Notas de dólar: compra pode ser fracionada, mas já deve ser iniciada, dizem especialistas (Arif Ali/AFP)
Da Redação
Publicado em 16 de agosto de 2013 às 15h38.
São Paulo – Se você precisa comprar dólares para viajar ou tem algum compromisso financeiro na moeda americana, agora é a hora de pelo menos começar a comprá-la. Nesta quinta-feira, o dólar chegou a 2,35 reais, e fechou em 2,34 reais, o maior patamar de fechamento desde março de 2009. E daqui para frente o momento será turbulento e com poucas possibilidades de queda, dizem especialistas.
Os recentes dados positivos da economia americana aumentaram as expectativas de que o Fed (banco central dos EUA) reduza seus estímulos à economia. Desde a crise, um programa governamental de recompra de títulos inundou os mercados de dólares, mas agora a fonte corre o risco de secar, o que eleva a cotação da moeda. Se os EUA subirem os juros, o dólar pode subir ainda mais, pois os investidores internacionais correrão para os títulos públicos americanos, deixando os investimentos em outros países.
Para Júlio Hegedus, economista-chefe da consultoria Lopes Filho, o dólar não deve retornar a patamares mais baixos. Ele acredita que o ano pode fechar com o dólar a 2,40 reais, embora frise que ainda esteja revisando esta projeção. Hegedus explica que é muito difícil prever para onde vai o câmbio e onde ele pode se estabilizar, mas diz que a retirada gradual dos estímulos norte-americanos à economia fatalmente vai fazer o dólar se acomodar em um patamar mais alto.
“A economia americana deve estabilizar sua liquidez. Não surpreenderia se o dólar chegasse a 2,50 reais no longo prazo, nos próximos anos, mas acho que ainda não neste ano”, diz Hegedus. No mercado de dólar futuro, o contrato com vencimento em janeiro de 2014 prevê o dólar a 2,40 reais. Já o contrato com vencimento em maio de 2014 tem previsão de 2,48 reais. O dólar turismo, normalmente mais caro que o dólar comercial, já bate os 2,40 reais.
No entanto, existe também a possibilidade de o Brasil elevar ainda mais a taxa básica de juros, o que ajudaria a controlar a inflação e aumentar a taxa de juros real. Dessa forma, os investimentos atrelados a juros por aqui voltariam a se tornar atrativos internacionalmente, o que poderia reduzir a fuga de dólares e ajudar a controlar a cotação da moeda americana em relação ao real.
“Se o Brasil revertesse totalmente sua política econômica, reconquistaria a credibilidade externa e esses recursos voltariam”, observa Júlio Hegedus.
Em função desses fatores, os especialistas ouvidos por EXAME.com creem que comprar a moeda americana aos poucos até o momento da viagem ou dos pagamentos em dólar é o mais aconselhável, uma vez que leva à formação de um preço médio. “Faz sentido porque certamente você não vai fazer todas as compras no melhor preço, mas também não vai pegar apenas a pior cotação”, diz Fernando Bergallo, gerente de câmbio da corretora TOV.
Se a viagem for ocorrer em breve, o mais aconselhável é comprar tudo já, pois a tendência do dólar é de alta no curto prazo, acredita Sidnei Nehme, diretor da NGO Corretora. “Mais para o final do ano, acreditamos num patamar semelhante ao atual, entre 2,30 e 2,35 reais. Mas por agora deve haver uma alta maior, pois há muitas dúvidas acerca do término do programa de estímulos americano e da saída de dólar do Brasil”, explica.
No entanto, todos frisam a dificuldade em se prever os rumos do câmbio. Esta é uma das variáveis mais difíceis de projetar, pois inúmeros fatores influenciam a sua variação. Assim, a estratégia de comprar já, para viagens no curto prazo, e de ir comprando aos poucos, para viagens do fim do ano para a frente, são as mais seguras para se proteger das oscilações próprias das moedas.
Evite o cartão de crédito e duplas conversões
Alexandre Fialho, diretor da corretora de câmbio Cotação, lembra que a compra de dólar em um momento como o atual deve ser feita em papel-moeda ou por meio de cartões pré-pagos, carregados em dólar. Esses métodos já fixam o câmbio do dia da compra da moeda, e fazem com que o viajante deixe o país já sabendo exatamente quanto vai gastar.
Para ele, o cartão de crédito deve ser evitado, pois a cotação utilizada é aquela da data da fatura – e pelas perspectivas atuais, é bem provável que o dólar esteja mais caro no futuro. “No cartão pré-pago você não fica à mercê da oscilação do dólar. No caso do cartão de crédito, você tem que esperar a fatura chegar para saber quanto custou sua viagem”, alerta Fialho.
Outro cuidado, ainda, é sempre comprar a moeda do país de destino quando ela estiver disponível. Se comprar dólar para depois converter para outra moeda, o viajante pode acabar pagando caro. “Se o viajante vai para o Japão, melhor comprar iene. Se comprar dólar para converter para iene quando chegar ao Japão é possível que, além de ter pago caro no dólar, o viajante ainda tenha que pagar uma taxa de arbitragem alta por lá”, diz o diretor da Cotação.
Quem pensa em fazer uma viagem em um prazo mais longo – por exemplo, para fazer uma pós-graduação fora –, também deve se preocupar em fracionar a compra de dólar. Para Fialho, a compra pode ser dividida em três ou quatro vezes até a data da viagem. O professor da FGV Samy Dana também recomenda a compra fracionada, e desaconselha os fundos cambiais.
“Os fundos cambiais tentam ganhar dinheiro com operações de câmbio. Mas isso não quer dizer que eles só operam dólar e que apenas comprem a moeda. Eles podem também operar outras moedas e operar vendidos”, explica Dana.