O fato é que, consumir, diante deste cenário, exige cautela – sobretudo se há endividamento (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 29 de dezembro de 2011 às 17h30.
Lidar com as finanças pessoais em 2011 foi uma tarefa desafiadora. No primeiro semestre do ano a taxa de juros aumentou e chegou 12%, o governo criou mecanismos para forçar a redução do crédito e as prestações com a compra de veículos, imóveis e outros bens passaram a corroer de forma importante o orçamento das famílias. O resultado disso não podia ser diferente: o brasileiro terminou o ano endividado.
Segundo a pesquisa de endividamento da Confederação Nacional do Comércio, o percentual médio de famílias endividadas em 2011 foi 62,2%, ante 59,1% no ano 2010. Contudo, a reversão desse quadro não é tarefa impossível. Para os que não conseguiram evitar o endividamento ao longo do ano, é hora de apertar os cintos. Já para os que estão com as finanças em dia, o momento é de cautela: 2012 não dá indícios de que será um ano fácil.
Cenário incerto - O último trimestre do ano é uma amostra confiável de como a economia brasileira se comportará no início de 2012. A geração de empregos em novembro no país foi a menor em 11 meses, segundo dados do Ministério do Trabalho. Já a produção industrial recuou 2,6% no acumulado do ano até outubro, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além disso, a renda do brasileiro tende a evoluir muito pouco além da inflação. Um estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) divulgado em dezembro mostra que o aumento real médio dos salários das categorias com data-base no 2º semestre tende a ficar em torno de apenas 1,36%.
A desaceleração da geração de emprego, o desaquecimento da indústria e a estabilização da renda média do trabalhador são sinais de que o brasileiro poderá ter um ano mais complicado. O primeiro número não significa que o país poderá enfrentar uma onda de demissões – e sim que os empregos criados poderão não ser tão fartos como foram em 2010 e no início de 2011. Com uma indústria desaquecida, as importações tendem a aumentar, enquanto as novas contratações podem ser escassas e as demissões, mais frequentes. Já a estabilização da renda mostra que os aumentos salariais – galopantes em alguns setores, como a construção civil – não deverão avançar muito acima da inflação.
No setor de serviços – o grande empregador do país -, os resultados da desaceleração também começam a aparecer. De acordo com os dados IBGE referentes ao terceiro trimestre do ano, o Produto Interno Bruto (PIB) do setor de serviços recuou 0,3%, puxado, sobretudo, pelo comércio, que recuou 1% no período. O exemplo mais recente dessa perda de fôlego está nas vendas do varejo neste Natal. Segundo dados da Serasa Experian, as vendas avançaram 2,8%, ante uma alta de 15,5% no período natalino de 2010. As razões atribuídas por analistas são o aumento da inadimplência e o endividamento da população.
Governo entra em ação – Para impedir que o país seja afetado por uma onda pessimista e manter o consumo aquecido, o governo federal entrou em ação ainda em 2011. Primeiro, o Banco Central iniciou uma trajetória de redução da taxa de juros, temendo que a economia brasileira fosse afetada pelos respingos da crise europeia. Por fim, em dezembro, o ministro da Fazenda Guido Mantega anunciou medidas de redução tributária. O Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) do fogão foi reduzido de 4% para zero, da geladeira, de 15% para 5%, da máquina de lavar, de 20% para 10% e do tanquinho, de 10% para zero. Em seguida, a própria presidente Dilma Rousseff chegou a afirmar, em seu programa de rádio matinal, que a população “deve continuar consumindo”.
Consumir com cautela, poupar sempre - O fato é que, consumir, diante deste cenário, exige cautela – sobretudo se há endividamento. “As dívidas são a parte mais cara da brincadeira”, afirma o professor de finanças da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da Universidade de São Paulo, Keyler Carvalho Rocha. O especialista recomenda que os consumidores moderem seus gastos com supérfluos no início do ano e priorizem o pagamento das dívidas contraídas do Natal, além das despesas típicas de início do ano, como o pagamento de IPTU, IPVA, matrículas e compra de material escolar.
Se o décimo terceiro tiver de ser usado para quitar dívidas, o professor ressalta que é preciso priorizar as contas com os juros mais elevados, como cartões de crédito e cheque especial. Se a remuneração não for suficiente para saldar todas elas, uma opção, em último caso, é substituir as dívidas que possuem juros altos por outra, a juros menores, como o crédito consignado. Para 2012, a recomendação é eliminar todos os gastos supérfluos e readequar o orçamento para conseguir quitar todas as dívidas ao longo do ano.
Consumidores que não se encaixam no quadro de endividamento podem respirar mais tranquilos, ainda que devam manter a atenção aos gastos. Separar uma parte do décimo terceiro para investimentos é o caminho ideal. Cadernetas de poupança, fundos de renda fixa e Certificado de Depósito Bancário (os famosos CDBs) continuam sendo as opções mais indicadas para investidores iniciantes. “Quanto mais se poupar e guardar, será melhor”, afirma Rocha. O professor ainda lembra que, diante das projeções incertas para 2012, é preciso ter cuidado redobrado, mesmo para os que não estão endividados. “É sempre importante poupar mensalmente para guardar durante o ano. E isso deve ser feito sempre, mesmo quando a economia vai bem. É preciso estar prevenido”, diz.