O custo de vida no Brasil está atrelado ao comportamento do dólar, em função dos produtos que o país importa e exporta. (Ricardo Moraes/Reuters)
EXAME Solutions
Publicado em 27 de setembro de 2024 às 14h30.
Apesar de nem todo mundo perceber, o dólar tem uma grande influência no dia a dia dos brasileiros, afetando diversos aspectos da economia e, consequentemente, a vida de cada um.
Danilo Igliori, economista-chefe da fintech Nomad, explica como essa moeda impacta de forma direta ou indireta a rotina das pessoas, mesmo que elas não lidem com o dólar diariamente.
Um dos setores mais sensíveis às variações do dólar é o de viagens. Quando pensamos em turismo, o dólar não afeta apenas o custo de se viajar para os Estados Unidos, mas também toda a indústria de turismo global. O combustível utilizado nas aeronaves, por exemplo, é precificado em dólar, o que faz com que flutuações cambiais impactem diretamente o preço das passagens e pacotes de viagens internacionais, mesmo para destinos fora dos Estados Unidos.
O custo de vida no Brasil também está atrelado ao comportamento do dólar. O Brasil possui uma economia aberta ao comércio internacional, importando uma ampla gama de produtos. Itens como trigo, eletrônicos e até medicamentos são comprados de outros países em dólar, o que significa que, quando a moeda americana se valoriza, esses produtos ficam mais caros no mercado interno. Da mesma forma, produtos que o Brasil exporta, como a soja, tendem a seguir o mesmo caminho, já que um dólar forte incentiva as exportações e, em contrapartida, eleva os preços desses itens no mercado nacional.
Outro ponto importante é a relação entre o dólar e as taxas de juros. Quando o dólar se valoriza, o impacto inflacionário leva o Banco Central a aumentar a taxa Selic, que é a taxa básica de juros, com o objetivo de controlar os preços. Isso afeta diretamente todas as taxas de juros da economia, como as cobradas em financiamentos e parcelamentos, tornando o crédito mais caro e elevando o custo de bens de alto valor, como imóveis e veículos.
No campo dos investimentos, a influência do dólar também é significativa. A renda fixa, por exemplo, tem sua remuneração atrelada à Selic, que, por sua vez, é impactada pela variação do dólar. Ativos como ações e fundos imobiliários também são afetados. Empresas exportadoras tendem a se beneficiar da valorização do dólar, enquanto companhias endividadas ou em fase de expansão sofrem com o aumento dos juros. Já os fundos imobiliários, que atraem mais investidores em momentos de queda da taxa de juros, tornam-se menos atrativos quando os juros sobem.
Considerando todos esses fatores, as oscilações do dólar afetam diretamente a vida de todos os brasileiros, seja nos custos diários ou nas decisões de investimento.
Para se proteger da inflação e da volatilidade cambial, investir em ativos dolarizados é uma estratégia eficiente, especialmente no longo prazo, explica Igliori. “Como a volatilidade é alta e os fatores de risco são constantes e imprevisíveis, a melhor maneira de garantir essa proteção é através de remessas e investimentos contínuos, formando um preço médio e se beneficiando dos juros compostos no longo prazo.”