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Turbulências suspenderam Tesouro Direto 29 vezes nos últimos 30 dias

Trava nas negociações e queda dos papéis assusta, mas investidor só leva prejuízo se resgatar dinheiro antes do prazo de vencimento do título

Perda de dinheiro: Turbulências mexeram com preços dos títulos públicos (SIphotography/Thinkstock)

Perda de dinheiro: Turbulências mexeram com preços dos títulos públicos (SIphotography/Thinkstock)

Júlia Lewgoy

Júlia Lewgoy

Publicado em 18 de junho de 2018 às 15h58.

Última atualização em 18 de junho de 2018 às 15h58.

Nos últimos 30 dias, o Tesouro Direto teve emoção digna de Bolsa de Valores. As turbulências, tanto no cenário externo como no interno, mexeram com os preços dos títulos a ponto de o Tesouro interromper as negociações da plataforma quase que diariamente. Nesse período, foram nada menos que 29 suspensões - preocupando investidores que precisavam resgatar recursos ou que simplesmente viam seus títulos se desvalorizarem.

As suspensões por volatilidade - o Tesouro pode interromper as negociações por outros motivos, como manutenção técnica - tiveram início no dia 17 de maio, depois de o Banco Central surpreender o mercado com a manutenção da taxa básica de juros (Selic) em 6,5% ao ano. Logo depois veio a greve dos caminhoneiros, somada às tensões no mercado externo - que levaram à disparada do dólar.

Esse "pacote" piorou a percepção de risco do País e derrubou o preço dos títulos públicos prefixados e dos indexados à inflação. Diante da oscilação, o Tesouro Direto congela: suspende temporariamente as negociações. 

Em maio e junho, essas "travas" foram recorrentes. Para efeito comparativo, em todo o ano de 2017, só houve interrupção de compra e venda de títulos por volatilidade em seis dias - sendo um deles no dia seguinte à divulgação da gravação de Joesley Batista, da JBS, dia em que o Tesouro nem abriu.

"As pessoas podem até ficar preocupadas, mas a suspensão é uma medida positiva para ajustar o preço e as taxas dos títulos. Ou seja: para que quem compre e venda o faça a um preço justo de mercado", explica Fábio Macedo, gerente comercial da corretora Easynvest.

Michael Viriato, coordenador do laboratório de finanças do Insper, destaca também uma questão técnica. "Os preços do Tesouro Direto são atualizados só três vezes ao dia - às 9h30, 12h e 15h30 - , e não instantaneamente, conforme a oferta e demanda", diz. "A suspensão é para evitar que ele compre caro demais, por exemplo."

A preocupação do investidor com as suspensões recai principalmente sobre a liquidez diária, ou seja, a capacidade de transformar o investimento em dinheiro no bolso rapidamente - que é um dos principais chamarizes do Tesouro Direto. 

"Independentemente de haver suspensão, após o fechamento do mercado, às 18 horas, o investidor sempre pode comprar ou resgatar", explica Sergio Gesteira, gerente da mesa de operações do Tesouro Nacional. "A diferença é que a liquidação será feita no D+1, ou seja, no preço do dia seguinte." 

Isso significa que a operação fica sujeita aos preços e taxas da abertura do mercado no dia seguinte. Macedo, da Easynvest, lembra que o investidor também pode agendar as aplicações - embora também fique sujeito ao preço de abertura.

Gesteira, do Tesouro, destaca que, além dos fatos pontuais do último mês, a oscilação mais expressiva é característica de ano eleitoral. "Uma das principais razões para volatilidade em qualquer mercado são incertezas. E este ano, de eleição, ninguém sabe quem vai ser o próximo governo", diz.

Marcação a mercado

Com a turbulência que faz o dólar disparar e a Bolsa cair chegando aos preços dos títulos públicos, o investidor muitas vezes se assusta. O Tesouro Prefixado 2025, por exemplo, teve desvalorização de 9,43% nos últimos 30 dias. Já o IPCA+ 2045 recuou 11,39% no período.

Esse tombo ocorre por causa da chamada marcação a mercado, que é a atualização, normalmente diária, do preço de um ativo de renda fixa ou da cota de um fundo de investimento. 

Esse mecanismo permite que o investidor saiba quanto receberia hoje se vendesse aquele título ou aquela cota - ou seja, com base na oferta e demanda por aquele papel, quanto o mercado está disposto a pagar por ele. Os títulos prefixados e os atrelados à inflação são os que sofrem marcação a mercado, sobretudo os de prazo mais longo. Já os títulos pós-fixados não, pois seguem a Selic diariamente.

No último mês, com a piora das expectativas, o preço dos papéis caiu - na contrapartida, para quem fosse comprar, pagavam uma taxa maior. Nesses casos, aconselham especialistas, o investidor deve evitar resgatar o papel, pois irá perder dinheiro.

"Vale lembrar, porém, que o título se desvalorizar não significa que o investidor vai ter prejuízo - só se ele vender o título", explica Macedo, da Easynvest. 

Se o preço cair e o investidor seguir até o final do vencimento, explica, não sofrerá com a oscilação e terá exata rentabilidade acertada no momento da compra. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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