge.
A Anbima estimou para onde os recursos estavam migrando, e a resposta foi encontrada entre produtos de renda fixa, especialmente títulos bancários e isentos. “[Em contexto de juros altos], os títulos isentos têm se tornado cada vez mais atrativos e relevantes, com um crescimento na ordem de 20% nos investimentos”, avaliou Rudge.
Nas estimativas da Anbima, os investimentos em Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) e Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) aumentaram 23,2% e 22,9%, respectivamente, nos últimos seis meses. Já o investimento em títulos públicos cresceu 15,3%, enquanto os aportes em Certificados de Depósito Bancário (CDBs) tiveram alta de 10,3%.
O vice-presidente da Anbima reforçou que é cedo para prever quando a maré deve voltar a ser positiva para os fundos de investimento, mas a mudança está atrelada à trajetória da Selic. A expectativa do mercado é que o ciclo de cortes na taxa possa começar na próxima reunião do Copom, em agosto.
“À medida que os investidores comecem a ter um pouco mais dessa percepção, vamos ver a retomada da confiança e ter uma tomada de risco maior do que o observado atualmente”, afirmou.
Parte do movimento de apetite a risco já vinha se manifestando na bolsa de valores, com o Ibovespa subindo 9% apenas no mês de junho. A expectativa é que a captação dos fundos siga o caminho de otimismo que vem aparecendo – ainda que de forma tímida – no desempenho da renda variável.
Os fundos de ações, por sinal, foram o grande destaque da indústria no semestre em termos de retorno. A maior rentabilidade acumulada no período veio do segmento de ações no exterior, que teve retorno de 11,8%. Na sequência, vem os fundos dedicados a ações livres, que tiveram retorno de 11,6%. Para efeito de comparação, o Ibovespa subiu 7,6% nos seis primeiros meses do ano.
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