Motorista do app de corrida de motos: Prefeitura de São Paulo considera o funcionamento do app "clandestino" (Picap/Divulgação)
Marília Almeida
Publicado em 15 de julho de 2019 às 17h01.
Última atualização em 13 de setembro de 2019 às 15h28.
São Paulo - A startup colombiana Picap, que permite solicitar corridas de moto por aplicativo, acaba de chegar ao Brasil.
Para concorrer com empresas como Uber e 99, ela anuncia corridas até 30% mais baratas, além de uma vantagem clara: driblar o trânsito em grandes cidades, prometendo reduzir em até 50% o tempo de deslocamento, disse a empresa com exclusividade para a EXAME.
Em três semanas o app já está funcionando em fase de testes em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Recife.
O funcionamento do Picap é bem similar ao de apps de carros: para se cadastrar é necessário baixar o aplicativo disponível em aparelhos com sistemas Android e IOS, e inserir dados pessoais, que podem ser o login do Facebook ou e-mail.
O usuário pode colocar o endereço em que se encontra e, logo após, adicionar o endereço de destino. Para solicitar uma corrida é só clicar em “Solicitar serviço”. Para saber o valor aproximado do serviço, é necessário digitar o endereço inicial e o destino final.
Apesar de prometer um valor mais baixo do que concorrentes, como Uber e 99, usuários já reclamam que viram pouca diferença de preços.
Neste cenário, a possibilidade de pegar chuva, o maior risco de sofrer um acidente e a possibilidade de carregar apenas uma mochila não compensaria.
Alguns, porém, comparam o novo serviço com a possibilidade de compartilhar o carro com outros usuários, serviços nos quais o tempo de deslocamento pode ser ainda maior do que o de um trajeto individual.
EXAME fez uma simulação na hora do rush de um trajeto entre o bairro Freguesia do Ó, na zona norte da cidade de São Paulo, e o bairro do Tatuapé, na zona leste, e encontrou um valor de corrida de 23,51 reais, aproximadamente, pelo Picap, enquanto o Uber cobrava 57,68 reais pela mesma corrida. Ou seja, o app colombiano cobrava praticamente metade do valor.
Por enquanto o Picap só permite pagamento em dinheiro, mas a startup espera oferecer a opção de crédito e débito em breve.
Para quem está em busca de uma renda extra, inicialmente a startup não irá cobrar comissão de motoqueiros brasileiros. Na Colômbia, o app cobra uma taxa de 15% pela intermediação do serviço.
É uma forma de incentivar o uso do app por aqui, já que a demanda ainda é pequena, segundo relatos de usuários na página do aplicativo.
Motoqueiros brasileiros que já utilizam o serviço reclamam que ficam horas sem receber chamadas. Outros apontam que, quando são chamados, a distância para pegar o passageiro é muito longa.
A startup estima que, na Colômbia, motoqueiros recebem até 4 mil reais por mês realizando corridas pelo app.
Para se tornar um motorista cadastrado, basta baixar o aplicativo, fazer cadastro com Facebook ou e-mail, clicar no menu localizado no canto superior esquerdo da tela, clicar em "tornar-se um motorista", enviar documentos e esperar até 48h.
Para ter o cadastro validado na plataforma da Picap, o motociclista precisa apresentar a Carteira Nacional de Habilitação tipo A; documentos atualizados do veículo, incluindo o pagamento do seguro DPVAT; possuir uma motocicleta com até 10 anos de fabricação e motor de, no mínimo, 100 cilindradas; o uso obrigatório do capacete, tanto para o condutor quanto para o passageiro; além de respeitar as diretrizes municipais de condução de passageiros, caso existam.
O Picap também "dribla" uma lei em São Paulo, que proíbe mototáxis há um ano e foi sancionada pelo prefeito Bruno Covas (PSDB). Quem desrespeita a lei está sujeito a multa de 1 mil reais.
O app acredita que está dentro da lei. No entendimento da Picap, que cita decisões judiciais, um decreto municipal não pode contrariar a lei federal 12.587 e proibir o serviço, mas apenas definir as regras para a sua execução.
Não é esse o entendimento da Secretaria de Transporte e Mobilidade da Prefeitura de São Paulo.
Procurado, o órgão disse, em nota, que a utilização de motocicletas para prestação de serviços de transporte remunerado de passageiros é proibida de acordo com a Lei Municipal 16.901/18, independentemente se o serviço é prestado diretamente ou por meio de aplicativo.
"Trata-se, portanto, de serviço clandestino", informa o órgão municipal, questionado sobre o app.
A medida, segundo a prefeitura, visa garantir a segurança dos munícipes e prevenir a ocorrência de acidentes.
Na Colômbia, o serviço de transporte oferecido dentro do aplicativo também é questionado pelo governo. No entanto, a empresa ressalta que o maior problema é a falta de regulamentação.
Na Colômbia, México, Argentina e Peru, outras praças onde a Picap atua, 850 mil corridas foram realizadas pelo app apenas em maio. A startup atingiu a marca de mais de 6 milhões de corridas desde seu lançamento, em 2016. Atualmente 20 mil motoqueiros utilizam o serviço.
Iniciada com capital próprio, a startup recebeu investimentos de 2,5 milhões de dólares, o que permitiu expandir o serviço para outros países. A captação foi liderada pelo empresa de venture capital Signia.
A ideia do aplicativo nasceu a partir da frustração de dois colombianos que vivem em Bogotá: Héctor Neira e Daniel Rodriguez. Enquanto perdiam horas diariamente no trânsito, eles observaram que as motocicletas eram o meio de transporte mais eficiente para meios urbanos congestionados.
Héctor tem experiência em finanças e comércio exterior e trabalhou mais de dez anos em empresas de telecomunicações e tecnologia, enquanto Daniel é um engenheiro de software com mais de oito anos de experiência em empresas de telecomunicações e tecnologia. Ambos se conheceram em 2014 trabalhando como CFO e CTO para uma empresa de tecnologia focada em mobilidade e transporte na Colômbia .