Verde, de Luis Stuhlberger: "O Brasil sofreu especialmente no mercado de juros, que vinha com uma expectativa otimista de ciclo de cortes, e onde o posicionamento dos investidores era mais substancial" (José Patricio/Agência Estado)
Editora de Finanças
Publicado em 9 de outubro de 2023 às 11h05.
Última atualização em 9 de outubro de 2023 às 15h12.
A Verde, de Luis Stuhlberger, divulgou nesta segunda-feira, 9, por meio de carta que está com uma exposição menor em ações e reduziu a carteira no Brasil e aumentou os hedges no mercado global. A gestora explicou que a estratégia adotada foi aproveitar a alta das taxas de juros para transformar parte da posição comprada em inflação implícita no Brasil em uma posição aplicada em juros reais. No mercado global, ela segue comprada no Japão e aplicada nos Estados Unidos.
Em relação às moedas, a Verde reduziu a alocação vendida no dólar contra o real e manteve posição comprada na rúpia indiana contra o renminbi chinês e no peso mexicano contra o euro. “A posição em ouro foi zerada, e mantivemos a pequena alocação em petróleo. As posições em crédito high yield local e global foram mantidas.”
No mês passado, a gestora explicou que teve ganhos na posição de inflação implícita no Brasil, nos hedges de bolsa global, no petróleo e nas posições de moedas. Em contrapartida, as perdas vieram do ouro, do livro de bolsa local e de posições em juros em mercados desenvolvidos.
A Verde afirma que o preço mais importante do mercado global é a taxa de juro do dólar. Isso, porque é a partir dela que praticamente todos os outros são derivados, como taxas de desconto, custo de capital ou qualquer outra forma de se descontar fluxo de caixa. Esta lógica, segundo a gestora, explica em grande medida o mês de setembro nos mercados.
Sobre as taxas de longo prazo do mercado americano, a Verde destacou o movimento significativo registrado no mês passado. “A taxa de juros de dez anos nos EUA subiu 46bps ao longo de setembro, estendendo um movimento que começou em maio e já soma +115bps em cinco meses. Mais ainda, nos primeiros dias de outubro esta taxa subiu outros +20bps. E justamente aí temos o grande problema com que todos os ativos (e gestores por consequência) estão se deparando: a taxa de desconto base de tudo subiu, e rápido, impactando todas as classes de ativo e forçando reavaliações de cenário e portfólio. “
O movimento é explicado por uma série de razões, como a resiliência da economia americana, que desde o início do ciclo de alta de juros nos EUA que o mercado em geral discute uma recessão, e que ainda não aconteceu. Além disso, após a quebra do Silicon Valley Bank, muitos esperavam uma contração forte da oferta de crédito, que também não ocorreu. A Verde aponta que os dados econômicos nos últimos dois meses têm mostrado uma economia bastante pujante, embora haja bons argumentos para uma desaceleração nos próximos meses.
Outra razão apontada é a incerteza fiscal com o aumento substancial dos déficits fiscais americanos após a pandemia faz com que a quantidade de títulos que tem que ser emitidos aumentasse. A quantidade em circulação de Treasuries saiu de US$ 5 trilhões em 2007 para US$ 25 trilhões hoje, e projeções conservadoras apontam para esse número dobrar nos próximos dez anos. "Em paralelo ao aumento da oferta de títulos, vários compradores tradicionais reduziram sua demanda."
Disse ainda que o sistema financeiro tem sua capacidade de alavancagem limitada pela imposição de maiores restrições de capital. Os bancos centrais globais não acumulam reservas se o dólar se valoriza globalmente, pelo contrário. E com as curvas de juros invertidas, outros investidores acabam sendo incentivados a comprar títulos de curto prazo, que em termos mais técnicos, comprar papéis longos é um trade de carry negativo.
"Olhando para a frente, nos parece que os níveis de preço atuais (próximos ou acima de 5% em toda extensão da curva nominal americana, ou acima de 2,50% de juros reais até onde a vista alcança) já embutem boa parte de um cenário ao mesmo tempo otimista com crescimento e pessimista com os outros pontos. E vemos várias pequenas rachaduras neste quadro, especialmente fragilidades acumuladas ao longo de uma década de juros baixíssimos, que podem reequilibrar o cenário."
Dessa maneira, a Verde mantém posição aplicada em juros reais nos EUA e voltou a ter posições aplicadas em juros reais no Brasil. "Os períodos de alta violenta de taxas de juros americanas costumam ser bastante perniciosos para mercados emergentes, e setembro seguiu este padrão. O Brasil sofreu especialmente no mercado de juros, que vinha com uma expectativa otimista de ciclo de cortes, e onde o posicionamento dos investidores era mais substancial."