Vale e minério de ferro: as diferenças na cotação da mineradora e da commodity podem estar próxima de acabar (Washington Alves/Reuters)
Repórter de Invest
Publicado em 16 de setembro de 2023 às 08h27.
Ao longo deste ano, a cotação do minério de ferro fez os olhos de muitos investidores brilharem com a alta da commodity. No entanto, quem tem papéis da Vale (VALE3) na carteira não abocanhou a mesma valorização pelo qual o ingrediente siderúrgico obteve nos últimos meses.
De janeiro para cá, o minério de ferro acumula uma alta de 5,31% na bolsa de Singapura. No acumulado do primeiro mês do ano, a tonelada da commodity atingiu uma cotação média de US$ 127,85, chegando em setembro com um valor médio de US$ 123,37.
Na direção oposta, a Vale perdeu cerca de 20% no Ibovespa no mesmo período, iniciando o ano com uma média por ação de R$ 89,72 no acumulado de janeiro, e indo para R$ 69,54 neste mês de setembro.
Confira a evolução da média mensal das cotações no gráfico abaixo:
“Vemos a alta da commodities sendo impulsionada por incentivos fiscais vindo do governo chinês, em busca de uma melhoria imediata. No entanto, os papéis da Vale não seguem o mesmo ritmo porque também envolvem outros fatores”, explica Alex Carvalho, analista CNPI da CM Capital.
Segundo ele, o investidor ainda tem a desconfiança dos resultados mais baixos do projetado do trimestre anterior. “Além disso, a inflação global que permanece em níveis elevados e juros altos tanto na Europa quanto nos Estados Unidos deixam o tom de cautela para a companhia”, complementa.
Enquanto isso, Jerson Zanlonrezi, head da mesa de ações e derivativos do BTG Pactual (mesmo grupo controlador da EXAME), lembra que a “boca de jacaré” visualmente observada ao comparar as cotações do minério e da Vale já aconteceram, mas não costumam ter uma longa duração.
“Atualmente, o minério e Vale têm uma 'boca de jacaré' gigante. Se você pegar um histórico de 30 anos da mineradora, vai perceber que a diferença nunca fica nesse patamar por tanto tempo. Por isso, ela está muito descontada e com patamar de preço atrativo”, frisa.
A mesma linha de pensamento é seguida por Carvalho, que aponta para o viés altista da VALE3 tanto para curto a longo prazo. “O efeito do minério em alta ainda deve se sobrepor ao valor das ações, buscando a correção da queda anual”, afirma.
Na quinta-feira, 14, as ações da Vale fecharam com alta de 4,34%, após o JP Morgan recomendar a compra da Bradespar (BRAP4) - que liderou os ganhos do Ibovespa.
“Já atualizamos a Vale para overweight e com a revisão do preço-alvo de US$ 15 para US$ 16, considerando as premissas mais altas sobre o minério de ferro”, escreveram os analistas em relatório.
O documento destaca que o valuation da mineradora está muito barato: a 3,7 vezes o valor da empresa sobre Ebitda em relação ao pico de 5,9 vezes, que aconteceu em fevereiro de 2023. “O curto prazo é positivo, pois os volumes de vendas deverão aumentar e a qualidade deverá melhorar”, frisa o banco americano.