Gavekal: Eles poderão considerar Trump como uma ameaça à independência do Fed, que estão preocupados em se proteger (SAUL LOEB/AFP/Getty Images)
Repórter
Publicado em 31 de janeiro de 2024 às 16h28.
Última atualização em 2 de fevereiro de 2024 às 09h47.
Os investidores estão buscando entender os próximos passos do Federal Reserve (Fed), o principal banco central do mundo. No controle da torneira de dólares, Jerome Powell, presidente do Fed, tem nas mãos a possibilidade de cortar as taxas de juros para reduzir os riscos de uma recessão ou aguardar pela piora dos dados econômicos antes de agir. A decisão, em teoria, deveria ser tomada por motivos técnicos, até pela independência da instituição. Mas, para Gavekal Research, uma das maiores casas de análises do mundo, Powell e os integrantes do Fed poderão colocar a política à frente dos interesses econômicos neste ano.
Will Denyer, economista-chefe da Gavekal Research, avalia que há alguns cenários em que o Fed poderá se enveredar neste ano: se basear em dados e os dados apoiarem ou não os cortes de juros ou a política determinar os passos do Fed, que, neste caso, cortaria os juros independentemente dos dados.
Para Denyer, há duas razões principais para o Fed colocar a política à frente dos dados e agir contra uma eventual eleição do ex-presidente Donald Trump. Cortes de juros mais agressivos, em tese, tende a aumentar a confiança do mercado, de empresas e consumidores, o que poderia proporcionar um ambiente mais favorável a reeeleição do atual presidente Joe Biden.
"Eles poderão considerar Trump como uma ameaça à independência do Fed, que estão preocupados em se proteger. Em 2018 e no início de 2019, Trump criticou publicamente Powell por aumentar as taxas e contrair o balanço da Fed, levando à especulação de que o presidente poderia tentar destituir Powell da presidência", escreveu em relatório.
Assim como no Brasil, a presidência do banco central americano é determinada por mandatos de quatro anos. Mas, diferentemente daqui o período de troca ocorre no primeiro ano do mandato presidencial. Powell foi escolhido por Trump para chefiar o Federal Reserve em 2017, sendo reconduzido por Biden, em 2021.
"Esse tipo de conversa poderá ressurgir em um eventual segundo mandato de Trump. Embora não seja claro se o presidente teria autoridade legal para despedir Powell sem justa causa, mesmo a especulação seria prejudicial para o Fed como instituição. Assim, é concebível que Powell e os seus colegas possam preferir manter Trump fora da Casa Branca para salvaguardar a independência da Fed", diz Denyer.
O segundo motivo para acreditar que o Fed poderá ter decisões política, segundo o economista, seria o "fato" de os membros do Fed serem "totalmente partidários e quererem apoiar uma vitória democrata, independentemente de considerações sobre a independência da Fed". "Mas será que este é realmente o caso? Se o Fed reduzir as taxas apesar do repique da inflação – especialmente se os cortes forem vistos como motivados politicamente – a medida poderá facilmente sair pela culatra."
Como uma eventual retomada da inflação poderia atrapalhar a popularidade de Biden, segundo o economista, a melhor forma de Fed apoiar Joe Biden seria manter as condições para um "poouso suave", com inflação baixa e um crescimento "decente".
"Mas, de qualquer forma, uma inflação baixa com um crescimento decente sempre foi o objetivo do Fed. Assim, mesmo que os membros do Fed sejam partidários a favor de Biden, não está claro que este partidarismo mudaria a sua tomada de decisões. E mesmo que Powell pensasse que errar pelo lado pacifista ajudaria Biden, ele pode não querer arriscar seu próprio legado. "