Argentina: inflação acumulada em 12 meses é a maior em 30 anos (Pablo Porciuncula/AFP)
Repórter de finanças
Publicado em 16 de fevereiro de 2024 às 07h00.
Última atualização em 16 de fevereiro de 2024 às 12h43.
A inflação, sem dúvidas, é o maior problema que afeta os argentinos. E não é para menos: nesta quarta-feira, 14, o Instituto Nacional de Estatísticas e Censo (Idec) do país divulgou que a inflação acumulada dos últimos 12 meses chegou ao maior patamar em 30 anos, ficando em 254,2%. No entanto, apesar do registro histórico, ela desacelerou frente ao mês anterior, caindo de 25,5% (dezembro) para 20,6% (janeiro).
A desaceleração foi vista como positiva pelos agentes econômicos, segundo Vinícius Aleixo, sócio-diretor da Tordesilhas Capital, somado ao fato de que ela também veio menor do que os 21,9% precificados pelo mercado. Para os próximos meses, Aleixo pontua a perspectiva de que a taxa continue desacelerando, sendo próxima a 16% em fevereiro.
Mas, quando se trata de investimentos, os números ainda não são suficientes e para o especialista, “investir hoje na Argentina é ter uma boa dose de fé de que os ajustes pretendidos por Milei serão implementados” e a inflação poderá ser controlada. O país vive um novo governo desde 10 de dezembro, quando o ultralibertário Javier Milei assumiu a presidência.
Milei tenta a aprovação no Congresso de um projeto que visa estabelecer diversas reformas no sistema tributário, na lei eleitoral e na gestão da dívida pública do país. Na visão de Aleixo, caso ele não tenha a habilidade e o apoio político para implementá-las, a Argentina pode se ver novamente em uma profunda crise econômica e culminar em sua saída. Mas, caso elas passem, investidores podem voltar a olhar para o país com mais otimismo.
“A abordagem mais adequada no momento é seguir acompanhando a situação de perto e com cautela. Caso os ajustes pretendidos por Milei sejam aprovados, o país pode entrar em um ciclo virtuoso de crescimentos e investimentos, e a oportunidade de ganhos será tão grande que não fará mal ter perdido uma primeira pernada”, afirma Aleixo.
Na outra ponta, Paulo Feldmann, professor da FIA Business School, tem uma visão contrária. “Eu não recomendo de maneira nenhuma que alguém invista na Argentina.” Segundo o especialista, o futuro do país é completamente incerto, então o risco de se perder dinheiro é muito grande. A hora que a economia estiver mais organizada, os ventos para investidores poderão mudar, de acordo com Fieldmann.
“A Argentina tem um potencial muito grande. No futuro, ela poderá voltar a ser um grande país. Mas, por enquanto, a economia está muito desorganizada e não se visualiza a possibilidade de consertar, não é o Milei que vai resolver os problemas. Então não é o momento de investir na Argentina”, afirma.
Ricardo Jorge, especialista em mercado de capitais e sócio da Quantzed, também concorda com a visão do professor. Para ele, investir na Argentina é um risco altíssimo para o portfólio que ele não recomenda assumir. “Pode ser que existam boas opções de investimento. O problema é que como é uma economia muito instável, isso pode trazer um problema para aquele investidor que tem um perfil mais conservador.” Caso haja mais aptidão a risco, ele orienta que o investidor estude o caso do país e faça investimentos de maneira conservadora, mais cautelosa em termos de volume financeiro.
Entre os principais desafios de Milei está o controle da inflação e, para atingir o objetivo, sua estratégia foi acelerar a inflação para depois desacelerar. Neste sentido, desde sua posse, uma série de medidas foram estipuladas, dentre elas a desvalorização do peso e o descongelamento de preços de itens básicos. O “pacotaço”, como foi chamado às mudanças, também inclui:
Por conta dessas medidas imediatas, a inflação em dezembro disparou, assim como era o planejado pelo presidente e, consequentemente, desacelerou em dezembro. “O crescimento de dezembro e de todo ano passado foi enorme e era esperado que em janeiro houvesse um crescimento menor. A própria equipe do Milei havia dito que em dezembro haveria uma explosão, como realmente houve”, explica Fieldmann.
Para o professor, o pacote de Milei não é positivo. Isso porque algumas medidas podem causar efeito contrário, como o corte de subsídios de energia e transportes, em que a consequência pode ser o aumento dos preços já que os donos das empresas de ônibus não irão querer diminuir seu lucro e irão acabar aumentando o preço da tarifa de transporte. “Outro exemplo é o fim do repasse às províncias, que faz com que estas tenham que buscar outras fontes de endividamento que, em geral, são mais caras e corroem as finanças das províncias.”