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Beny Parnes, da SPX, alerta para ‘caminhão’ no retrovisor do Banco Central

Para ele, o Banco Central deveria ser cauteloso ao reduzir a taxa básica de juros durante um momento de alta dos rendimentos do títulos do Tesouro dos EUA

Beny Parnes: "O grande caminhão que se aproxima pelo espelho retrovisor é o Treasury de 10 anos nos Estados Unidos" (Germano Lüders/Exame)

Beny Parnes: "O grande caminhão que se aproxima pelo espelho retrovisor é o Treasury de 10 anos nos Estados Unidos" (Germano Lüders/Exame)

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Agência de notícias

Publicado em 10 de outubro de 2023 às 16h06.

O Banco Central deveria ser cauteloso ao reduzir a taxa básica de juros durante um momento de alta dos rendimentos do títulos do Tesouro dos EUA e de maiores gastos do governo brasileiro, diz Beny Parnes, sócio da gestora SPX Capital e ex-diretor da autoridade monetária.

Parnes, que atuou como diretor de Assuntos Internacionais do BC de 2002 a 2003, vê o diferencial de juros mais estreito entre os EUA e os países em desenvolvimento como uma ameaça que se aproxima rapidamente do atual ciclo de cortes do país.

“O grande caminhão que se aproxima pelo espelho retrovisor é o Treasury de 10 anos nos Estados Unidos”, disse Parnes, do escritório da SPX em Nova York, em entrevista.

O BC – um dos primeiros a começar a aumentar drasticamente as taxas na tentativa de conter a inflação pós-pandemia – iniciou em agosto um ciclo de flexibilização que resultou em dois cortes de meio ponto percentual, baixando a Selic para 12,75%. Mas, tal como em outros países latino-americanos, isso ajudou a fazer com que a moeda local perdesse valor face ao dólar americano, especialmente porque o Federal Reserve continua com uma mensagem mais dura.

O aumento dos rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA de 10 anos, que recentemente atingiram máximas de 16 anos e foram negociados perto de 4,66% na terça-feira, exacerbaram os efeitos. O real caiu 3,5% nos últimos três meses, enquanto os juros futuros subiram ao longo da curva.

Uma forte economia dos EUA, que pode levar o Fed a manter as taxas mais altas por mais tempo, também causou estragos em mercados emergentes como o Brasil, fornecendo “outra razão” para a autoridade monetária não acelerar o ritmo dos cortes, disse Parnes.

Essa dinâmica também suscitou preocupações entre a equipe econômica sobre se a autoridade monetária precisará desacelerar o ritmo dos corte de juros. Parnes, chefe de pesquisa de longo prazo da SPX, admitiu que ainda há “espaço para cortes”, embora tenha preferido não comentar sobre o nível de Selic terminal.

“Nunca se sabe o que o caminhão vai fazer”, disse ele, aconselhando cautela mesmo antes de a eclosão do conflito em Israel ter acrescentado ainda mais volatilidade aos mercados globais.

A SPX é uma das maiores gestoras independentes do Brasil, com cerca de R$ 64 bilhões sob gestão. Seu fundo Raptor subiu 45% após taxas nos últimos 36 meses, superando 93% dos rivais monitorados pela Bloomberg. O fundo caiu 13% no acumulado do ano até 5 de outubro, penalizado por apostas no Brasil durante o primeiro semestre do ano.

Preocupações com gastos

Parnes também expressou preocupações sobre os riscos fiscais a longo prazo do país, diante das dúvidas sobre o cumprimento da meta de zerar o déficit no próximo ano, prevista no arcabouço.

“Qualquer diretor financeiro corporativo que gasta primeiro e tenta financiar depois está assumindo muito risco em seu balanço”, disse Parnes. “E é isso que esse governo está fazendo.”

Para Parnes, o Brasil tem assistido ao que ele chama de “recuperação cíclica” da economia, com a ocupação de capacidade ociosa após a reabertura pós-Covid. Ele espera que o PIB brasileiro desacelere de um crescimento de 3% em 2023 para cerca de 1% em 2024. Entretanto, as despesas obrigatórias, como os aumentos do salário mínimo, reduzirão o espaço para despesas discricionárias no Orçamento.

“O arcabouço fiscal inicialmente deu dois anos para o Brasil”, disse Parnes. “É um band-aid. Mas vai ser testado.”

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